Rebeca Andrade, 25, possui uma longa lista de conquistas. A ginasta é medalhista olímpica, vencedora de ouro e prata, bicampeã mundial, medalhas nos jogos Pan-Americanos e mais de dez medalhas em Copas do Mundo. Neste ano, ela alcançou mais mais um triunfo ao ser transformada em uma Barbie à sua semelhança. “Pode-se dizer que é um sonho inesperado”, diz ela, que vai para a sua terceira Olimpíada.
No 65º aniversário da boneca mais famosa do mundo, Rebeca foi escolhida para ser homenageada no projeto Mulheres Inspiradoras (Role Models, em inglês). A atleta conta que isso nunca havia passado por sua cabeça, apesar da admiração que sente pelo brinquedo. “Desde muita nova eu tinha o sonho de ter uma Barbie, e quando ganhei no Natal da minha tia, foi uma bailarina”, diz ela, que na época já era ginasta e sempre foi apaixonada por balé.
“Eu lembro que era a Barbie normal, com o cabelinho loiro, o rostinho, e ela tinha uma meia calça rosa”, afirma ela, que nasceu em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo. Se antes a boneca não condizia com seus traços, agora a versão que a representa é negra, possui tranças, baby hair e veste um macacão azul.
A iniciativa surge diante de uma tentativa nos últimos anos da Mattel de representar mulheres mais diversas e reais para se livrar dos estereótipos e padrões de beleza que as primeiras versões da boneca impunham. O tema foi abordado no filme “Barbie” (2023), de Gretta Gerwig, aclamado pela crítica e pelo público.
O modelo de Rebeca agora se junta ao de outras brasileiras que também foram transformadas em Barbie, como a influenciadora indígena Maira Gomez, a surfista Maya Gabeira, a médica Jaqueline Goes, a professora Doani Emanuela Bertan e a cantora Iza.
Outras esportistas ao redor do mundo também serão homenageadas. É o caso, por exemplo, da tenista Venus Williams, dos Estados Unidos, a futebolista Christine Sinclair, do Canadá, a nadadora Federica Pellegrini, da Itália, e a também ginasta Alexis Moreno, do México.
O programa Mulheres Inspiradoras faz parte do Barbie Brecha do Sonho, projeto lançado em 2017. Ele surgiu a partir de pesquisas feitas com a Universidade de Nova York que mostraram que, desde os cinco anos, muitas meninas começaram a desenvolver crenças autolimitantes e pensam que não são inteligentes e capazes como os meninos. Por isso as homenagens a artistas, esportistas, cientistas e grandes figuras femininas da atualidade.
Para Andrade, essa homenagem surge como uma forma de quebrar essa barreira. “Acredito que seja mais uma forma de inspirar e fazer as pessoas continuarem acreditando nos sonhos delas”, diz.
A autoconfiança também é trabalhada a partir do projeto, o que Rebeca mostra ter adquirido com o tempo ao não se sentir pressionada, mesmo sendo uma das principais ginastas do Brasil.
“Eu trabalhei bastante por isso, corri muito atrás, passei por muitos momentos que, para mim, foram difíceis. Então levo tudo com muita alegria e muita leveza”, diz. “Eu estou crescendo, estou sendo inspiração, um espelho. Acho que era isso que eu queria desde sempre.”
Rebeca se prepara para a sua terceira Olimpíada, que acontece de julho a agosto deste ano em Paris. “Tenho treinando bastante, sempre muito focada, conversando muito com a minha psicóloga também, tendo ali a minha família junto comigo, a equipe multidisciplinar, tudo isso faz muita diferença”, diz.
Mas essa não é a linha de chegada para a ginasta, que, apesar de reconhecer que conquistou tudo o que gostaria como atleta, ainda há muito o que percorrer. “Para a vida pessoal e acadêmica eu tenho muitas coisas ainda que quero construir, muitas carreiras também.”
Em comunicado, Krista Berger, vice-presidente sênior da Barbie e chefe global da Mattel, afirma que a celebração reconhece o “impacto dos esportes na promoção da autoconfiança, da ambição e do empoderamento da próxima geração”.
No fim, para Rebeca Andrade, essa homenagem a faz perceber que tudo o que fez e conquistou até agora valeu a pena.
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