Combater efeitos do clima na saúde exige acesso a diagnóstico e tratamento – 13/09/2024 – Marcia Castro


A segurança mundial da saúde depende da existência de sistemas públicos de saúde que sejam bem estruturados e resilientes, com capacidade de prevenir, detectar e responder a choques, incluindo epidemias e pandemias.

Por um lado, a pandemia de Covid-19 deixou claro o despreparo da maioria dos sistemas de saúde, bem como a vulnerabilidade desses sistemas à péssima governança de lideranças negacionistas. Por outro lado, vários fatores desafiam a segurança mundial da saúde.

Estes incluem crise climática, envelhecimento populacional e aumento da prevalência de doenças não transmissíveis, desinformação, conflitos e guerras, desrespeito a instruções e normas internacionais de saúde e deficiências nos sistemas de saúde, entre outros.

Focando na crise climática, os últimos anos nos deram várias amostras do que pode ser a vida em um mundo mais aquecido. Ainda que períodos de aquecimento e resfriamento existam desde a formação da Terra, a velocidade atual das mudanças não tem precedente e está diretamente relacionada à ação humana.

No Brasil, considerando apenas este ano e o ano passado, secas, queimadas, calor extremo e enchentes avassalam o país. As consequências afetam desproporcionalmente os mais vulneráveis, e são disruptivas na saúde, na educação e na economia.

Depois de uma seca histórica em 2023, a amazônia caminha para uma situação ainda pior neste ano, o que, no final do ano passado, já havia sido levantado como uma possibilidade.

A seca severa já deixa vários municípios em estado de emergência. Segundo análise do InfoAmazonia, quase 54% das terras indígenas na amazônia enfrentavam seca severa no último mês de julho. No mesmo período de 2023 eram apenas 10,3%.

O rio Madeira atingiu o nível mais baixo desde que as medições começaram, em 1967, e a usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Porto Velho, está parcialmente paralisada, produzindo apenas 13,7% de sua capacidade.

A situação ainda deve piorar, já que a estação chuvosa só deve começar em novembro.

Governos e a iniciativa privada se mobilizam para a distribuição de água potável e alimentos. Mas medidas para garantir acesso rápido e regular a medicamentos, diagnóstico e tratamento são urgentes a fim de evitar uma crise sanitária nas populações isoladas pela seca.

Por exemplo, o uso de veículos aéreos não tripulados (drones) para o transporte rápido e de baixo custo de suprimentos médicos já vem sendo usado em vários países da África e da Ásia.

Na década passada, Ruanda utilizou drones para atender mais de 4.000 unidades de saúde, distribuir 13 milhões de vacinas e transportar cerca de 75% do suprimento nacional de sangue fora da capital. Em 2020, o país foi o primeiro a utilizar drones no controle da malária. A tecnologia ajuda no controle vetorial, na distribuição de testes rápidos e medicamentos e na vigilância.

A situação na amazônia exige soluções rápidas para atender populações isoladas pela seca. A recente expansão da telessaúde na região facilitaria o uso apropriado de suprimentos médicos que poderiam ser distribuídos através de drones em caráter emergencial.

O momento urge, a tecnologia existe e não faltam exemplos de sucesso.


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Fonte: Folha de São Paulo

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