No final de abril, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso autóctone (originário da região onde foi encontrado) de cólera no Brasil em 18 anos. O paciente identificado é um homem de 60 anos que mora em Salvador (BA) e trabalha em Camaçari (BA). O caso é acompanhado por autoridades das duas cidades e do estado.
Segundo o Ministério da Saúde, a cólera é uma doença bacteriana intestinal causada por uma toxina produzida por dois sorogrupos da bactéria Vibrio cholerae. A transmissão pode ocorrer pelo consumo de água ou alimentos contaminados. Além disso, o agente causador da doença normalmente vive no mar, o que pode causar infecção em animais aquáticos.
A Secretária de Saúde de Salvador afirma que a Vigilância em Saúde Ambiental do município realizou coleta de amostras de água na residência do paciente e monitorou o teor de cloro presente na água do reservatório com o objetivo de rastrear a doença. Para a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia, trata-se de um caso isolado, “tendo em vista que não foram identificados outros casos”.
Segundo o médico infectologista Ralcyon Teixeira, mesmo que o Brasil não seja considerado um lugar com um surto ativo de cólera, o caso merece atenção. “Todos os estados devem ficar em alerta para casos de diarreia. Como o paciente não viajou para algum lugar com disseminação da doença, existe a possibilidade de o vírus já estar circulando na região e só ter sido percebido agora”, afirma.
A cólera pode causar quadros de diarreia e vômito agudos e desidratação, o que afeta a circulação do sangue e as funções renais. Casos graves da doença podem levar a necrose renal, problemas cardíacos, convulsões, diminuição da quantidade de sangue no corpo e até à morte.
O tratamento é focado na reidratação dos pacientes por meio da ingestão de líquidos, soros ou fluídos endovenosos. Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 80% dos casos da doença são leves ou moderados e podem ser tratados apenas com a reidratação oral. Casos mais graves podem necessitar de medicamentos endovenosos e antibióticos.
Os principais métodos de prevenção da doença são o acesso ao saneamento básico e fornecimento de água adequados, manter boa higiene pessoal e higienizar e cozinhar bem os alimentos, além de evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos, especialmente frutos do mar.
No passado, a expansão do acesso ao saneamento foi um dos principais aspectos na erradicação da cólera no Brasil. Teixeira também cita o avanço na vigilância dos casos.
“Hoje, a cólera é uma doença de notificação obrigatória, ou seja, qualquer caso deve ser reportado às autoridades de saúde municipais, estaduais e federais em até 24h. Após a notificação, há um rastreamento dos contatos e lugares frequentados pela pessoa infectada”, diz.
Existe, porém, a possibilidade de pessoas assintomáticas ou com casos menos graves de diarreia passarem despercebidas pelo poder público, fazendo com que locais contaminados não sejam identificados.