Fundo de pensão com R$ 38 bi traz estrategista “de mercado” para atrair novas fundações

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A Vivest vem incrementando o seu portfólio de entidades fechadas de previdência complementar. Em setembro, a fundação multipatrocinada começou a gerir o patrimônio de R$ 340 milhões do grupo farmacêutico Roche. No início de 2025, está acertada a transferência do patrimônio de R$ 471,2 milhões da Alpargatas.

Com essas duas empresas, a Vivest passará a ter 14 patrocinadoras e 24 planos de previdência. E há várias concorrências em andamento que devem fazer esses números subirem em breve.

A entidade está em busca de incorporar fundos de previdência de empresa privadas que tenham entre R$ 300 milhões e R$ 3 bilhões sob gestão – um mercado endereçável de cerca de R$ 40 bilhões. A Vivest é maior entidade fechada de previdência complementar de capital privado do País, com cerca de R$ 38 bilhões sob gestão.

Segundo dados da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), existem hoje mais de 230 fundações, dos quais apenas 67 têm mais de R$ 3 bilhões sob gestão. O setor possui R$ 1,2 trilhão sob gestão, com mais de três milhões de participantes e quatro milhões de dependentes, com cerca de R$ 100 bilhões pagos anualmente em beneficiários.

“A sustentabilidade das fundações no longo prazo passa pôr se reinventar neste novo mercado de trabalho, com empresas mais enxutas. E que ao mesmo tempo exigem mais entrega de tecnologia e serviços. Crescer se torna fundamental para manter a qualidade”, afirma Walter Mendes, presidente da Vivest, em entrevista ao NeoFeed.

Ao liderar a consolidação, a Vivest ganha mais volume e retorno para manter a sua taxa de administração como uma das mais competitivas do mercado, em uma média de 0,2% ao ano, a depender de cada plano.

Com a ideia de ir ampliando o patrimônio e desbravar mais o mercado em mar aberto, a Vivest vai ganhando mais complexidade na gestão dos seus portfólios. Para fazer frente a esses desafios, a entidade trouxe um peso pesado para ser o seu diretor de investimentos, após a aposentadoria de Jorge Simino.

Paulo Werneck esteve recentemente como diretor de investimentos da Petros, passou também pela Funcef, mas a maior parte de sua carreira de 40 anos no mercado financeiro foi construída em instituições privadas, como BTG Pactual, Haitong, Icatu, ABN Amro e Citi.

Habilitado em agosto para ser o diretor de investimentos da Vivest, Werneck tem em mãos uma carteira extremamente conservadora – como, aliás, a de todos os outros fundos de pensão.

Cerca de 87% da carteira consolidada está alocada em renda fixa, majoritariamente em títulos públicos atrelados à inflação, que têm tido rendimento fixo acima de 6% ao ano – até agosto a rentabilidade era de 4,4%. E o motivo é a falta de clareza do cenário.

“Estamos em um nível de alocação de risco condizente com o cenário de hoje. O BC precisa trazer a inflação para a meta e o governo precisa continuar emitindo dívida para se financiar”, diz Werneck. “O risco fiscal não parece ter ainda solução. Então, títulos públicos é a jogada mais assertiva, e tem retornos atrativos.”

Já no cenário internacional, o time de investimentos vê um cenário mais atrativo, de crescimento das grandes economias com a inflação mais controlada. No entanto, a alocação internacional da Vivest não passa de 1% no total. O motivo? A incerteza cambial.

“Nos sentimos mais confortáveis em capturar crescimento econômico fora do Brasil. Mas pagamos os benefícios em reais. A verdade é que o real tem sido uma das moedas mais desvalorizadas dos últimos tempos. Mas estamos atentos para capturar as melhores oportunidades”, diz Werneck.

Werneck acrescenta que já é possível fazer uma gestão internacional muito completa com ativos domiciliados no Brasil, como as BDRs, e que ativos alternativos estão sendo analisados para compor a carteira em planos mais jovens, em estágio de acumulação. A nova política de investimentos da fundação para o ano que vem está sendo elaborada.

“Há uma grande diferença entre os planos antigos em que há mais saídas que entradas de recursos, e os planos jovens que estão em fase de acumulação”, afirma Werneck. “Entendemos que há planos em que estamos competindo no mercado. Mas não iremos atrás de rentabilidade a qualquer custo e risco. No Brasil, todo mundo acha que sabe investir melhor, mas quando vem um problema a corda aperta.”

A disputa no mar aberto

Agir no melhor interesse dos cotistas do fundo é o que se espera de um diretor de investimentos. Mas esse é um desafio para relações tão longas como as de previdência. Por esse motivo, tanto a consolidação do portfólio como custos atrativos são importantes para outra frente de crescimento: a expansão dos planos família.

Esse modelo permite à Vivest disputar cotistas no mar aberto, afinal, os planos família possibilitam a entrada de parentes de participantes até o quarto grau de parentesco (vertical ou horizontal, valendo desde cônjuges, netos e sobrinhos a cunhados).

O Familinvest, por exemplo, foi criado em 2019 e hoje totaliza R$ 70,8 milhões sob gestão. Neste ano, até agosto, tinha rentabilidade de 6,94%. O time de investimentos é o mesmo, mas há flexibilidade de resgate, podendo fazer retiradas a cada três anos.

Quanto mais patrocinadas entram na fundação, maior é o número de participantes que podem agregar seus familiares a este plano. O que torna sua capacidade de alcance gigantesca. No setor, já são ao todo R$ 2,1 bilhões administrados em planos famílias.

E o custo competitivo passa a ser fundamental para disputar o mercado com a previdência aberta, de PGBLs e VGBLs, que possuem uma grande vantagem que é o balcão de vendas e o marketing, principalmente dos grandes bancos.

O investimento em propaganda, aliás, é um custo que a Vivest, como fundação sem fins lucrativos, não quer arcar, pois teria que aumentar o valor pago pelos participantes nos planos.

Para dificultar ainda mais essa competição, a Vivest, assim como outras fundações, entrou na mira de arrecadação do governo, que propôs tributar as fundações e igualar a taxação dos planos às de previdências abertas – o que vai aumentar o custo para o participante.

“Tributar as fundações é descabido. É uma atividade assistencial que ajuda na poupança de longo prazo. O governo deve tributar quem gera lucro para si. A proposta foi mudada na Câmara e estamos todos unidos para que esse esclarecimento se mantenha no Senado”, diz Mendes.





Fonte: NeoFeed

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