Meninas negras estão menstruando mais cedo, diz estudo – 07/06/2024 – Equilíbrio


Um novo estudo, publicado no final de maio, descobriu que as meninas estão começando seus ciclos menstruais mais cedo agora do que em décadas anteriores. A tendência é mais pronunciada para meninas de grupos minoritários e aquelas de origens de baixa renda.

As descobertas se somam a evidências crescentes que sugerem que algumas meninas ao redor do mundo estão entrando na puberdade mais cedo na vida —uma mudança que os pesquisadores dizem estar associada a resultados de saúde negativos mais tarde na vida, mas que ainda não pode ser totalmente explicada. Vários estudos consistentemente encontraram que a queda na idade parece ser mais acentuada entre grupos minoritários raciais, meninas de grupos socioeconômicos mais baixos e aquelas com IMC mais alto.

“Na prática pediátrica, houve uma espécie de tendência para simplesmente assumir que as meninas negras passam pela puberdade mais cedo. Mas o que está acontecendo e como? Quais são os resultados de saúde associados a isso?” questiona Juliana Deardorff, chefe do programa de saúde materna, infantil e adolescente da Universidade da Califórnia, Berkeley, que comentou o estudo a pedido da reportagem. “Devemos refletir sobre isso, não apenas normalizar essas disparidades.”

A Associação Americana de Obstetras e Ginecologistas (ACOG, na sigla em inglês) e outros grupos médicos consideram o início da menstruação (conhecido como menarca) um sinal de saúde geral, juntamente com outras medidas como regularidade do ciclo, pressão sanguínea, temperatura corporal e frequência cardíaca. Pesquisadores têm relacionado menarca precoce e irregularidade persistente do ciclo a um aumento do risco de condições na vida adulta, como diabetes e doenças cardiovasculares, bem como câncer de mama e do endométrio.

Segundo o ACOG, as meninas geralmente têm entre 12 e 13 anos quando menstruam pela primeira vez e leva até três anos para que seus ciclos atinjam uma cadência regular.

A Pesquisa

O novo estudo se baseia em dados de mais de 71 mil mulheres que usaram iPhones e concordaram em compartilhar informações de saúde em um aplicativo. As mulheres nasceram entre 1950 e 2005 e eram de múltiplas etnias, incluindo negras, hispânicas, asiáticas e brancas. As participantes também relataram se seu status socioeconômico era baixo, médio ou alto.

No geral, o estudo descobriu que, embora a idade mediana da menarca não tenha caído drasticamente, permanecendo em torno de 12 anos, a proporção de mulheres que iniciaram seus ciclos menstruais com menos de 11 anos aumentou significativamente ao longo do tempo. Quase 16% das mulheres nascidas entre 2000 e 2005 tinham entre nove e 11 anos na menarca, em comparação com pouco mais de 8% das mulheres nascidas entre 1950 e 1969. O estudo também apontou que mais mulheres estavam tendo ciclos irregulares por três anos ou mais após a menarca.

A tendência para uma idade mais precoce da menarca foi mais pronunciada para mulheres negras, hispânicas e asiáticas do que para brancas, bem como para aquelas com menor status socioeconômico. Estima-se que 46% dessas reduções possam ser explicadas pelo índice de massa corporal.

“Uma das coisas marcantes deste estudo é que, historicamente, todos atribuíram essas mudanças nos ciclos menstruais ao aumento da gordura corporal e ao IMC”, afirma Deardorff. Mas este estudo destaca o fato de que “mesmo entre pessoas com peso saudável e potencialmente abaixo do peso, essas tendências ainda estão ocorrendo”, o que significa que outros fatores podem estar em jogo.

Alguns estudos sugeriram que a exposição a poluentes e certos produtos químicos pode perturbar o sistema endócrino e o funcionamento do ciclo menstrual, embora as evidências não sejam conclusivas. Pesquisadores também relacionaram a menarca precoce a estressores externos, como o racismo estrutural, abuso em idade jovem e insegurança financeira, explica Deardorff, ela também coautora de vários estudos sobre como esses tipos de estressores podem afetar a puberdade.

“Não é mais controverso dizer que o estresse pode penetrar na pele para afetar diferentes processos”, diz, referindo-se ao conceito de intemperismo, uma teoria cada vez mais aceita que relaciona a exposição ao estresse crônico e prolongado ao envelhecimento acelerado. Para ela, a idade da puberdade ou menarca deve ser vista como um tipo de indicador dos tipos de estresses que as crianças podem sofrer.

As limitações

O estudo se baseou em dados autorrelatados, dependendo das memórias das participantes de sua primeira menstruação e de quanto tempo levou para a regulação do ciclo. Enquanto a idade da menarca é um marco importante que as mulheres provavelmente irão se lembrar por toda a sua vida, “o tempo até a regularidade após o início da menarca é realmente difícil de relatar retrospectivamente”, diz Deardorff.

A amostra da pesquisa consiste apenas em mulheres que usam iPhones, afirma Shruthi Mahalingaiah, coautora do artigo e professora assistente de saúde ambiental, reprodutiva e da mulher na Escola de Saúde Pública de Harvard. Isso significa que o estudo exclui uma grande parte da população americana, especialmente aquelas de menor nível socioeconômico, que podem não usar smartphones. Também não está claro se essas tendências nos Estados Unidos poderiam ser generalizadas para outras populações.

A conclusão

Raça, nível socioeconômico e IMC por si só não podem explicar totalmente as diferenças no primeiro ciclo menstrual, pondera Deardorff. Esses três fatores são inseparáveis de outras variáveis, que também podem influenciar a menarca, como local de moradia, exposições no ambiente a substâncias químicas e a oferta de alimentos nutritivos e acesso aos cuidados de saúde.

É um desafio, assim, “distinguir quais podem ser os efeitos cumulativos ou interativos”, explica ela. Estudos futuros, acrescentou, devem acompanhar meninas em diferentes fases de suas vidas para entender melhor como múltiplos fatores durante a puberdade afetam sua saúde na idade adulta.

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Fonte: Folha de São Paulo

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