Mounjaro: importar medicamento custa mais de R$ 5 mil – 16/05/2024 – Equilíbrio e Saúde


O Mounjaro (tirzepatida), primo rico do Ozempic (semaglutida), foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em setembro do ano passado, para tratamento de diabetes tipo 2. Assim como seu “primo”, é utilizado no tratamento de obesidade. Porém, o medicamento ainda não pode ser comprado nas farmácias brasileiras e, na conversão, o preço sai por mais de R$ 5 mil por tubo.

O fármaco tirzepatida é um receptor dual de GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e agonista (enzima capaz de se ligar a um receptor celular e ativá-lo) do receptor GLP-1 (Glucagon-like Peptide-1, na silga em inglês).

Bruno Halpern, presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), explica que o Mounjaro age no receptor dos hormônios intestinais.

O medicamento é aprovado pela Anvisa para ser um tratamento adjuvante à dieta e exercícios para melhorar o controle glicêmico em adultos com diabetes mellitus tipo 2. Segundo Halpern, em outros países, o remédio já está aprovado para obesidade, por diminuir o apetite e causar perda de peso.

O especialista ainda afirma que, apesar de o Mounjaro ser uma boa medicação para a obesidade, “hoje no Brasil existe uma tendência da gente priorizar as medicações que estão aprovadas em bula para tratamento de obesidade, o que não quer dizer que medicações off-label, desde que tenham eficácia e segurança comprovadas, não possam ser utilizadas em situações específicas”, explica.

“Na situação atual, em que é necessário importar e em que o custo é proibitivo para 99% da população, não recomendamos porque não tem disponível no Brasil. A não ser em casos de exceção em que a pessoa tenha condição socioeconômica, mas não é a realidade do brasileiro.”

O preço de tabela do medicamento nos EUA é US$ 1.069,08 por tubo, o que na conversão é R$ 5.126,40. No Brasil, segundo a tabela de preços da CMED, os preços poderão variar, no máximo, de R$ 1.516, 61, por duas canetas, até R$ 4.009, 25, por quatro canetas.

Procurada pela Folha, a Eli Lilly do Brasil afirma que não tem previsão de quando o Mounjaro será vendido no país. “Ainda temos alguns passos importantes até que o medicamento chegue ao país, incluindo os trâmites de importação do produto e a definição do preço que será praticado no mercado brasileiro,

informações que não temos no momento. É importante contextualizar que o crescimento do mercado global de incretinas injetáveis é sem precedentes e, antes de lançar Mounjaro em algum novo país, a Lilly realiza uma avaliação de mercado para garantir o fornecimento adequado do medicamento”, diz a farmacêutica.

À Folha, a Anvisa afirmou que não tem informações sobre importações do Mounjaro.

Mounjaro x Ozempic

A diferença do Mounjaro para o Ozempic é que o segundo “só age no receptor do GLP-1. O Mounjaro tem o efeito maior no GIP também, que é um outro hormônio, portanto com essa ação sobre dois agonistas, dois hormônios, ele acaba tendo um efeito maior tanto na perda de peso quanto na redução da glicose”, relata o Halpern.

O médico afirma que os efeitos colaterais dos dois medicamentos são semelhantes: náuseas, vômitos, diarreia, constipação e mal-estar. O especialista destaca que a maior preocupação em relação ao uso do Mounjaro é o uso sem indicação do medicamento. “Precisamos ver o tratamento de obesidade com medicações como um tratamento para uma doença crônica, cujo objetivo é melhorar a saúde e a qualidade de vida. Não é um remédio para emagrecer, porque eu estou querendo emagrecer sem ter necessidade”, ressalta.

Assim como outros medicamentos para doenças crônicas, ao descontinuar o uso do Mounjaro, o paciente pode voltar a ganhar peso. “O remédio existe para tratar uma doença que é crônica. Se você toma um remédio para pressão alta e para, ela sobe. Se você toma um remédio de diabetes e para, a glicemia sobe. O peso é a mesma coisa, porque existe uma tendência do corpo de voltar para o peso máximo da vida”, conta.

Halpern entende que “esse é o paradigma que precisa mudar. A obesidade como doença crônica e o tratamento com o objetivo de melhorar a saúde e a qualidade de vida e não gerar melhorias estéticas. Claro que melhorar a estética para a gente ficar feliz, mas não é o objetivo principal. Como médico, a gente está tratando a saúde e a qualidade de vida”.



Fonte: Folha de São Paulo

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