
O número de mulheres que escolhem não ter filhos está crescendo e a taxa de natalidade global está caindo. Segundo o Banco Mundial, o número de nascimentos por 1000 pessoas mundialmente caiu de 36 em 1963 para 17 em 2021.
Embora as razões para essa escolha variem desde preocupações climáticas a questões financeiras e complicações de saúde, as mulheres que tomam a decisão de não ter filhos dizem que nem sempre são aceitas socialmente e sentem que são relegadas ao ostracismo.
A BBC conversou com membros do movimento Bristol Childfree Women, um grupo com mais de 500 integrantes criado por mulheres e para mulheres que decidiram não ter filhos.
‘O corpo é meu’
Os números oficiais da Inglaterra e do País de Gales divulgados em 2022 mostram que um número recorde de mulheres está chegando aos 30 anos sem filhos.
50,1% das mulheres nascidas em 1990 não tinham filhos quando completaram 30 anos em 2020 – a primeira geração em que isso acontece, de acordo com o Gabinete de Estatísticas Nacionais
Megan Stanley, é da região de Oxfordshire e hoje mora em Bristol. Desde os 19 anos ela tenta conseguir a esterilização. Mas a inglesa de 31 anos conta que enfrenta obstáculo após obstáculo, até hoje sem sucesso.
“Os médicos diziam ‘você ainda é um pouco jovem’ ou ‘você pode mudar de ideia'”, disse ela. O mais perto que Megan chegou da esterilização foi quando ela tinha 29 anos e marcou uma consulta com um cirurgião.
“Eu preparei tudo – meu histórico médico, preparei toda a minha linha de raciocínio. Cheguei ao ponto de obter um depoimento do terapeuta com quem estava me consultando.”
No entanto, a permissão não foi concedida quando o ginecologista perguntou sobre seu relacionamento. Ela disse ao médico que seu companheiro, com quem se relacionava há apenas 3 meses, definitivamente não queria filhos e já havia feito vasectomia.
Diante dessa informação, o médico respondeu que, se o parceiro já tinha feito vasectomia, então ela não precisava fazer um novo procedimento. “Por que o que acontece com meu corpo deveria ser ligado a o que ele fez com o dele?”, questiona.
Ela também diz que algumas pessoas a pintaram como “uma pessoa que odeia crianças ou uma pessoa má”. “Acho que não querer filhos é apenas uma coisa inerente a quem eu sou”, disse ela.
Megan reclama de menstruações dolorosas e diz ser “cruel” passar pelo “sofrimento todos os meses por uma função corporal” que ela sente que não precisa.
“Cheguei ao ponto em que anseio pela menopausa. É o que eu mais quero hoje”, afirma.
‘Egoísmo’
Fiona Powley conta que sabia que não queria ser mãe desde os 12 anos, depois de ver sua própria mãe tendo problemas com a maternidade. “Achava que a maternidade não parecia algo muito divertido”, lembra.
Agora com 49 anos, Fiona dirige o grupo Bristol Childfree Women e, embora esteja tendo sintomas da menopausa, ela “não tem uma sensação de pânico” por não ter tido filhos: “É muito confortável”, disse.
Ironicamente, Fiona agora olha para sua vida e pensa que poderia ter feito “um bom trabalho como mãe”, mas que “nunca quis isso o suficiente”.
No entanto, assim como Caroline e Megan, ela conta que, às vezes, quando diz que escolheu não ter filhos, novas pessoas que conhece reagem negativamente a isso.
“Já me disseram que vou me arrepender. Qual o seu sentido de existir? Se você não tem filhos, você não é válida como mulher”, diz Fiona. Ela já foi até chamada de “egoísta”, e alguns questionaram quem cuidará dela quando ela envelhecer.
“É quase como se as pessoas se sentissem desconfortáveis”, disse ela. “Provavelmente é porque nunca lhes ocorreu que elas também tinham escolha.”
Fiona destaca que há muitos motivos pelos quais as pessoas decidem não ter filhos.
Olhando para trás, ela acha que seus próprios motivos eram “provavelmente pouco saudáveis”, mas ela sabe que não vai “acordar de repente como uma velha senhora e sentir amargura e arrependimento”.
‘É uma questão de escolha’
Caroline avalia que, caso tivesse tido filhos, seria uma “mãe ressentida”.
Para ela, há “várias vantagens” em não se ter filhos, como concentrar seu tempo no relacionamento com o marido e em seus hobbies.
Megan concorda: “Há muita alegria em não ter filhos. Não se trata apenas de liberdade e dinheiro. É uma questão de escolha”, afirma.