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Uma dose de pragmatismo financeiro – 21/09/2025 – Marcos de Vasconcellos


A economia está no campo das ciências humanas não por obra do acaso. Há nela muito pouco da exatidão da matemática, apesar da quantidade de números aplicados. Ainda bem. Fosse diferente, não haveria espaço para a discussão e a curiosidade que norteiam o mundo dos investimentos.

Do lado das notícias alvissareiras, vimos na última semana a taxa de emprego bater recorde no Brasil, enquanto a renda média do trabalhador aumentou. Em condições normais de temperatura e pressão, isso simbolizaria uma economia superaquecida. O PIB (Produto Interno Bruto), entretanto, não decola.

Pelo lado da insegurança, tivemos, nos últimos dias, um ex-presidente condenado; os Estados Unidos sendo provocados a impor novas sanções comerciais (apesar de não se saber onde mais podem apertar); uma operação da Polícia Federal atingindo grandes players do mercado financeiro; a incerteza sobre o candidato de oposição nas eleições do ano que vem (o Tarcísio de Freitas garante que não será ele); e o registro de “déficits gêmeos” pelo governo.

Esse tipo de cenário complexo parece ser a vocação nacional. E fazer a leitura correta dele está na descrição do emprego de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central. Na última quarta-feira (17), Galípolo e seus colegas do Copom (Comitê de Política Monetária) mantiveram a taxa básica de juros do Brasil (Selic) em 15% ao ano, considerados sufocantes para quem quer empreender, mas visto por eles como o ponto de equilíbrio para não deixar a inflação descontrolada.

Vale observar que o presidente Lula não deu um pio para criticar a decisão do Copom, ao contrário do que fazia com o antecessor de Galípolo, Roberto Campos Neto, que seguia pelo mesmo caminho. Lula sabe que a inflação que prende os juros lá no alto ainda vem dos gastos do governo, para os quais não apresenta uma solução. Ainda que os juros altos aumentem os gastos do governo com a dívida, se fosse só esse o problema, já teríamos a Selic abaixo de dois dígitos.

Nos livros, assim como o crescimento de salários e emprego anunciariam crescimento, o caos de Brasília seria prenúncio de uma fuga de capitais. Mas, assim como o PIB não disparou, a Bolsa de Valores, acabou de bater seu recorde de pontuação, medida pelo Ibovespa, lá na casa dos 146 mil pontos. A principal explicação foi o já esperado corte de juros nos EUA.

Quem só viu o copo meio vazio da insegurança e fugiu do mundo das ações, perdeu uma alta de 21% desde o início do ano. Quem só viu o copo meio cheio de empregos e salários, apostou tudo na Bolsa, abriu mão de ter parte de seu dinheiro rendendo 15% nos títulos do Tesouro atrelados à Selic, com o menor risco existente.

Não quero falar o óbvio aqui, mas todo copo meio cheio está meio vazio. E por isso uma diversificação de investimentos é o ponto central para viver no Brasil e no mundo. Investir como no futebol de criança, onde todo mundo corre junto atrás bola, sem estratégia, garante somente frustração. Quem equilibra a carteira leva o campeonato.

Ao mesmo tempo que sufocam a economia, os juros altos nos transformam no paraíso dos rentistas. A volatilidade do mercado faz da nossa Bolsa uma montanha-russa. Aproveite para ganhar com a realidade posta nos dois cenários, pois reclamar dela não vai te dar nada.


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Fonte: Folha de São Paulo

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