Aguardando por atendimento havia oito horas, Gleice Miquele relatava dor de cabeça, nas articulações e nos olhos na noite desta quarta-feira (10), na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Jaçanã, na zona norte da capital paulista. No mesmo local estava Solange Garcia, que acompanhava o marido com sintomas de dengue havia mais de cinco dias —a busca por ajuda aconteceu porque o homem não conseguia mais se alimentar e estava com dificuldade para andar.
“Eu só sei que é dengue mesmo porque fizemos nele o teste rápido de farmácia”, disse Garcia. Ela e o marido aguardavam por mais de três horas por atendimento.
Perto deles, Valéria Barbosa estava deitada em dois bancos da mesma unidade também aguardando atendimento. Sozinha, ela tinha falas confusas, mas dizia estar com febre, dor no corpo e tosse há alguns dias. A paciente procurou ajuda porque não conseguia trabalhar.
Moradora da Vila Mazzei, bairro vizinho ao Jaçanã, o caso de Juliana Melo, presente na mesma unidade, era diferente. Ela tinha sintomas gripais, como tosse, coriza, dor no corpo, de cabeça, e febre havia dois dias. “Tomei xarope e paracetamol, mas ainda sinto muita dor nas costas, a boca quente e um incômodo no olho.”
Entre as três unidades visitadas pela reportagem, a UPA Jaçanã era a que concentrava mais pacientes, apesar da separação para classificação de sintomas gripais e de dengue na hora da triagem. A superlotação era tanta que, do lado de fora, pacientes desistiam de tentar buscar atendimento, como é o caso de Laís Viana, moradora do mesmo bairro.
“Estou com sintomas como dor de cabeça, nas articulações e febre desde domingo, mas não procurei atendimento antes porque eu sabia que estava assim. Só vim mesmo porque a dor está piorando”, disse do lado de fora da unidade, prestes a desistir do atendimento e temendo acabar se contagiando com outra doença no local. “A gente vem com uma coisa e volta com outra para casa, tenho medo de passar algo para a minha filha pequena.”
Cerca de 25 quilômetros separam a unidade de Jaçanã, na zona norte, de outra UPA visitada pela Folha, a Tito Lopes, na Vila Americana, na zona leste da cidade.
Na noite de quarta-feira, a unidade da zona leste registrava procura maior por atendimentos por sintomas de dengue e contava com uma fila exclusiva para sintomáticos da doença e uma tenda logo na entrada.
Entre consulta, medicação e até transferência de posto de saúde, Vanessa da Silva Luz estava havia mais de cinco horas na UPA Tito Lopes. Desde a semana passada ela tem procurado assistência, mas foram nos últimos três dias que começaram a pedir, diariamente, exame para medir a quantidade de plaquetas no sangue. A suspeita é de dengue grave.
“Acho que só não me encaminharam para a tenda porque vim de ambulância transferida”, diz Luz, moradora do Jardim Helena que, apesar de ter feito testes diferentes para a dengue, não recebeu resultado positivo para a doença. Ela aguardava um novo resultado de exame de sangue para saber se seria ou não internada na unidade.
Do lado de fora, na tenda instalada para tratar os casos suspeitos e confirmados da arbovirose, pacientes reclamavam da demora na hora de terem acesso ao resultado do exame. Com sintomas de dengue havia duas semanas, Alex Ikenaga disse que na unidade o atendimento até foi rápido, mas a resposta confirmando ou não seu problema estava levando muito tempo.
“Disseram que o tempo normal para ter acesso ao exame era de três horas, mas tem gente aqui que espera há mais de seis. Eu estou esperando há mais de duas horas”, afirma o homem.
Três semanas após a primeira visita da Folha, a UPA Jaraguá, na zona norte da cidade, registrava um menor fluxo de pacientes. A maioria era de suspeita de dengue. Moradora do Jardim Paulistano, Karina Pereira tinha sintomas havia uma semana e estava na unidade pelo segundo dia consecutivo —este, para recolher o resultado do exame, que demorava mais de 2 horas.
“Passei pela medicação daqui ontem e, de longe, consigo afirmar que a maior parte das pessoas que estavam sendo medicadas era de suspeita para a dengue, porque todas estavam tomando o mesmo medicamente que me haviam receitado, soro com dipirona”, afirma Pereira.
Com febre, tosse e dor no corpo havia uma semana, Juliana Nascimento, moradora do Jaraguá, procurou a unidade por outro motivo, ela estava com suspeita gripal. “Até fui trabalhar, mas precisei sair antes porque não aguentei”, afirmou. Ela aguardava havia cinco horas por atendimento e era um dos poucos casos suspeitos para infecções respiratórias.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde sobre a demora para atendimento nas UPAs Jaçanã, Jaraguá e Tito Lopes, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.