Com o uso intensivo de celulares e computadores, estamos expostos o tempo todo à iluminação dessas telas, que emitem a chamada luz azul. Alguns protetores solares no mercado já oferecem proteção contra a luminosidade ou minimizam os danos causados por esses raios. Mas, segundo especialistas, a proteção não é relacionada às luzes emitidas por telas, mas ao espectro azul dos raios solares.
Maurício Baptista, professor e pesquisador do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo), afirma que não existe nenhum estudo que mostre que a luz de telas, como a do celular e de computadores, possa afetar a pele. “Essa história de proteger do celular é marketing puro. Sem nenhuma fundamentação científica. Alguém pode falar que [o protetor solar] não protege da luz do celular? Ninguém pode falar, porque absorve a luz do celular, mas essa luz faz mal para você? Não”, explica.
Fernanda Aragão, dermatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entende que, com exceção das radiações ionizantes, como a nuclear, a do Sol é a mais prejudicial para a pele. “Pensando nas radiações comuns, que estamos expostos no dia a dia, é a do Sol”, diz.
Selma Helene, médica dermatologista pediátrica no Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a intensidade da luz das telas é muito baixa para ser prejudicial para a pele. “Não existe um consenso de que a luz visível emitida pelo celular e por telas de computadores seja prejudicial. Diferentemente da luz visível solar, em que os estudos in vitro, ou seja, em tubo de laboratório, mostram que, eventualmente, a faixa azul da luz visível pode causar envelhecimento e aumento da pigmentação”, relata.
Segundo Baptista, metade da exposição solar é composta por luz visível. Porém, alguns protetores solares não possuem filtros contra essa faixa de luz e focam somente a proteção contra raios UVB (ultravioleta B).
“As pessoas procuram muito por protetores com FPS alto. Eu acho que isso é um erro, porque FPS alto só quer dizer que você pode ficar mais tempo no sol sem apresentar vermelhidão. Todo o resto do espectro luminoso, que também afeta a sua pele, não é filtrado. Ninguém fala para os usuários ‘olha toma cuidado, esse protetor vai deixar você ficar na praia 10 horas em vez de 10 minutos, só que você acha que está seguro e não está’. Você está recebendo muita irradiação que está penetrando livremente na sua pele”, conta.
As pessoas procuram muito por protetores com FPS alto. Eu acho que isso é um erro, porque FPS alto só quer dizer que você pode ficar mais tempo no sol sem apresentar vermelhidão. Todo o resto do espectro luminoso, que também afeta a sua pele, não é filtrado
Para Aragão, a dor é protetora. “Quando tentamos colocar a mão no fogo, a gente tira porque dói. Se não temos essa sensibilidade, podemos nos machucar e acontece o mesmo com o sol. É importante toda a população saber que independentemente do tom da pele, todos nós podemos ter queimaduras solares e podemos ter consequências delas, principalmente, o mais perigoso, que é o câncer de pele”, destaca
O professor explica que o FPS (Fator de Proteção Solar) filtra os raios UVB, que são absorvidos diretamente pelo DNA das células da membrana basal da pele; são os mais eficientes para causar danos e deixam a pele vermelha. Segundo Baptista, só é possível ir ao sol porque temos enzimas na pele que reparam o dano no DNA causado pelos raios UVB. “Só que a luz visível inibe esse reparo. Os raios UVA e a luz visível estão muito mais presentes e também causam mais uma outra reação que é a de oxidação. Eles causam danos metabólicos e evitam o reparo de DNA”, afirma.
Baptista ressalta que o problema não é a luz do sol, “se em vez de 20 minutos você ficar três horas no sol, a dose de luz visível é cavalar. O problema é a quantidade de luz, a recomendação é de nunca ficar muito tempo no sol”. O professor sugere que, em vez de procurar protetores solares com FPS alto, buscar por produtos que filtrem um amplo espectro de radiações solares.
Segundo Helene, “os protetores solares ideais são aqueles que dão uma grande cobertura para o comprimento de luz UVA, por exemplo. A luz UVA se mantém ao longo do ano inteiro, diferentemente da UVB que se alterna durante o dia. O protetor solar tem que ter pelo menos um terço de ingredientes contra a UVA”.
A dermatologista afirma que alguns protetores solares que contêm óxido de ferro, dióxido de titânio e óxido de zinco parecem dar uma proteção maior contra a luz visível solar, porém ainda não há consenso entre os médicos.
Aragão entende que o protetor solar com cor oferece mais proteção do que o protetor incolor. “A cor no protetor vai proteger mais. O protetor com cor, geralmente, é a base de óxido de ferro, que é um filtro físico e que oferece uma cobertura maior. Mesmo o protetor incolor, quando passa uma base por cima, protege mais. A associação também é benéfica. Não necessariamente precisa usar o mesmo produto”, explica.
Helene destaca que a cor no protetor solar não é só uma maquiagem. “Apesar de parecer uma maquiagem, não é uma maquiagem, são inúmeras partículas para aumentar o poder de proteção do protetor solar”, diz.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis