Esqueça a felicidade. Fomos programados para sobreviver

Esqueça a felicidade. Fomos programados para sobreviver


O cérebro é incrivelmente dinâmico e está em constante transformação. Um quilo de massa encefálica abriga 86 bilhões de neurônicos, que, comunicando-se entre si, estabelecem cem trilhões de conexões. É essa rede que controla todo o nosso organismo, processando, interpretando e organizando um fluxo infinito de impressões sensoriais.

É algo fantástico e poderoso. Nosso cérebro tem a capacidade de armazenar informações equivalentes a onze mil bibliotecas repletas de livros. Agilíssimo, se estamos, por exemplo, em uma conversa, ele consegue, em fração de segundo, pinçar os dados mais relevantes de nossa memória  (mesmo que tenha sido armazenados há décadas) e relacioná-los com o momento.

Bom, se o cérebro é capaz de tudo isso, por que não consegue dar conta de nos manter realizados? Por que, às vezes, nos sentimos mal mesmo quando tudo parece ir bem?

“Esse mistério se torna ainda mais enigmático quando consideramos que vivemos em uma era de abundância sem precedentes, que teria impressionado quase qualquer rei, rainha, imperador ou faraó da história”, escreve o psiquiatra sueco Anders Hansen, em Felicidade não é a cura: Uma perspectiva científica acerca da nossa busca por ser feliz.

E ele prossegue: “Ainda assim, mesmo que vivamos melhor do que nunca, muitas pessoas parecem estar sofrendo. Raro é o dia em que não há uma reportagem alarmante sobre o aumento de casos de problemas de saúde mental.”

E ele usa sua terra natal como exemplo. A Suécia é um dos países mais ricos do mundo, mas, mesmo assim, um em cada oito adultos toma antidepressivos. Globalmente, 284 milhões de pessoas têm ansiedade. Outras 280 milhões sofrem de depressão.

No livro, lançado no Brasil pela Intrínseca, Hansen apresenta pesquisas científicas inovadoras sobre a origem e o propósito dos sentimentos e aprofunda os conhecimentos sobre os transtornos mentais mais comuns — ansiedade, síndrome do pânico, depressão.

O psiquiatra tenta oferecer ao leitor informações que o permitam observar a si mesmo e a suas emoções. Ao entendermos nossos sentimentos, defende o médico, cuidamos melhor de nossas mentes e nossos corpos. E, assim, é possível encontrar o equilíbrio.

Com mais de três milhões de exemplares vendidos no mundo, Felicidade não é a cura mostra que a ansiedade e a depressão são estados naturais do ser humano —  e que não dá para ser feliz o tempo todo.

A importância da biologia

Ao adotarmos uma visão evolutiva da vida, como ele diz, podemos redefinir nossos conceitos de sucesso e felicidade para, enfim, alcançar o bem-estar e uma vida repleta de significados.

Autor premiado, palestrante e apresentador de uma série de televisão, na qual explora as peculiaridades do cérebro humano, em Felicidade não é a cura, o psiquiatra decidiu conscientemente focar na biologia, sem se aprofundar nos modelos explicativos sociais: “Não porque desigualdade, exclusão, injustiça e desemprego não importem, mas porque temos uma tendência a ignorar nossa biologia”.

Com 208 páginas, o livro custa R$ 49,90 (Crédito: Divulgação)

O psiquiatra propõe uma perspectiva cientifica acerca da nossa busca por ser feliz. E se mostra um demolidor de mitos, com o que chama de insights.

Primeiro, somos todos sobreviventes, não evoluímos para ter saúde ou felicidade, mas para sobreviver e reproduzir: “Sentir-se bem o tempo todo é um objetivo irreal. Simplesmente não funcionamos dessa maneira”.

Para ele, os sentimentos existem para afetar o comportamento, e devem ser passageiros. São gerados quando o cérebro combina o que está ocorrendo dentro de nós com o que acontece ao nosso redor. “O estado interno do corpo desempenha um papel maior em nossos sentimentos do que a maioria pensa”, observa.

Um ponto importante a ser considerado: ansiedade e depressão costumam ser mecanismos de defesa, portanto, naturais. Sua presença não significa necessariamente que há algo errado conosco ou que estamos doentes.

“E eles não têm absolutamente nada a ver com desvios de caráter! As memórias são, e devem ser, mutáveis! Falar sobre eventos traumáticos em um espaço seguro faz com que essas memórias mudem e se tornem menos ameaçadoras”, reforça o psiquiatra.

Sono, estresse, sedentarismo e redes sociais

Para Hansen, a falta de sono, o estresse prolongado, o sedentarismo e a exposição excessiva a imagens cheias de filtros nas redes sociais podem enviar sinais para o cérebro que são interpretados como perigo iminente ou inadequação pessoal: “Ele, então, responde dizendo para você se isolar e o faz se sentir para baixo.”

Por outro lado, a atividade física protege contra a depressão e a ansiedade. “Fomos feitos para nos movimentarmos, algo que hoje em dia fazemos muito pouco. Ainda assim, a preguiça é normal!”, afirma.

Outro mal dos nossos dias, a solidão tem sido associada a uma série de doenças, mas pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença, diz o psiquiatra. Ter alguns amigos próximos é provavelmente melhor do que ter um grande número de conhecidos.

“Os genes são importantes, mas o ambiente é ainda mais, não ache que o fato de algo ser mais provável geneticamente significa que é inevitável. A forma como vivemos a vida afeta como o nosso cérebro funciona”, explica.

Por fim, Hans defende, enfático: esqueça a felicidade!

“Pretender ser feliz sempre não é apenas desgastante e irreal, como pode surtir o efeito diametralmente oposto”, argumenta. “O mais importante de tudo é que se você não se sente bem mentalmente, deve procurar ajuda. Transtorno mental, diz ele, não é menos natural do que uma pneumonia ou uma alergia. Existe ajuda para isso, e você não está sozinho.”.



Fonte: NeoFeed

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