Uma das maiores tenistas de todos os tempos, a tcheca naturalizada norte-americana Martina Navratilova discutiu, via rede social, com a senadora espanhola Carla Antonelli por causa da controvérsia envolvendo a boxeadora argelina Imane Khelif nas Olimpíadas de Paris.
Khelif é mulher, e é esse seu gênero registrado no passaporte. Mas a IBA (Associação Internacional de Boxe), que comanda o boxe amador no mundo, a impediu de participar do Mundial amador de Nova Déli no ano passado alegando que ela não passou nos testes de elegibilidade para a disputa feminina, sem esclarecer quais foram esses testes.
O COI (Comitê Olímpico Internacional), que expulsou a IBA do movimento olímpico em 2023 e desde as últimas Olimpíadas organiza por conta própria o torneio de boxe dos Jogos, ignorou as informações da associação sobre Khelif –e sobre a taiwanesa Liu Yu-ting, que vive situação semelhante. Ambas estão competindo normalmente entre as mulheres em Paris.
O caso tornou-se um arranca-rabo de proporções globais depois da luta de Khelif contra a italiana Angela Carini: aos 46 segundos do primeiro assalto, depois de levar um direto no rosto, Carini abandonou a luta se queixando da força da oponente.
“Deplorável. Isso não vai acabar bem para as pessoas no poder que permitiram que isso acontecesse”, escreveu Navratilova no X (ex-Twitter), sobre uma foto de Carini chorando no ringue.
A ex-tenista é homossexual, casada com uma mulher, e foi por anos um ícone do movimento gay, mas tem sido criticada por ativistas transgêneros por ser contrária à participação de mulheres trans ou com elevado índice de testosterona em competições femininas.
Antonelli foi a primeira deputada trans do Parlamento espanhol, eleita pelo PSOE. Transferiu-se para o Más Madrid, integrante da coligação de esquerda Sumar, que a indicou para o cargo de senadora –também é a primeira trans na Câmara Alta espanhola.
Ela respondeu à tenista: “Você se esqueceu de Martina? É preciso ter memória muito curta e ao mesmo tempo pouca vergonha. Martina já se esqueceu quando em sua época lhe disseram, injustamente, que não deveria competir com outras mulheres, por sua força e porque ‘era muito masculina’, e nessa mesma linha a homofóbica e campeã australiana Margaret Court disse em referência a ela e outras jogadoras que ‘o circuito feminino estava cheio de lésbicas’ ou nos [anos] 90 lhe disse “que ela era um mau exemplo por ser lésbica”.
Veio a tréplica de Navratilova: “Masculino não significa homem. Eu nasci mulher e ainda sou mulher. E eu trabalhei duro para ter esses músculos —mesmo nos dias em que me sentia uma porcaria porque estava menstruada. Então, sim –uma mulher. Tente de novo”.
Antonelli então pegou pesado: “Imane Khelif nasceu mulher e continua sendo mulher, você nasceu transfóbica e continua sendo transfóbica”.
Navratilova só voltou à discussão três dias depois: “Hmm –é hora de você mudar de ideia. E isso não tem nada a ver com trans. Então, por favor, preste atenção. Há uma diferença entre trans –uma identidade– e DSD [DDS em português, distúrbio de desenvolvimento sexual] –uma anomalia biológica. Obrigado pelos seus insultos –mas eles não funcionam”.
“O fato de você ser transfóbica não é um insulto, é uma descrição de sua pessoa”, devolveu Antonelli.
A ex-tenista encerrou o debate-boca informando que bloquearia a senadora. “Então tá. Outro block fácil.”