O sistema tributário brasileiro é, reconhecidamente, uma barafunda. Na call de resultados da Ambev, o diretor-presidente da Ambev, Jean Jereissati creditou a queda no lucro líquido aos “já conhecidos desafios tributários brasileiros”.
Segundo o executivo, os custos com imposto de renda somaram R$ 1,1 bilhão no período, o que representa uma alíquota efetiva de 24% no trimestre.
Na divulgação dos resultados financeiros do terceiro trimestre na quinta-feira, 31 de outubro, o lucro líquido de R$ 3,5 bilhões foi 11,4% menor que o registrado no mesmo período do ano passado. Mas a receita líquida da companhia avançou 8,8% no trimestre, para R$ 22 bilhões.
Além dos impostos, alguns outros fatores impactaram diretamente o lucro da Ambev. Em meio a um cenário complexo nas operações internacionais e no mercado de cerveja do Brasil, a companhia teve uma redução nos volume de 0,6% no período, atingindo 45,06 milhões de hectolitros no trimestre.
No terceiro trimestre, a divisão de cervejas registrou uma receita líquida de R$ 9,88 bilhões, avanço de 3,5% em relação ao mesmo período do ano passado – a divisão foi favorecida por um aumento de 2,9% na receita por hectolitro. No mix de produtos, as cervejas premium tem se destacado, enquanto as do segmento de entrada, como Brahma e Skol, perdem espaço.
Nessa vertente, a Ambev afirmou que está se movimentando para recuperar o fôlego dessa linha, ao mesmo tempo em que reforça sua presença no segmento premium (que, como os números confirmam, tem ganhado cada vez mais a preferência do consumidor).
Pensando nisso, Jereissati, que deixará a posição de liderança na companhia em breve, afirmou que a Ambev está ajustando seu mix de produtos e a forma como os oferece ao público, dando foco nas vendas maiores como por pacotes do que o consumo por unidade.
O preço também é uma questão nessa mudança de estratégia. A companhia ajustou seus valores em setembro, antes do tempo habitual, impactando as vendas do trimestre. No entanto, essa foi uma decisão consciente e a expectativa é de que as vendas que foram afetadas se recuperem em breve, segundo o executivo.
Segundo ele, a Skol sofreu mais do que o esperado e, apesar da Brahma ser a prioridade da companhia para o segmento de entrada, também é preciso focar nos clientes fiéis da Skol se a empresa quiser continuar crescendo.
Em relação ao segmento premium, a Corona continua sendo a líder de mercado e a grande aposta da companhia para o próximo ano.
Também do lado positivo, as bebidas não-alcoólicas da Ambev registraram um crescimento de 14,8% na receita no trimestre, com R$ 2,7 bilhões. O volume dessas bebidas cresceu 3,4% no período.
Em relação às regiões em que a companhia atua, a América do Sul foi especialmente desafiadora no trimestre, reportando queda de 7,7% nos volumes em meio a um momento ainda complexo na Argentina. Além disso, o mau tempo no Paraguai também foi um dos vilões do período.
Na Bolívia, por sua vez, os volumes avançaram 20% com as marcas de “acesso”, enquanto no Chile o crescimento foi de 6,9% com foco nas cervejas premium.
Pensando na Argentina, região que tem puxado os números da Ambev para baixo nos últimos anos, Jereissati acredita que a maré negativa deve se encerrar em 2024, fazendo com que o país volte a ficar no positivo em 2025.
No panorama geral, o Ebtida da Ambev atingiu R$ 7 bilhões, alta de 7,3% no período, enquanto a margem Ebtida ficou em 32%.
A ação ABEV3 chegou a cair pouco mais de 2% no início do pregão de quinta-feira, 31 de outubro. No ano, o papel acumula queda de 7,4%. O valor de mercado da companhia é de R$ 200 bilhões.