A anarquia que deu origem ao humorístico “Saturday Night Live” (e mudou a comédia na tevê)

A anarquia que deu origem ao humorístico “Saturday Night Live” (e mudou a comédia na tevê)


O que pode ter acontecido nos bastidores da NBC, nos 90 minutos que antecederam a primeira transmissão ao vivo do anárquico Saturday Night Live? Provavelmente o caos reinava no estúdio, já que uma turma de comediantes, produtores e roteiristas incontroláveis preparava uma “revolução” na história da comédia na televisão americana.

É na bagunça total que o filme Saturday Night — A Noite que Mudou a Comédia aposta, ao resgatar o espírito irreverente com que o programa de esquetes foi criado. Reconstituindo alguns fatos com fidelidade e exagerando em outros aspectos, o longa é uma das atrações desta 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a ser encerrada em 30 de outubro.

O impacto do humorístico, que se tornou um fenômeno da TV, pela perspicácia de suas sátiras sociais, culturais e políticas, foi sentido logo na primeira transmissão. O programa foi ao ar em 11 de outubro de 1975, em uma noite de frenesi — mudanças de última hora, confusões, confronto de egos e uso de maconha, conforme relatos de “insiders”, ao longo dos anos.

E toda essa mitologia ao redor do primeiro sábado é bem aproveitada nessa homenagem ao programa assinada pelo cineasta Jason Reitman — mais conhecido por Juno, indicado em 2008 a três Globos de Ouro e a quatro Oscars (inclusive o de melhor filme). Ele mesmo foi um dos roteiristas convidados para criar um esquete para o episódio de Saturday Night Live, levado ao ar em 12 de abril de 2008.

O roteiro do filme Saturday Night (que é o nome original, já que o “Live” foi adotado apenas em 1977) foi escrito por Reitmam, em parceria com Gil Kenan, a partir de uma longa pesquisa.

Antes de reconstruírem, em tempo real, os eventos e toda a loucura daquela noite, a dupla conversou com todos os que puderam achar, entre os que participaram e testemunharam a realização do primeiro episódio.

O grupo de entrevistados incluiu Lorne Michaels, o criador que até hoje é um dos produtores executivos do programa — em 28 de setembro passado, a atração chegou à 50ª temporada nos Estados Unidos, figurando entre os mais antigos da história da TV.

Reitmam e Kanan também conversaram com vários roteiristas, atores, assistentes de produção, diretores de arte, desenhistas de produção e figurinistas.

E, graças aos depoimentos, o longa dá a impressão de que nem os próprios comediantes tinham a dimensão exata do que aconteceria na estreia. Até eles entrarem no ar, depois do Live From New York, It’s Saturday Night!, Michaels (interpretado aqui por Gabriel LaBelle) ainda não tinha um conceito sólido.

Inicialmente, a NBC só havia encomendado um programa de variedades para substituir as reprises do show de Johnny Carson. Mas, Michaels buscava algo moderno, com espírito avant-garde, voltado à geração que cresceu com a televisão.

Até o programa começar, ele só tinha diante de si, conforme o filme mostra, um quadro de cortiça tomado por pedaços de papel com o nome de cada uma das atrações.

Os cartões indicavam o que estava disponível naquela noite, em termos de monólogos, números de standup, sátiras de comerciais de TV, convidados musicais e outros esquetes, como o Weekend Update e uma apresentação de Jim Henson, com seus Muppets. Mas eles só representavam uma ideia, já que a maioria dos segmentos não havia sido testada, o que deu margem para muita improvisação.

É na bagunça total que o filme “Saturday Night — A Noite que Mudou a Comédia” aposta (Foto: Divulgação)

Como o filme mostra, até o programa começar, o diretor atração só tinha um quadro de cortiça tomado por cartões com o nome de cada uma das atrações (Foto: themodiedb.org)

O ator Gabriel LaBelle vive Michaels Lorne, criador do programa de TV (Foto: themoviedb.org)

Interpretado por Matt Wood, John Belushi esperou até o dia da estreia para assinar o contrato com a NBC (Foto: imdb.com)

O período que antecedeu a estreia também foi marcado por dificuldades técnicas, um princípio de incêndio e retoques de última hora, com assistentes finalizando cenários, atores fazendo a prova de roupas e perucas e comediantes escrevendo esquetes inacabados. A algazarra era tanta que o espectador não acredita que o programa entrará no ar no horário previsto.

Por ser um diretor de comédias, Reitman se permitiu revisitar os eventos carregando ainda mais nas tintas. Por exemplo, o roteirista Alan Zweibel (Josh Brener) foi mesmo contratado por Michaels, em uma noite em que trabalhava em clube de comédia, onde vendia piadas. Só que isso não aconteceu minutos antes da primeira transmissão, como sugere o filme.

Houve certo exagero também na narrativa de John Belushi (Matt Wood), um dos humoristas lançados no programa — o que aconteceria mais tarde com Tina Fey, Adam Sandler, Eddie Murphy, Will Ferrell, Amy Poehler, Maya Rudolph e Kristen Wiig, entre outros nomes.

Belushi realmente esperou até o dia da estreia para assinar o seu contrato —  sua hesitação é explicada pelo desprezo que ele sentia pela televisão.

Mas Reitman, para aumentar a tensão daquela noite, faz Belushi sumir do estúdio, deixando todos desesperados, já que ele participaria do quadro de abertura.

O comediante só foi encontrado por Michaels, patinando no gelo na pista do Rockefeller Center, com o show já prestes a começar. Tudo isso possivelmente para reforçar que Saturday Night Live escreveu a sua história abraçando também atrás das câmeras a anarquia que sempre imperou no palco.



Fonte: NeoFeed

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