A Future Climate quer financiar a descarbonização no Brasil. E abre operações no Oriente Médio e na Ásia

A Future Climate quer financiar a descarbonização no Brasil. E abre operações no Oriente Médio e na Ásia


A Future Climate mudou de nome (era Future Carbon) e de estratégia no primeiro semestre (deixou de focar em projetos de carbono para atuar em climate finance). Agora, a empresa de Fábio Galindo, ex-chairman da Aegea, está em busca de recursos no exterior para investir em projetos ligados à descarbonização no Brasil.

A antiga Future Carbon está abrindo operações nos Emirados Árabes Unidos e em Cingapura, de olho na demanda dos fundos soberanos do Oriente Médio e de investidores asiáticos por essas teses.

“O Brasil é um país que tem ativos e uma grande produção de projetos de carbono, mas neste momento o interesse e o capital estão fora do País”, afirma Fábio Galindo, fundador e CEO da Future Climate, ao NeoFeed. “Com esses escritórios, faremos a ponte entre os ativos ambientais brasileiros e o capital internacional.”

A escolha dos Emirados Árabes Unidos e Cingapura para abrigar representações da Future Climate não foi à toa. A Future Climate foi selecionada para integrar o Abu Dhabi Global Market (ADGM), um hub internacional de investimentos na capital dos Emirados Árabes Unidos, liderado pelo fundo Altérra, veículo do governo local que possui US$ 30 bilhões em recursos para investir em projetos que promovam a transição climática.

Cingapura, por sua vez, se tornou um dos principais hubs globais de mercado de carbono, estabelecendo as regulações internacionais para a compra e venda desse crédito no mercado internacional, além de ser um cluster de investimentos na Ásia Pacífico.

A abertura desses dois novos hubs, que se juntam ao escritório que a companhia possui em Londres desde outubro de 2023, tem o objetivo de conseguir recursos para os primeiros investimentos do braço financeiro, além de abrir caminho para a venda de créditos de carbono oriundo das companhias investidas.

A intenção da Future Climate é, através de captações e recursos próprios, atingir R$ 200 milhões nos próximos três anos para abastecer dois fundos a serem geridos pelo braço de gestão, principal novidade após a reestruturação.

O primeiro é um veículo de venture capital que vai investir em tecnologias de descarbonização para as indústrias como agronegócio e mineração. A Future Climate pretende também apoiar empresas com teses de restauração de florestas e pastagens, desde fornecedores de produtos para esse fim até aqueles que implementam esse serviço.

Nesta frente, Galindo diz que a Future Climate já negocia com três empresas e espera fechar os primeiros dois aportes até o fim do ano.

O crédito de carbono, mesmo com a mudança de estratégia, segue na pauta e é o tema do segundo fundo. Batizado de “2.0 Carbon Fund”, ele vai investir em projetos geradores desses ativos. O plano é receber esses créditos com deságio, para revendê-los e ganhar com o spread.

“Esse fundo visa a acelerar projetos que detém frameworks de alta qualidade”, diz o CEO da Future Climate. “Temos condições de diligenciar e conhecer projetos de alta qualidade, que tem prêmio de preço e maior liquidez no mercado internacional.”

Quando ainda se chamava Future Carbon, a empresa tinha como meta ter 10 milhões de hectares de florestas no País até 2032. A empresa entende que pode alcançar esse objetivo com mais rapidez financiando projetos de terceiros.

“Como desenvolvedor, nós conseguimos fazer 20, 30 projetos, mas como investidor, podemos acelerar, em três anos, uma média de 100 projetos”, afirma Galindo.

O plano é investir em 12 companhias e projetos geradores de carbono nos primeiros três anos, com os cheques variando conforme as necessidades específicas de cada investida.

“Não adianta ter R$ 2 bilhões em ativos sob gestão, para investir em teses de clima, se o que as empresas precisam é de R$ 2 milhões”, diz Galindo. “Precisamos fazer o seed, o angel, o série A, para preparar o ecossistema para esses bilhões. Não tem nenhum unicórnio verde.”

Fábio Galindo, CEO e fundador da Future Climate
Fábio Galindo, CEO e fundador da Future Climate

A gestora vai cobrar taxa de administração de 2% e de performance de 20%. Considerando todas as áreas de negócio da Future Climate, que incluem educação e consultoria, além do desenvolvimento dos projetos de carbono, a expectativa é de a empresa fechar o ano com uma receita de R$ 54 milhões, após faturar R$ 9,6 milhões no ano passado.

Nova direção

Cofundada por Galindo no fim de 2021, a Future Climate nasceu para ser um one stop shop do segmento de crédito de carbono, atuando desde a geração até a comercialização desses ativos.

Mas o avanço do tema da descarbonização fez com que a companhia percebesse que a demanda por projetos e iniciativas vai muito além apenas da venda de crédito de carbono.

Um estudo da consultoria Boston Consulting Group (BCG) apontou que o Brasil tem a oportunidade de atrair até US$ 3 trilhões em investimentos até 2050 e se tornar um hub global de soluções climáticas.

“Começamos como um desenvolvedor tradicional de projetos, com crédito de carbono, mas enxergamos que a grande oportunidade de aceleração da descarbonização é através do climate capital”, diz Galindo.

A mudança de estratégia levou a uma reestruturação societária. Galindo se tornou controlador da empresa, após adquirir a participação de um investidor externo. Ele passou de 46% para 80% do capital da empresa. Outros 18% estão nas mãos de alguns executivos e 2% estão com o apresentador Luciano Huck, que tinha 1% no início da empresa.

“Estamos criando uma plataforma financeira para, através de climate finance, olhar todas as avenidas de descarbonização da economia e naquelas mais conectadas com os interesses da demanda internacional”, diz Galindo.





Fonte: NeoFeed

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