A moda também é política – 26/07/2024 – Equilíbrio


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Críticas aos uniformes da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos 2024 destacam a complexidade da indústria da moda e sua relação com questões econômicas e identitárias nacionais.

As mulheres lutam por sua liberdade de vestirem o que quiserem desde o final do século 19, quando a moda era espartilhos e muitas camadas de roupa. Nesta época, o francês Paul Poiret revolucionou o mercado, desconstruindo os corsets e criando um vestuário feminino mais confortável.

Com a chegada da década de 1920, os vestidos com corte reto entraram em alta, trazendo uma liberdade que ainda não tinha sido vista na indumentária feminina. Foi nessa mesma época, que Gabrielle “Coco” Chanel desafiou as convenções tradicionais da época ao criar peças que zelavam por conforto e praticidade.

Além de colocar a calça como uma roupa que poderia ser usada por mulheres, ela investia em modelagens fluidas e agênero, com silhuetas soltas. Chanel é um dos grandes nomes da liberdade feminina dentro do mundo da moda.

Longe de babados e rendas, nos anos 1940, Christian Dior foi em busca de reforçar a feminilidade, criando o “New Look”. Dior apresentou uma coleção de roupas que focava na silhueta feminina de uma forma prática, dentro da visão masculina, com cinturas marcadas e saias godê, bem rodadas.

Diferentemente de Chanel, que era uma mulher e, de fato, usaria as roupas que criava, Dior queria trazer uma sofisticação que foi perdida no período pós-guerra. A criação de Dior acabou influenciado fortemente a moda até hoje.

Nos anos 1950, as saias e vestidos acima do joelho começaram a aparecer em coleções de alta costura, como Balenciaga e Yves Saint Laurent, quando o estilista trabalhava para a Dior. O que culminou em um aumento do estilo na década de 1960, com André Courrèges e Mary Quant, que fez a minissaia se popularizar.

As saias diminuíram e as calças passaram a fazer parte do guarda-roupa, coincidentemente com o aumento dos movimentos femininos nos anos seguintes. Os anos 1980 foram marcados por ombreiras e uma liberdade nas roupas. De lá para cá, é notável que as mulheres conquistaram certos espaços e podem vestir o que querem.

No entanto, vemos que a moda tem uma relação com movimentos políticos, puxando o viés para o lado feminino, como tracei acima. Essa pauta voltou ao foco nos últimos meses com as roupas que a delegação brasileira vai usar na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2024.

Esse tópico só virou pauta porque os trajes dos atletas foram criticados, o que joga uma luz de que debates sobre moda merecem destaque. As redes sociais foram tomadas por exemplos de indumentária de outros países, destacando o cuidado e a atenção aos detalhes que essas vestimentas receberam.

Juliana Lopes, consultora e coordenadora acadêmica de moda do Istituto Europeo di Design, cita que associar a simplicidade ou complexidade dos uniformes brasileiros a uma falta de seriedade na moda seria uma simplificação excessiva da indústria, que é vasta e complexa.

“Moda ser ‘levada a sério’ é uma discussão maior, precisamos levar em conta a economia brasileira, as taxas, os custos de produção, e tantos outros fatores. Em tempos de redes sociais as pessoas julgam muito rápido se gostam ou não”, afirma.

No entanto, temos que considerar também que além da moda entrar em segundo plano, por ainda não fazer parte de uma identidade nacional brasileira, quando estamos tratando de Olimpíadas, sabemos que há pormenores ainda mais sérios, principalmente em relação a como os atletas conseguem investimentos para chegarem nos jogos.

Li por aqui

A repórter Juliana Matias fez uma matéria sobre os comentários que os uniformes do Brasil estão recebendo por serem considerados simples e conservadores. A Riachuelo, que produziu os looks, diz que as roupas destacam a biodiversidade brasileira com cores alusivas à bandeira nacional e bordados de artesãs do Rio Grande do Norte. No entanto, especialistas de moda criticam a falta de conexão cultural das peças, já que os trajes parecem mais voltados ao mercado do que à celebração do evento olímpico.

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Já que o papo é moda, uma série que consegue explorar moda e diversos outros temas é “Sex and the City”, que recentemente entrou no catálogo na Netflix e também está disponível no Max. Apesar de alguns temas serem datados, devido ao contexto de época, ainda é uma produção que coloca em voga assuntos femininos e consegue debatê-los de uma forma não clichê.

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Fonte: Folha de São Paulo

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