Esta é a edição da newsletter Cuide-se desta terça-feira (26). Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo:
Em meio a tantos registros de violência sexual e de gênero no noticiário, escrevo sobre os efeitos que esses casos geram na saúde mental feminina.
Antes, um aviso: o texto contém informações acerca de violência sexual e estupro, que podem ser gatilho para algumas pessoas.
1 em 3 mulheres sofrem violência no mundo
Você pode estar se perguntando o que tema de violência contra a mulher tem a ver com uma newsletter de saúde, que aborda assuntos sobre como viver melhor. Os efeitos na saúde física e mental das mulheres explicam por que devemos falar sobre isso.
Os dados são do relatório mais recente da OMS (Organização Mundial da Saúde), de 25 de março.
As consequências à saúde da violência sexual e física incluem danos físicos, mentais, sexuais e reprodutivos que podem ser tanto de curto quanto longo prazo. As lesões corporais, o feminicídio e o suicídio são os efeitos de curto prazo mais conhecidos, mas elas também podem levar a danos mentais, como depressão, estresse pós-traumático, ansiedade, distúrbios para dormir, transtornos alimentares.
Outro ponto apontado pela OMS é que a violência sexual e física pode afetar também a saúde reprodutiva feminina, levando a uma maior ocorrência de gravidezes indesejadas, abortos espontâneos, partos prematuros, subnutrição infantil e infecções sexualmente transmissíveis (como HIV) que podem ser passadas aos bebês.
Danos à saúde física e mental
Um estudo publicado na revista The Lancet Regional Health mostra que foram identificadas 22 condições físicas e mentais associadas à violência sexual ou física. O risco de desenvolver um problema de saúde mental ou comportamental foi de 112% a 237% maior comparado com mulheres que não foram vítimas.
Houve também um risco elevado (de 46% a 83% maior) no desenvolvimento de doenças metabólicas, hematológicas (de sangue) e respiratórias entre as mulheres que sofreram abuso sexual.
Há também maior risco para desenvolvimento de sintomas associados à síndrome de estresse pós-traumático em vítimas de violência sexual, segundo um estudo com universitárias nos Estados Unidos.
Além de ansiedade, dificuldade para dormir e para se concentrar, o transtorno pode também se manifestar como medo constante, dificuldade em se relacionar com outras pessoas, solidão, comportamento autodestrutivo e até automutilação.
Uma pesquisa com 236 mulheres que sofreram abuso sexual em Israel por um parceiro ou ex-parceiro apontou que elas tinham mais propensão a ter uma relação negativa com a própria sexualidade após o evento. Além disso, elas apresentavam uma diminuição da motivação sexual no decorrer da sua vida, depressão e baixa autoestima após o evento de violência.
10 ações para combater a violência à mulher
A Organização das Nações Unidas para Mulheres (UN Women) lista dez ações voltadas para o combate à violência contra a mulher e de gênero.
São elas:
-
Escutar uma mulher quando ela conta a história dela. É o primeiro passo para interromper o ciclo de abuso; por isso, acreditar na palavra da mulher é fundamental;
-
Ensinar (e aprender) com os mais novos sobre respeito ao próximo, privacidade e direitos humanos e de gênero são passos importantes para acabar com a violência sexual e de gênero;
-
Pedir ajuda a serviços e organizações especializadas no atendimento à vítima. Elessão essenciais para garantir um espaço seguro para todas as pessoas que sofreram abuso sexual ou físico;
-
Entender o consentimento. Tudo que não for consentido, seja antes, durante ou após o ato sexual, é considerado abuso;
-
Aprender os sinais de abuso e como ajudar uma pessoa em vulnerabilidade;
-
Falar sobre abuso e violência sexual, já que o silêncio favorece a permanência do problema;
-
Se posicionar contra a ‘cultura do estupro’;
-
Apoiar organizações femininas: doações a grupos, coletivos e outras organizações voltadas ao combate à violência sexual e de gênero;
-
Tornar todas as pessoas socialmente responsáveis: a violência pode se manifestar de diversas formas e em diferentes espaços públicos, é importante se posicionar contra comentários sexuais inapropriados, assobios e piadas sexistas inaceitáveis;
-
Conhecer os números de violência doméstica e sexual e pedir mais ações aos governos e órgãos públicos.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis
CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR
Novidades e estudos sobre saúde e ciência
-
Depressão aumenta risco de doenças cardíacas em mulheres. Uma pesquisa publicada no Journal of the American Cardiology College: Asia encontrou um risco aumentado de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em mulheres com depressão comparado aos homens com o mesmo diagnóstico.
-
Vacinas da Covid não aumentaram risco de AVC. Segundo um estudo com mais de 11 mil veteranos americanos atendidos pelo Medicare, o plano de saúde financiado pelo governo, a vacina bivalente contra a Covid não esteve associada a um risco aumentado de AVC (acidente vascular cerebral). Já a infecção recorrente por Covid e o agravamento do quadro, ambos fatores que podem ser prevenidos pela imunização, podem aumentar a ocorrência de AVCs. A pesquisa foi publicada na revista Jama.
-
Humanos passam mais vírus aos animais do que o contrário. Um estudo conduzido por pesquisadores da University College de Londres, na Inglaterra, encontrou que a quantidade de vírus que os seres humanos passam para animais de criação e selvagens é maior do que os patógenos de origem animal que podem nos infectar. A pesquisa, publicada na revista Nature Ecology & Evolution, joga luz no estudo de zoonoses, nome dado a doenças transmitidas por animais, e tem potencial de prevenir surtos e infecções.