Apesar dos M&As serem o carro-chefe da assessoria de investimentos Araújo Fontes (AF), as operações de reestruturação de dívida e captações de crédito ganharam espaço no portfólio de 2024. No ano, foram realizadas 39 transações de dívida, totalizando R$ 3,7 bilhões movimentados – um volume 85% maior do que no ano anterior.
Com a taxa Selic em 12,25% ao ano e com duas altas contratadas de mais 1 ponto percentual cada, segundo o Copom, o cenário para 2025 indica que as receitas da assessoria mineira devem continuar concentradas nesse tipo de estrutura.
“Com o momento econômico, a ‘coragem’ do empreendedor tende a reduzir, enquanto questões como a reestruturação de dívida começam a parecer mais tangíveis, apesar do alto custo do capital”, diz Evaldo Fontes, sócio-fundador da Araújo Fontes, ao NeoFeed.
“Em grande parte, essas empresas são boas pagadoras, mas sofrem com as dívidas de curto prazo, o que é resolvido com o alongamento”, complementa.
No início de dezembro, a AF finalizou uma operação para a Itaipu Transformadores. A empresa realizou uma captação de R$ 350 milhões por meio de uma linha de crédito liderada pelo Bradesco e pelo Citi, com o intuito de alongar suas dívidas e fazer uma nova aquisição.
Com o dinheiro, a empresa comprou a Pextron, um sistema para geração distribuída de energia elétrica, que integrará as outras cinco aquisições realizadas pela companhia nos últimos dois anos – o valor da transação não foi informado.
“Desde 2021 nós dobramos o tamanho da companhia e, com esse crescimento, passamos a precisar de mais crédito para gerenciar o caixa e nossa expansão”, afirma Reno Bezerra, sócio e CEO da Itaipu.
“Com o alongamento das dívidas e mais capital de giro, nós poderemos continuar a crescer cerca de 25% ao ano”, complementa.
Segundo Leonardo Teixeira, sócio-diretor da Araújo Fontes, a captação da Itaipu foi atrativa para o mercado. Foram realizadas apresentações para 15 instituições financeiras, que resultaram em quase R$ 1,2 bilhão em crédito aprovado para a companhia.
Com um interesse quase cinco vezes maior do que a demanda inicial, a companhia conseguiu reduzir o spread em 50%. “Em razão da alta procura, nós aumentamos a captação de R$ 250 milhões para os R$ 350 milhões finais, sendo R$ 250 milhões tomados pelo Bradesco e os R$ 100 milhões restantes provenientes do Citi”, diz Bezerra.
Além da Itaipu, a AF assessorou a AVG Empreendimentos Minerários no processo de captação de recursos no valor de R$ 330 milhões, apoiou a Cedro Têxtil ao levantar R$ 160 milhões e também suportou a Empresa de Mineração Esperança (EMESA) na captação de R$ 170 milhões.
“Nós chegamos ao terceiro ano seguido de taxas de juros alta, o que significa que aquela empresa que estava bem no começo desse período, hoje se encontra em uma situação média. A que estava média, hoje está em uma situação ruim… e a que já estava ruim entrou para as estatísticas de recuperação judicial”, afirma Teixeira.
Fusão é logo ali
Especializada em fusões e aquisições, a AF realizou 11 transações ao longo de 2024. Tecnologia e mineração foram responsáveis por grande parte desses negócios. Um dos exemplos das movimentações assessoradas pela empresa mineira foi a venda da BMG Seguros para a seguradora do Banco Daycoval.
Ao todo, a assessoria mineira ajudou a movimentar R$ 3 bilhões em M&As neste ano. Até outubro deste ano, foram anunciados R$ 195 bilhões em operações de fusões e aquisições no Brasil, um montante 56% superior ao realizado no mesmo período de 2023, de acordo com dados da consultoria Dealogic.
“Apesar do momento não incentivar o apetite dos investidores, 2024 foi um ano muito bom para quem soube analisar o mercado e encontrar bons ativos a preços atrativos”, afirma Teixeira.
“Muitas companhias procuraram por sócios, aceitando um valuation menor, em busca de crescimento do negócio, o que trouxe boas oportunidades ao mercado”, complementa.