A Gol tem enfrentado o ceticismo dos investidores em meio a uma série de problemas que estão encaminhados na recuperação judicial. O desempenho das ações no ano, acumulando queda de 87,8%, levando o valor de mercado a R$ 433 milhões, confirma o mau humor do mercado com a empresa aérea.
No entanto, na quinta-feira, 3 de outubro, a companhia recebeu boa notícia. O BB Investimentos decidiu elevar a recomendação para as ações da companhia de venda para neutro, com preço-alvo de R$ 1,20, acima de R$ 1,10 que o BB tinha em maio – o papel GOLL4 tem sido negociado na casa de R$ 1.
Apesar da melhora de visão, o analista Luan Calimério destacou em seu relatório que a decisão “não configura um otimismo em relação à companhia”.
Segundo ele, a mudança de recomendação foi decidida a partir da avaliação de que, se a saída da recuperação judicial se concretizar e o desempenho operacional se desenvolver conforme esperado, “as despesas financeiras serão aliviadas e o desempenho econômico-financeiro será equacionado”.
“Este é nosso cenário base e, adicionalmente, o cenário que acreditamos estar embutido no preço da ação”, diz trecho do relatório. “Não descartamos a possibilidade de um cenário adverso, porém, acreditamos haver menos espaço para downside hoje do que havia no passado.”
O cenário do BB Investimentos considera que a Gol conseguirá fazer uma reestruturação bem sucedida, ainda que o cenário contrário seja uma “possibilidade concreta”. Para isso, a companhia fará uma captação de US$ 2 bilhões em dívida e de US$ 1,5 bilhão em novas ações até o final de 2025, o que seria suficiente para liquidar o DIP (debtor in possession) para refinanciar parte das dívidas da companhia e reforçar seu caixa.
A operação não virá sem custos aos acionistas. Segundo o analista, este cenário resultará na diluição de mais de 95% da atual base.
No lado operacional, o BB Investimentos considera que a Gol deve aproveitar um cenário mais benigno, considerando uma expectativa de aumento da oferta no mercado internacional, com uma ocupação média de 83,8% das aeronaves, e uma recuperação gradual da oferta no mercado doméstico, com ocupação média de 82,7% das aeronaves.
A companhia também vem ajustando as operações. Com a chegada de novas aeronaves, a Gol deve conseguir fazer uma redução do consumo de combustível, ainda que levemente, de 28 para 27 litros por ASK (assentos-quilômetro oferecidos, o múltiplo que considera o número de assentos disponíveis multiplicado pelos quilômetros voados).
“Adicionalmente, consideramos evolução estável do yield em patamar médio de 3%, o que implicaria em uma capacidade de repasse de, pelo menos, parte da inflação projetada nas tarifas”, diz trecho do relatório.
O BB Investimentos projeta uma receita líquida de R$ 18,3 bilhões e R$ 22,3 bilhões entre 2024 e 2025, com uma taxa anual de crescimento composta (CAGR, na sigla em inglês) de 9,04% nos dois anos.
A Gol deve registrar um Ebitda de R$ 4,3 bilhões neste ano e de R$ 6,3 bilhões no próximo, um CAGR de 11,8%, e um lucro líquido de R$ 875 milhões e R$ 710 milhões em 2024 e 2025, o que levaria a companhia a uma margem Ebitda de 23% e 28%, respectivamente.
Sobre o plano de negócios para os próximos cinco anos, que envolve pontos como investimentos em motores para recuperar aeronaves a condições operacionais, crescimento de frota e expansão da malha aérea, o BB Investimentos avalia que a maior parte das metas deve ser alcançada em 2025.
“Para além desse prazo, mesmo com o direcionamento da companhia, entendemos que existe pouca visibilidade para projeção”, diz trecho do relatório.
Por volta das 11h10, as ações preferenciais da Gol subiam quase 2%, a R$ 1,04.