Em meio a um amplo plano de reestruturação, o Bradesco divulgou seu resultado do segundo trimestre nesta segunda-feira, 5 de agosto. Essa agenda não previa, claro, o cenário de fortes quedas nas bolsas de valores em todo o mundo desde as primeiras horas do dia, diante do temor de recessão nos Estados Unidos.
Até aqui, porém, os papéis do banco parecem estar à parte desse “caos”. Depois de abrirem o dia com ligeira alta de 0,4%, as ações preferenciais do Bradesco registravam alta de 6,11% na B3, por volta das 12h38, cotadas a R$ 13,30, dando à empresa um valor de mercado de R$ 133,4 bilhões.
“É uma reação absolutamente extremada”, disse Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, em conversa com jornalistas, sobre a reação do mercado em relação aos EUA. “Até alguns dias, havia a expectativa de que o FED pudesse mexer nos juros. E havia essa dúvida porque a atividades nos EUA está colossal. A economia americana está bombando.”
Na contramão dessa resposta “extremada”, a reação positiva ao balanço Bradesco se explica, em boa medida, por alguns indicadores que confirmaram e reforçaram os primeiros sinais de recuperação que já haviam sido enviados há três meses, no resultado do primeiro trimestre.
Entre abril e junho, o banco apurou um lucro líquido recorrente de R$ 4,71 bilhões, o que representou um avanço de 4,4%, em base anual, e de 12% na comparação com o primeiro trimestre do ano. O valor veio acima das projeções, que apontavam para a faixa de R$ 4,3 bilhões.
Já a rentabilidade sobre o patrimônio (ROAE) veio no patamar de 10,8%, uma queda de 0,1 ponto percentual sobre igual período, um ano antes, mas uma ligeira alta de 0,6 ponto percentual em relação ao intervalo de janeiro a março desse ano.
Apesar do recuo, em base anual, de 5,9%, houve avanços também na margem financeira, um dos indicadores que o mercado vem olhando com atenção e que, com R$ 15,6 bilhões, apresentou uma expansão de 2,8% sobre o primeiro trimestre.
Da mesma forma, a margem com clientes caiu 8,4%, ano contra ano, mas registrou um crescimento de 5% ante o primeiro trimestre. Esse pacote de bons sinais ganhou ainda o reforço dos avanços na carteira de crédito expandida.
Entre os números nesse espaço, o Bradesco registrou uma expansão anual de 5% e trimestral de 2,5%, para R$ 912,1 bilhões. O segmento de pessoa física avançou 5,7% e 2,5% nessas mesmas bases, para R$ 381,8 bilhões.
No trimestre, o segmento de pessoas jurídicas avançou 4,5% anualmente e 2,5% trimestre contra trimestre, para R$ 530,3 bilhões. Em micro, pequenas e médias empresas, o crescimento anual foi de 10,2%, para R$ 184 bilhões e, em grandes empresas, de 1,7%, para R$ 346,2 bilhões.
A inadimplência acima de 90 dias ficou em 4,3%, o que representou uma melhora de 1,4 ponto percentual na comparação anual e de 0,5 ponto percentual no trimestral. A provisão para devedores duvidosos (PDD) foi de R$ 7,3 bilhões, um recuo anual de 29,3% e de 6,7% sobre o trimestre anterior.
Já a receita de prestação de serviços, a expansão anual foi de 6,4% e a trimestral de 5,1%. Enquanto as despesas operacionais, na casa de R$ 14,5 bilhões, representaram uma alta anual de 8,3% e trimestral de 10,6%.
“Estamos crescendo a carteira sem nenhum desvio ou aceleração maior do que devia, com um bom mix e chamando menos PDD”, afirmou Noronha. “Havia uma dúvida dos analistas se teríamos tração para conseguir virar. Estamos provando que sim e crescendo em todos os segmentos”.
Ao ressaltar que parte da melhora no avanço da carteira de crédito e na recuperação das margens começou a se materializar com maior propriedade em junho, ele observou que a expectativa é de que essa captura ganhe mais aceleração a partir do terceiro trimestre.
Noronha também aproveitou para reforçar o guidance do banco para o ano. Em especial, a expectativa de entregar um lucro líquido acima do resultado implícito nas projeções do banco, que apontam para a faixa de R$ 28,1 bilhões a R$ 34,8 bilhões.
“Tenho convicção de que vamos entregar esse lucro implícito. Vai ser daí para cima”, afirmou Noronha. Ele ressaltou que as ações do banco ainda estão sendo negociadas com um grande desconto, mesmo com o rali de hoje.
“Mas isso é natural. Enquanto não entregarmos um ROAE melhor, seremos questionados. Faz parte do jogo”, afirmou ele. “Seguiremos passo a passo. Temos que nos provar trimestre a trimestre e é isso o que estamos fazendo.”
No que diz respeito ao Goldman Sachs, o Bradesco, em linhas gerais, parece ter passado no teste do trimestre. Em relatório, o banco destacou que indicadores como a margem do cliente, a qualidade dos ativos e o ROAE no maior nível desde o terceiro trimestre de 2022 mostram “tendências positivas”.
Segundo os analistas do Goldman Sachs, que têm recomendação neutra e preço-alvo da ação de R$ 14, o principal motor por trás dessa última frente foi a redução observada nas provisões para devedores duvidosos.