A Vulcabras fechou o primeiro trimestre com um faturamento de R$ 707,5 milhões, um crescimento de 6% em comparação ao mesmo período do ano passado. Esse é o 15º trimestre consecutivo de expansão da receita da dona da Olympikus e detentora das marcas Mizuno e Under Armour.
O lucro líquido recorrente foi de de R$ 88,8 milhões, aumento de 6,2% em base anual. A receita operacional líquida avançou 4,6%, para R$ 597,3 milhões, e o Ebitda subiu 4,7%, a R$ 122,4 milhões.
Mas manter o pace desse resultado não foi, nem será, simples. Os primeiros três meses do ano foram marcados por um cenário macroeconômico que prejudicou o consumo. Além disso, a companhia teve que lidar com a concorrência promovendo fortes movimentos de liquidação de produtos, exportações baixas para a Argentina e os efeitos da tributação de incentivos de ICMS, aprovado no ano passado.
Esses fatores não devem aliviar tão cedo, segundo Wagner Dantas, CFO da Vulcabras. Por isso, a palavra de ordem na companhia é de preservação das margens, com a prioridade sendo consolidar os ganhos de rentabilidade que obteve nos últimos dois anos do que buscar expansão.
“Não vamos buscar um tamanho insustentável de receita que nos leve a entrar numa espiral de destruição de valor”, diz Dantas ao NeoFeed. “Estamos muito felizes em crescer há 15 trimestres consecutivos, mas hoje a nossa prioridade é rentabilidade e manutenção das margens.”
Segundo ele, a empresa não vai buscar ganhar mercado a qualquer custo, fazendo cortes de preços e promoções para aumentar volume de vendas e ter um ritmo de crescimento da receita na casa dos dois dígitos, como foi visto nos últimos dois anos – em 2023, a receita líquida cresceu 11,1% e avançou 36% em 2022.
“Não vamos desenvolver uma estratégia para crescer nesse mesmo ritmo, em cima de um mercado liquidado, em que o consumo não está crescendo dessa forma, um mercado desafiador”, diz Dantas. “No nosso ranking de prioridades, se tiver que tomar uma decisão para preservar margens ao invés de fomentar crescimento, vamos priorizar margens.”
Planos
Isso não significa que a Vulcabras vai abandonar seus planos de crescimento. A companhia mantém a pretensão de crescer na parte de moda esportiva, naquilo que ficou conhecido como athleisure, como também em colocar os pés no varejo físico, depois de consolidar o portfólio em produtos esportivos.
Novo mercado para a Vulcabras, a moda esportiva segue no foco da empresa, que dedicou uma equipe no centro de desenvolvimento e tecnologia da companhia, que fica em Parobé, no Rio Grande do Sul, para criar produtos para o segmento, que deve começar a ganhar espaço na receita. Questionado sobre quanto pode representar no faturamento, Dantas não quis dar números, nem prazos.
Segundo ele, a companhia está trazendo para o Brasil uma coleção de tênis de moda esportiva da Mizuno e já vê bons sinais de demanda. “Vendo isso, estamos estudando nacionalizar, produzir localmente alguns modelos”, afirma. “É uma categoria que promete no médio prazo e a gente segue com os investimentos e apostas.”
No caso de aumentar a presença no varejo físico, uma frente que a companhia já informou que pretende buscar, Dantas diz que a Vulcabras deve apostar no crescimento inorgânico, trazendo o know-how para a operação.
O plano é encontrar um operador de varejo físico para abrir lojas mono brand da Under Armour, como parte de uma estratégia de ampliar o conhecimento do público em relação à marca. “Precisamos de expertise nesta frente, que não temos dentro de casa, e nem queremos correr o risco de desenvolver organicamente, para não perder o foco naquilo que já fazemos bem”, diz.
Ainda que o foco seja crescer inorganicamente no varejo físico, Dantas diz que não está descartado criar internamente essa frente, caso a companhia não encontre nomes que a interessem.
Seria o mesmo movimento que a Vulcabras fez no e-commerce, canal que registrou crescimento de 52,3% de receita no primeiro trimestre, para R$ 77,2 milhões, representando quase 13% do total da receita, crescendo 4 pontos percentuais em base anual.
Sobre M&As para agregar novas marcas, Dantas diz que não tem nada no momento, mas segue avaliando nomes que possam complementar o portfólio de artigos esportivos, sem voltar para moda feminina ou moda casual. E aqui, novamente, entra a questão da disciplina, para não perder rentabilidade.
“Apesar do apetite por fazer mais negócios, temos uma disciplina, uma cultura, uma preocupação muito grande em não fazer qualquer negócio”, diz Dantas. “Não queremos tomar nenhum passo precipitado.”
Empresa com origem no Rio Grande do Sul, a Vulcabras não vê suas atividades sendo prejudicadas pelas fortes chuvas que atingem o Estado, considerando que não representa uma fatia relevante nas vendas e o fato de suas duas fábricas ficarem no Nordeste, no Ceará e na Bahia. Sobre o centro de desenvolvimento em Parobé, ele diz que a estrutura não foi prejudicada, com as operações mantidas.