Autoridades de saúde alertaram na quarta-feira (1º) sobre o potencial risco de gripe aviária do leite não pasteurizado, embora o risco para o público geral, dizem, seja baixo.
“Continuamos a aconselhar fortemente contra o consumo de leite cru”, disse Donald Prater, diretor interino do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada da FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos nos EUA), em uma entrevista coletiva.
O leite cru, mesmo nos melhores momentos, “é um dos alimentos mais arriscados que temos”, disse Benjamin Chapman, professor e especialista em segurança alimentar na Universidade Estadual da Carolina do Norte. Mas com casos de gripe aviária detectados em vacas leiteiras, os especialistas em saúde alertam que poderia ser ainda mais arriscado agora.
Quase todo o leite vendido em lojas é pasteurizado, e testes realizados pela FDA até agora mostraram que esse processo inativa o vírus da gripe aviária H5N1.
Se você está consumindo leite ou produtos lácteos pasteurizados, “é certo que o risco é extraordinariamente baixo neste momento”, explica Dean Blumberg, chefe de doenças infecciosas pediátricas na UC Davis Health, na Califórnia.
Por outro lado, o leite cru não é pasteurizado e pode conter agentes infecciosos perigosos. Embora a FDA tenha recomendado há muito tempo que os consumidores evitem bebê-lo, mais de duas dezenas de estados americanos legalizaram a venda de leite cru.
As mesmas bactérias que comumente causam doenças transmitidas por alimentos, como salmonela, Escherichia coli e listeria, podem proliferar no leite cru. Entre 1998 e 2018, pesquisadores associaram mais de 200 surtos, que adoeceram 2.645 pessoas e levaram a 228 hospitalizações, ao leite cru.
Pessoas muito jovens ou muito idosas, grávidas ou com sistemas imunológicos comprometidos têm maior probabilidade de ficar gravemente doentes pelos patógenos no leite cru, disse Darin Detwiler, especialista em segurança alimentar e professor na Faculdade de Estudos Profissionais da Universidade Northeastern.
É possível pegar gripe aviária do leite cru?
Rosemary Sifford, administradora adjunta de serviços veterinários do Departamento de Agricultura, disse na última quarta-feira (1º) que testes encontraram uma “alta carga viral” no leite cru de vaca e que autoridades federais acreditam que a principal forma como o vírus está se espalhando entre as vacas é através do contato com o leite. As agências governamentais continuam a testar amostras de rebanhos afetados, de acordo com a FDA.
Pesquisadores e autoridades de saúde não têm certeza se a gripe aviária pode se espalhar do leite cru para os humanos.
“Não há uma quantidade tremenda de estudos mostrando a infectividade relacionada a este vírus e produtos lácteos crus”, disse Prater. Mas, segundo ele, as agências continuam a monitorar a questão à medida que novas pesquisas surgem.
Na quarta-feira, a FDA disse que “recomenda que a indústria não fabrique ou venda leite cru ou produtos lácteos crus”. A agência também recomendou que os produtores descartem o leite de vacas afetadas e pasteurizem o leite cru de gado exposto antes de alimentá-lo aos animais.
Alguns pesquisadores acham improvável que a gripe aviária possa se transmitir aos humanos através do leite cru. Para Meghan Davis, veterinária e epidemiologista ambiental na Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins, há uma preocupação em relação a essa possibilidade, em parte porque gatos em fazendas leiteiras foram infectados pelo vírus.
Em um estudo publicado na segunda-feira, pesquisadores descreveram um grupo de cerca de duas dezenas de gatos que foram alimentados com leite cru de vacas com gripe aviária em uma fazenda leiteira do Texas. Mais da metade dos gatos ficaram doentes e morreram; dois dos gatos falecidos foram testados e descobriu-se que estavam infectados com o vírus. É possível que tenham adoecido ao comer pássaros selvagens, mas o leite cru foi “uma rota de exposição provável”, escreveram os pesquisadores.
Blumberg observou que outros vírus da gripe que normalmente afetam os humanos podem se espalhar se as pessoas tocarem superfícies contaminadas com o vírus e depois tocarem suas bocas, narizes ou olhos. A gripe aviária pode se espalhar de forma semelhante, disse ele, incluindo o manuseio ou consumo de leite cru ou queijo contaminado como possíveis vias de transmissão.
Apenas dois casos de gripe aviária em humanos foram relatados nos Estados Unidos desde 2022; ambas as pessoas foram expostas a animais infectados e tiveram doenças leves. Mas o vírus causou doenças graves em humanos no passado, disse Blumberg.
E quanto aos queijos feitos de leite cru? E ao leite de cabra?
Alguns processos de fabricação de queijo podem envolver temperaturas e pressões mais altas, que poderiam inativar o vírus no leite cru, disse Davis. Outras etapas, como o envelhecimento, também poderiam afetar a sobrevivência do vírus. Mas neste estágio, Davis disse, é difícil saber quão arriscado um determinado queijo de leite cru pode ser.
Também vale a pena ter cautela com produtos lácteos crus de cabras ou ovelhas, disse Davis. A gripe aviária foi detectada em cabritos jovens em uma fazenda de Minnesota em março, e embora ainda não tenham sido relatados casos em ovelhas, é plausível que elas possam contrair o vírus também, acrescentou.
Quão difundido está o vírus?
Até 27 de abril, o Departamento de Agricultura dos EUA confirmou casos de gripe aviária em vacas leiteiras em nove estados. Mas só porque o vírus não foi relatado em um estado não significa que ele não esteja lá, disse Davis. A FDA relatou ter encontrado fragmentos inativos do vírus em cerca de 20 amostras de leite pasteurizado de todo o país, sugerindo que o vírus se espalhou mais do que os testes em animais indicaram, disse ela.
“Ainda não temos uma boa compreensão de quão difundido está”, disse Davis.
Como as aves selvagens podem espalhar o vírus, pequenas fazendas podem ser afetadas assim como as grandes, disse ela.
“A abordagem de precaução seria evitar produtos lácteos crus” por enquanto, disse Davis. “Temos tantas incógnitas.”
Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.