Em 2010, Luiz Eduardo Batalha resolveu cultivar oliveiras em parte de suas fazendas de soja e de gado no Rio Grande do Sul. “Decidimos aproveitar as piores áreas, aquelas mais acidentadas e com terra pedregosa”, lembra ele, em conversa com o NeoFeed. Naquelas terras, 3 mil hectares nas cidades de Pinheiro Machado e de Candiota, os pés de oliva frutificaram — e como produziram!
Hoje, a marca de azeites Batalha é a maior do Brasil. Em 2023, enquanto os grandes produtores globais, na Espanha, na Itália e em Portugal, enfrentavam a pior crise de sua história, o empresário colheu sua safra recorde — 200 mil litros.
“Corresponde a um terço do volume produzido por todos os produtores brasileiros em conjunto”, orgulha-se, baseado em dados do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), cujo conselho administrativo ele preside.
O sucesso do azeite motivou o empresário de 77 anos a investir R$ 50 milhões em um complexo turístico, o Terroir 31. Previsto para ser inaugurado em 2026, o projeto ocupa 50 hectares da propriedade de Candiota.
Em meio ao olival e quatro lagos, contará com um hotel, formado por 40 bangalôs, e condomínio residencial, com 52 casas.
Os preços ainda não foram fechados. “Calculo um terço do que é cobrado pela Fazenda Boa Vista”, especula Batalha, referindo-se ao sofisticado empreendimento no interior de São Paulo, sede também de uma unidade do Fasano.
Lá, os imóveis custam entre R$ 11 milhões e RS$ 45 milhões.
No Terroir 31, há três modelos de casas de 180 metros quadrados (m²), 280 m² e 500 m², em terrenos de 1 mil m², 2 mil m² e 3 mil m², respectivamente.
O lagar, onde os azeites Batalha são produzidos, será prolongado para abrigar o restaurante do hotel. A empresa responsável pela operação hoteleira ainda não foi decidida, mas o empresário, como conta, está conversando com algumas bandeiras. Em último caso, ele próprio se encarregará do trabalho.
Experiência não lhe falta. Foi Batalha quem criou o Hotel Estância Barra Bonita, no interior paulista, e o Aguativa Resort, em Cornélio Procópio, a 55 quilômetros de Londrina, no Paraná.
“Pé no freio”
Por causa da tragédia trazida pelas enchentes no Rio Grande do Sul, como diz Batalha, “foi preciso colocar o pé no freio”.
O início da venda das casas, programado para setembro deste ano, foi adiado — o que, provavelmente, só acontecerá a partir de fevereiro de 2025.
O aeroporto mais utilizado por quem visita a região, o de Pelotas, a cerca de 130 quilômetros, reabriu recentemente, depois de cerca de duas semanas fechado. O de Bagé, a 77 quilômetros, está em reforma.
Apostando na recuperação do Rio Grande do Sul, Batalha mantém o resto do cronograma sem alterações.
Os temporais não prejudicaram a produção de azeite, já que as azeitonas já haviam sido colhidas. “Desde que não seja na época de floração, em setembro, o excesso de chuvas não é um problema”, explica o empresário.
Prejuízos com a produção de soja, no entanto, são dados como certos — a calamidade antecedeu a época da colheita do grão.
Um dos trunfos dos terrenos utilizados para a produção dos azeites Batalha é a característica pedregosa do solo, que favorece o escoamento da água da chuva.
A inclinação também ajuda e não se mostra um problema para a colheita porque esta é feita manualmente. As baixas temperaturas da região também contam a favor — para a produção de boas azeitonas, as áreas mais indicadas são as que registram pelo menos 400 horas abaixo de 7 °C, por ano.
Atualmente, por culpa da quebra histórica na safra europeia de azeitonas, os preços dos azeites vêm registram uma escalada de preços sem precedentes, no mundo todo. Com isso, aumenta a procura pelos produtos nacionais.
“Não tenho produto suficiente para assumir compromissos com novas redes”, revela Batalha, fornecedor de supermercados como o Pão de Açúcar e grupos como a CiaTC, dona da pizzaria Bráz e dos bares Pirajá, entre outras marcas.
Os produtores brasileiros, via de regra, se limitam ao segmento premium e à variedade extravirgem, o que tem levado muitos de nossos azeites aos rankings de melhores do mundo.
Na edição de 2023 do Ranking Mundial dos Azeites Extravirgens, o Brasil ascendeu à 6ª colocação. Na edição de 2022, o Brasil ficou em 11º.
“Estamos vendendo Mercedes-Benz e a Europa, Volkswagen”, alfineta Batalha, cujos azeites colecionam algumas medalhas em concursos internacionais.
Em 2024, ele sonha com uma safra ainda maior, de 250 mil litros.
Batalha, mas a farroupilha
O empresário costuma ter um tino apurado para os negócios. Na década de 1990, quando morava em Miami, nos Estados Unidos, caiu de amores pelo Burger King (BK).
Em função de experiências traumáticas na Argentina e na Colômbia, a rede de fast-food não pensava em vir para o Brasil. Vislumbrando ali uma oportunidade e tanto, Batalha convenceu o BK a nomeá-lo como franqueado máster.
E, assim, a primeira unidade da lanchonete foi inaugurada em 2004. Em 2012, depois de abrir 69 lojas, ele deu adeus ao negócio, quando o controle da companhia americana foi adquirido pelo 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Depois da compra, o fundo abocanhou as unidades de Batalha para dar início a um plano de expansão agressivo em terras brasileiras, onde atingiu a marca de mais de 800 unidades.
“Eu teria continuado com o Burger King a vida toda”, diz ele, acrescentando que só costuma investir em negócios com potencial para atrair compradores — seja em caso de sucesso ou de fracasso. “Não vejo sentido em um negócio que, caso dê errado, ninguém vai querer comprar.”
É o que faz de Batalha um empresário destemido. Tanto que ele decidiu incorporar a vinícola vizinha à propriedade de Candiota ao complexo Terror 31. Comprada do empresário Gilberto Pozzan, por uma daquelas felizes coincidências do destino, a fazenda já fora batizada Batalha.
Batalha por causa da batalha do Seival. Ocorrida em 1836, na região, foi o combate mais importante da Revolução Farroupilha.
Em razão do nome, ele já havia tentado comprar a vinícola por diversas vezes. Agora conseguiu, o que fará dele dono dos azeites e vinhos Batalha e também um empresário do enoturismo.