No momento em que os ativos brasileiros passam por uma intensa turbulência, levando muitos investidores a olharem para o exterior em busca de oportunidades, a Gama Investimentos fechou uma parceria com o Itaú Unibanco para trazer ao País um fundo de small e middle caps dos Estados Unidos de um gestor que trabalhou gerindo os recursos do lendário Peter Lynch.
Agora, os clientes do Itaú Private Bank, que contam com R$ 10 milhões em investimentos no banco, podem investir na estratégia de ações americanas da Portolan Capital Management, gestora que conta com mais de US$ 1,4 bilhão sob gestão.
Com o S&P 500 nas máximas históricas, puxado pelas Big Techs, que surfam o otimismo oriundo da Inteligência Artificial (IA), a Gama vê no fundo uma oportunidade de oferecer diversificação e complementação para aqueles que querem aproveitar o dinamismo da economia americana e o “Trump trade”, com muitos analistas vendo a eleição de Donald Trump como positiva para essas ações.
“A dispersão [de valuation] entre as large caps e as mid e small caps está num dos maiores patamares em quase 20 anos”, diz Bernardo Queima, CEO da Gama, ao NeoFeed. “E o fundo é uma opção num mercado para o qual pouca gente no Brasil está olhando, enquanto lá fora está ganhando atenção, por conta do Trump, do Make America Great Again, e do reshoring.”
O Portolan Equity Strategy Seleção, fundo espelho que será disponibilizado inicialmente para os clientes do Itaú Private, é um fundo hedgeado que investe em empresas com valor de mercado entre US$ 100 milhões e US$ 3 bilhões.
Seu portfólio conta com cerca de 100 nomes, divididos entre posições de longo prazo de maiores convicções, que representam dois terços do patrimônio, e novas posições e reciclagem de capital, que correspondem a um terço. Entre os setores em que investe estão os segmentos de saúde, comunicação, consumo e tecnologia.
Focada em small e mid caps, a Portolan Capital Management foi fundada em 2004 por George McCabe, que foi gestor da parte de equities da Lynch Foundation e do family office de Peter Lynch, que fez fama ao longo dos quase 13 anos em que ficou à frente do Magellan Fund, da Fidelity.
No período, o fundo apresentou uma valorização de 2.700%, superando o desempenho do S&P 500 em praticamente todos os anos, menos em dois, a partir do estilo de gestão ativa de Lynch e seu profundo conhecimento sobre os ativos, que pode ser resumido pelo slogan “compre aquilo que você conhece”.
A estratégia do fundo da Portolan segue por esse caminho e vem gerando resultados. O fundo apresentou um retorno acumulado no ano de 32,8% contra 20,5% do benchmark, o índice Russell 2000, que vem em alta desde a vitória de Trump sobre o presidente Joe Biden.
“Está começando um ciclo de alívio monetário nos Estados Unidos, mas os preços das ações estão nas máximas”, diz Queima. “Ficar contra o bonde americano não é das coisas mais prudentes, mas tem outras oportunidades nos Estados Unidos? Foi esse o questionamento que a gente fez, e quando começamos a olhar, vemos que tem o trade de small e mid caps.”
Em entrevista ao NeoFeed em setembro, antes do chamado Trump trade ganhar força, McCabe, da Portolan, destacou que a relação entre preço e lucro das Big Techs está esticada e que essas companhias estão pressionadas a entregar resultados crescentes, sob o risco de grandes correções.
Por outro lado, as small e mid caps, que ficaram escanteadas no mercado, com o gestor destacando que elas passaram a registrar resultados positivos nos últimos trimestres, além de estarem altamente descontadas.
Mesmo destacando a necessidade de ser seletivo na escolha dos ativos, McCabe afirmou que não faltam opções. “É uma oportunidade estrutural e acreditamos que essa é a hora de se posicionar”, disse McCabe na entrevista.
Renda fixa e private equity
O fundo da Portolan é o terceiro oriundo da parceria firmada em 2020 entre Gama e Itaú. Antes, a gestora e o banco disponibilizaram aos investidores o multimercado Amundi Bridgewater Core Global Macro e o fundo de crédito privado Oaktree Global Credit.
Com R$ 5,3 bilhões em ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês), a Gama avalia que a renda fixa deve continuar sendo representativa na captação, algo que foi visto neste ano – a casa não tem uma meta definida para AuM.
“Quando o Fed fez o primeiro corte de juros, em setembro, o mercado apontava para uma taxa de juros terminal próxima de 3%, agora está próxima de 4%”, diz Queima. “Mesmo com o CDI muito alto, os fundos de renda fixa hedgeados vão entregar retornos interessantes e continuam sendo um pilar da estratégia para 2025.”
Outro ponto da estratégia para o próximo ano está na parte de private equity, com a chegada dos chamados fundos evergreen. Estes veículos possuem uma flexibilidade maior na devolução de capital investido para os investidores, sem chamadas de capital.
Esses dois pontos casam com a estratégia de trazer diversificação para os investidores menores, com Queimada destacando que se trata de um público que necessita de opções para diversificar seus investimentos. “Conseguimos levar fundos de Bolsa, de renda fixa, para esse investidor em geral. É um grande pilar da nossa estratégia para 2025”, diz o CEO da Gama.