Geração X e milennials têm mais chance de ter câncer – 12/08/2024 – Equilíbrio


Um novo estudo preocupante da American Cancer Society revelou que a geração X (1965-1980) e os millennials (1981 e 1995) correm mais risco de desenvolver vários tipos de câncer do que as gerações anteriores.

Isso é respaldado por um conjunto cada vez maior de evidências que mostra que alguns tipos de câncer, como de intestino, mama e pâncreas, estão se tornando mais comuns entre os jovens.

Este novo estudo analisou dados de quase 24 milhões de pacientes com câncer, coletados de registros oncológicos dos EUA ao longo de um período de 20 anos, a partir de 2000.

A equipe de pesquisa classificou os dados de acordo com o tipo de câncer, sexo e grupos por data de nascimento dos pacientes —em outras palavras, o período de cinco anos durante o qual nasceram.

Eles também realizaram um ajuste estatístico para levar em consideração o fato de que, para toda a população, quanto mais velho você fica, maior a probabilidade de desenvolver câncer.

Ao analisar as taxas de incidência dos 34 tipos de câncer mais comuns (aqueles que tiveram pelo menos 200 mil casos ao longo das duas décadas), o estudo fornece a evidência mais definitiva até o momento para uma mudança no quadro de quantas pessoas estão desenvolvendo câncer —além de quando e por quê.

Surpreendentemente, 17 tipos diferentes de câncer estão se tornando cada vez mais comuns entre os grupos mais jovens analisados.

Por exemplo, pessoas nascidas em 1990 tinham entre duas e três vezes mais chance de desenvolver câncer de intestino delgado, tireoide, rim e pâncreas do que aquelas nascidas em 1955.

Eles também descobriram que pessoas nascidas mais recentemente estão tendo câncer em uma idade mais jovem. Em todas as idades e todos os tipos de câncer, os aumentos mais drásticos foram observados no câncer de pâncreas e de intestino delgado em pessoas com menos de 30 anos.

Em alguns casos, como no câncer de intestino, o aumento da incidência em gerações mais jovens até reverteu uma tendência anterior de declínio observada em gerações anteriores – sugerindo que conquistas prévias de saúde pública estão desaparecendo agora.

Mudanças no comportamento e estilo de vida

Mas, afinal, o que está acontecendo? Por que a geração X e os millennials são mais propensos a desenvolver certos tipos de câncer do que as gerações dos seus pais e avós? A resposta provavelmente está em mudanças de estilo de vida e comportamento.

Uma má alimentação e hábitos cada vez mais sedentários são dois prováveis culpados.

Dez dos 17 tipos de câncer identificados, como de intestino e de mama, foram associados à obesidade. Os EUA, assim como muitos outros países, estão enfrentando uma epidemia de obesidade, com aumento nas taxas ano após ano. Há evidências crescentes que sugerem que a obesidade na infância ou no início da vida adulta pode aumentar o risco de alguns tipos de câncer.

Um fator relacionado que provavelmente é importante é o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados —eles foram associados à maior probabilidade de desenvolver câncer.

O aumento do consumo excessivo de álcool, particularmente entre mulheres millennials, foi destacado pelos autores do estudo como uma causa do aumento da incidência de câncer de fígado e esôfago observados entre este grupo específica.

Enquanto isso, entre os homens, eles constataram uma tendência em forma de U (o que significa que as taxas diminuíram após um pico inicial, e depois começaram a subir novamente) para o sarcoma de Kaposi e câncer anal – dois tipos de câncer associados à infecção por HIV, vírus causador da Aids.

Após um período de queda nas taxas, essa tendência foi revertida para grupos com datas de nascimento a partir de meados da década de 1970. Isso reflete o recente aumento das taxas de infecção por HIV nos EUA.

A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) —um vírus sexualmente transmissível conhecido por causar câncer cervical— também pode ser um fator no aumento da incidência de câncer anal. Estima-se que 90% dos cânceres anais sejam causados pela infecção por HPV.

Curiosamente, na contramão da tendência observada em relação ao câncer anal entre os homens, o estudo observou uma queda acentuada no risco de câncer cervical entre mulheres do grupo nascidas na década de1990 —as primeiras a serem vacinadas contra o HPV.

Quando as vacinas contra HPV foram lançadas, elas eram oferecidas apenas para meninas, o que significa que os homens jovens desta geração não foram imunizados.

Embora algumas das mudanças que os pesquisadores observaram nas taxas de câncer possam ser atribuídas a mudanças geracionais no estilo de vida e comportamento associadas ao câncer, eles não são capazes de explicar todas as mudanças que observaram —como aumentos na incidência de leucemia.

Os autores ressaltam que mais estudos precisam ser feitos para entender as causas dos cânceres. Sem saber exatamente por que esses tipos de câncer estão se tornando mais comuns, vai ser difícil tomar medidas adequadas para reverter essas tendências.

Mas o cenário não é totalmente sombrio. Alguns tipos de câncer estão, na verdade, se tornando menos comuns entre as gerações mais jovens.

O estudo mostrou um declínio constante no risco de desenvolver câncer de pulmão por sucessivas gerações. Pessoas nascidas em 1990 possuem cinco vezes menos chance de desenvolver a doença em comparação com aquelas nascidas em 1955.

Um avanço semelhante também está começando a ser observado no caso do melanoma. Pessoas nascidas em 1990 apresentavam menos risco do que qualquer outro grupo nascido nos 50 anos anteriores.

Estas tendências refletem o sucesso de campanhas de saúde pública destinadas a desencorajar o tabagismo e incentivar um comportamento seguro em relação à exposição ao Sol. Elas destacam como mudar o comportamento e fazer escolhas mais saudáveis pode reduzir nosso risco de desenvolver câncer.

*Sarah Allinson é professora do departamento de ciências biomédicas e da vida da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).



Fonte: Folha de São Paulo

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