Seis dos maiores hospitais filantrópicos privados do país estão se unindo com a meta de compartilhar dados clínicos, padronizar protocolos, realizar compras conjuntas de medicamentos e equipamentos médicos e apadrinhar instituições públicas com foco na melhoria da gestão.
A Ahfip (Associação de Hospitais Filantrópicos Privados), cujo anúncio da criação ocorre nesta quarta (26), reúne cinco instituições de São Paulo —A.C.Camargo Cancer Center, BP (Beneficência Portuguesa), Hcor, Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Sírio-Libanês— e uma de Porto Alegre (Moinhos de Vento).
Juntos, esses hospitais têm uma receita de R$ 10,5 bilhões (dado de 2023), somam 2.744 leitos clínicos e 566 leitos de UTI. O Hospital Israelita Albert Einstein, também filantrópico privado, não faz parte do grupo fundador.
Segundo José Marcelo de Oliveira, presidente do conselho da Ahfip e CEO do Oswaldo Cruz, o Einstein participou de várias discussões com o grupo e, apesar do interesse na agenda, considerou que se considera representado nas associações que já participa, como a Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados).
Oliveira afirma que a nova associação não representa uma cisão ou dissidência da Anahp e que há agendas que continuarão a cargo da entidade. “Não há hoje um recorte para os filantrópicos na Anahp. Ela olha para o modelo privado puro, não vemos essa via [das filantrópicas] se expressar com a intensidade que pretendemos fazer aqui [na Ahfip].”
A criação da associação acontece em um momento em que o setor privado da saúde vem passando por muitas transformações, com a entrada de capital internacional, fusões e aquisições.
A Rede D’Or, com 73 hospitais e 11.700 leitos, por exemplo, comprou a SulAmérica Seguros, uma das maiores operadoras de saúde do país em 2022, e anunciou em maio uma parceria com a Bradesco Seguros para criar uma nova rede hospitalar.
A Hapvida, com 5.740 leitos em 86 hospitais, comprou a Notre Dame Intermédica. Neste mês, o Grupo Dasa e a Amil anunciaram fusão. Se aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o grupo terá 4.400 leitos em 25 hospitais e centros oncológicos.
Oliveira afirma que a Ahfip pretende pensar em modelos complementares a essas iniciativas, todas privadas com fins lucrativos.
“Hoje temos três grupos: a Hapvida, com o modelo de verticalização, a tendência de construção de redes, com a Rede D’Or e SulAmérica, a Amil e a Dasa, e o grupo dos filantrópicos que decidiu se manter independentes.”
Segundo ele, os hospitais filantrópicos que fazem parte da Ahfip foram abordados por investidores, mas, por origem do legado das comunidades que os originaram, como a alemã e a sírio-libanesa, preferem continuar com o mesmo modelo que os tornaram referência no país.
Com a associação, os hospitais continuam mantendo a sua independência. Até o momento, não há intenção de se associarem a planos de saúde. Mas, de acordo com Oliveira, as operadoras poderão ter interesse de se apoiar em uma rede hospitalar que trabalha com eficiência na gestão de recursos e evita desperdícios.
“Sem romper o limite da qualidade e da segurança e da medicina baseada em evidência, podemos analisar como ampliar o escopo de planos para aumentar o acesso e incluir o máximo de pessoas.”
No momento, hospitais privados enfrentam dificuldade para receber pelos serviços prestados aos planos de saúde. O atraso já atingia cifras bilionárias no ano passado e subiram de patamar neste ano, segundo levantamento da Anahp.
Ele lembra que, no caso dos hospitais filantrópicos privados, o resultado (lucro) é convertido para a sua própria operação, por exemplo, no investimento de novas tecnologias.
“Não tem o cunho do privado com fins lucrativos, em que o lucro tem que ser destinado para o investidor, independentemente se é capital aberto ou fechado. Mas a gente não quer ser oposição [aos privados que visam lucro], quer ser referência nesse modelo de discussão.”
No âmbito da saúde pública, além das atuais parcerias que os hospitais filantrópicos já têm com a saúde pública, como Proadi (programa de apoio ao desenvolvimento institucional do SUS), há uma proposta de ampliar o modelo de apadrinhamento de hospitais do SUS, por exemplo.
“Isso pode ocorrer tanto em modelos de gestão, por meio do Proadi ou das OSSs (organizações sociais de saúde), como em projetos de pesquisa. Hoje temos um corpo clínico capacitado trabalhando com grupos de pacientes dos próprios hospitais. Se a gente amplia esse pool [para os hospitais públicos], aumenta-se o impacto do conhecimento.”
No campo do ensino, por exemplo, a ideia é avançar com fóruns de compartilhamento de conhecimento por meio de plataformas de conteúdo. “Podemos gerar conteúdo juntos e colocar ali nossos programas”, afirma Oliveira.