
Em uma decisão amplamente aguardada pelo mercado, o Federal Reserve manteve a taxa de juros americana inalterada entre 4,25% e 4,5% nesta quarta-feira, 29. Foi a primeira pausa no ciclo de cortes após três reduções consecutivas.
A decisão coincidiu com o primeiro encontro do Fed durante o segundo mandato do presidente Donald Trump, que, dias antes, voltou a pressionar o banco central por juros mais baixos no Fórum Econômico Mundial de Davos.
As pressões ocorrem em um momento em que o mercado busca entender os impactos das principais propostas de Trump, que já começou a implementar alguns de seus planos nos primeiros dias de mandato. O consenso é que, caso postas em prática, suas políticas tendem a ser inflacionárias, limitando novos cortes de juros ou até mesmo forçando uma retomada do ciclo de altas.
“Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido. A taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo nos últimos meses e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação continua um pouco elevada”, justificou o Fed em seu comunicado.
Embora o texto tenha se apoiado nas condições econômicas atuais, Powell reconheceu incertezas à frente. “O Comitê está muito na posição de esperar para ver quais políticas [do novo governo] serão implementadas. Não sabemos o que acontecerá com as tarifas, com a imigração, com a política fiscal e com a política regulatória”, afirmou o presidente do Fed.
Durante a entrevista com jornalistas, Powell citou ‘incertezas’ 17 vezes “Há uma incerteza elevada devido a mudanças significativas de política nessas quatro áreas que mencionei.”
A postura mais cautelosa do Federal Reserve aumentou as apostas de que os juros permanecerão elevados por mais tempo. Após a decisão, investidores passaram a precificar a manutenção do atual patamar pelo menos até a reunião de maio, com a probabilidade implícita no mercado de derivativos subindo de 49% para 57%. As bolsas de Nova York fecharam em queda, e o dólar ganhou força globalmente.
Powell também afirmou que a equipe do Fed trabalha com uma ampla gama de cenários e já modelou, por exemplo, os possíveis efeitos dos planos de deportação em massa. O banqueiro central, no entanto, reforçou que não tomará medidas antecipadas.
“Acho que precisamos permitir que essas políticas sejam articuladas antes mesmo de começarmos a fazer uma avaliação plausível sobre quais serão suas implicações para a economia. Portanto, estaremos acompanhando de perto”, disse.
Assim como no Brasil, o mandato do presidente do Federal Reserve não coincide com o do chefe do Executivo. Trump terá que esperar até maio de 2026 para nomear alguém mais alinhado com seus interesses. Powell, como ele próprio afirmou, não irá renunciar e manterá seu compromisso com a meta de inflação, independentemente da pressão da Casa Branca.
No Brasil, Copom sobe juro
No Brasil, onde o Comitê de Política Monetária (Copom) realizou sua primeira reunião com a maioria formada por indicados do atual governo, a decisão foi aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 13,25%, conforme já sinalizado no último encontro. A reunião desta quarta também foi a primeira com Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central.
O Copom também manteve a indicação de pelo menos mais uma alta de 1 ponto percentual na mesma reunião. Na avaliação do mercado, mesmo com a nova composição majoritária formada por indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Copom deve manter uma postura técnica — ao menos até que a desaceleração da atividade econômica causada pela alta dos juros se torne um problema político.