Nos últimos tempos, a Decolar tentou adquirir a CVC, apostou na expansão de suas lojas físicas próprias e, agora, quer fazer a sua fintech “voar mais alto”.
A maior agência de viagens da América Latina, controlada pela argentina Despegar, passou a dar mais atenção para a Koin, fintech brasileira que foi adquirida ainda no fim de 2020. O negócio opera com uma solução digital de pagamento parcelado de boletos e PIX.
Em outras palavras, explora o chamado buy now, pay later ou o famoso crediário (com algumas atualizações). Seja chamado de um ou de outro nome, o produto financeiro atraiu o interesse de gigantes no mundo inteiro.
Na Europa, a Klarna chegou a ser a startup mais valiosa do continente ao ser avaliada em mais de US$ 46 bilhões (antes de seu valuation despencar). Nos Estados Unidos, a Apple decidiu olhar para além dos iPhones e MacBooks e apostou na modalidade de pagamento.
Na América Latina, algumas fintechs já decidiram apostar no modelo. Uma delas foi a Open Co, fruto da fusão entre Geru e Rebel. Semanas atrás, a fintech mexicana Aplazo levantou US$ 70 milhões (a gestora brasileira Volpe Capital participou do round) para intensificar seu negócio nesta modalidade no México, país que tem atraído inúmeros negócios ligados ao sistema financeiro.
Com o dinheiro argentino da Decolar, a Koin vem tentando comer pelas beiradas nessa disputa. No último ano, a companhia ultrapassou a marca de 1 mil empresas clientes no Brasil. Entre elas estão empresas como Positivo, Grupo Boticário, Osklen, além da própria Decolar.
A vantagem para as contratantes é a possibilidade de oferecer uma nova modalidade de parcelamento das compras para os consumidores. Em seu site, a Koin afirma que o produto buy now pay later permite um aumento de até 20% nas vendas e de 35% no tíquete-médio.
A companhia não revela muitos números de sua operação. Obejero diz apenas que a companhia atingiu breakeven no segundo semestre do ano passado e registrou Ebitda próximo de US$ 3 milhões no consolidado de 2023.
Em relação ao faturamento, a companhia informa que a receita aumentou 84% e que foram movimentados mais de R$ 15 bilhões em transações no ano passado. A expectativa é dobrar o tamanho do negócio neste ano.
Além de ganhar dinheiro no spread das transações financeiras que permite o parcelamento, a Koin também tem como frente de receita um serviço antifraude, um gateway de pagamentos e um marketplace em que varejistas parceiros podem oferecer descontos para os usuários da plataforma.
Mas é somente no mercado brasileiro – e, desde o segundo semestre do ano passado, no México –, que a companhia opera com buy now pay later.
“Metade da nossa receita já vem dos serviços de buy now pay later”, afirma Nicolas Obejero, CEO da Koin, ao NeoFeed. “O Brasil tem sido o nosso foco neste sentido.”
A Despegar não revela dados da Koin, mas informa em seu balanço financeiro do primeiro trimestre que faturou US$ 12,7 milhões com serviços financeiros no período, alta de 78% ante o primeiro trimestre do ano passado. A receita total do grupo de viagens nos três primeiros meses desse ano foi de US$ 173,7 milhões.
Para acelerar o crescimento no Brasil, a Koin ingressou na captação de crédito para financiar seus serviços prestados aos clientes. No ano passado, a Koin levantou R$ 36,6 milhões em um Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC). Um novo veículo desse tipo deve ser lançado nos próximos meses.
Ainda que o dinheiro seja útil para fazer a roda girar, Obejero diz que neste momento as captações estão sendo feitas para que a companhia demonstre ao mercado a resiliência de seu negócio. “Precisamos fazer isso para que no futuro tenhamos portas abertas”, diz o executivo.
Quando criar “casca”, a companhia deve partir para captações mais agressivas e, possivelmente, poderá estudar a implementação de novos produtos de crédito e a expansão dos serviços para outros mercados. Além de Brasil e Argentina, a empresa também tem operações no Uruguai, na Argentina e na Colômbia.
O desafio para crescer no Brasil está no cenário macroeconômico e na alta taxa de juros, que no começo de maio foi reduzida em 0,25 ponto percentual pelo Copom para 10,50% ao ano.
Há duas formas de encarar esse dado. Quem olha para o copo meio vazio, entende que houve um otimismo exagerado com a possibilidade de redução dos juros básicos da economia para a casa de um dígito.
Mas, quem olha para o copo meio cheio, se apega ao aumento do consumo das famílias. Na semana passada, o monitor PIB-FGV apontou que o consumo das famílias aumentou 4,4% no primeiro trimestre. Esse é o cenário positivo para quem tem um crediário à disposição.