Não tem tempo bom no curto prazo. Essa é a visão de quem está atento à inflação, ao juro exigido para combatê-la e à dívida pública em contínua ascensão. Mas não há chuva ou trovoada no horizonte de quem aplaude a atividade movida pelo mercado de trabalho, alta na renda e transferências governamentais. Bonança que acarreta, hoje, um custo elevado que vai pesar em 2025 e agravar o risco fiscal.
A visão do cenário econômico é dúbia, mas não uma novidade nesta cabeça de trimestre imune à decisão da Moody’s que, na virada do mês, aproximou a nota de crédito brasileira do “grau de investimento” – um selo de bom pagador.
Mais inclinada ao desempenho da atividade e menos às incertezas fiscais, a avaliação da agência foi evento positivo que, entretanto, não repercutiu nos preços dos ativos. Tampouco, sensibilizou economistas a ponto de influenciar a revisão de projeções de indicadores-chave para 2024 e 2025.
A atualização de cenários reprisa aumento nas estimativas para o PIB, inflação e Selic este ano. E aponta desaceleração desses indicadores no próximo. A taxa de câmbio pouco se move na mudança de calendário. Na seara fiscal, as projeções sofrem ajustes cosméticos. E estão em fase de consolidação.
Esse é o saldo do levantamento do NeoFeed, a partir de revisões de cenários divulgadas, nos últimos dias, pela Azimut Brasil Wealth Management, Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, Itaú Unibanco, J.P. Morgan, Monte Bravo Corretora, Santander Brasil, XP e Febraban que, em pesquisa própria, reúne a a avaliação de 20 bancos a cada 45 dias – período pós-Copom.
A política fiscal segue como pedra no sapato do governo. E persiste a expectativa de déficit de 2024 até 2027, a despeito da utilização da margem de tolerância, de 0,25% do PIB, prevista no arcabouço fiscal e que viabiliza a meta zero contratada para este ano e para 2025, mesmo sem equilíbrio das contas.
As projeções para o resultado primário em 2024 oscilam de déficit de 0,4% a 0,6% do PIB; para 2025, de 0,5% a 1%. Para a dívida bruta em proporção do PIB, as estimativas para este ano vão de 76% a 79% e, para 2025, de 81,1% a 84,2%. Estabilidade não está no script.
“No campo fiscal ainda não existem expectativas de correção de rumo por parte do governo, o que prejudica a trajetória da dívida pública no médio e longo prazo, com aumento da volatilidade e prêmio de risco às taxas de juros”, avalia a Azimut que sintetiza a opinião se seus pares ao apontar como “questão central a viabilidade de ajuste baseado apenas em alta de receitas quando, ao mesmo tempo, a maior parte dos gastos apresenta crescimento incompatível com a restrição imposta à expansão total de despesas”.
Correção de rota
O PIB deverá crescer entre 3% e 3,2% em 2024. Para o ano que vem é consenso que a atividade esfriará para a faixa de 1,5% a 2,4%, sendo o Bradesco mais otimista entre as instituições pesquisadas. O Itaú prevê expansão de 3,2% este ano e 2% para 2025.
Para o Bradesco, que vê o PIB em baixa discreta de um ano para outro, “o câmbio mais apreciado, em um contexto global desinflacionário, deve permitir que a economia ainda apresente expansão próxima ao potencial com alguma desaceleração da inflação”. Para este ano, o Bradesco está com a maioria e espera PIB de 3%.
As projeções para o IPCA em 2024, apontam as casas pesquisadas, variam de 4,4% a 4,7%. Para 2025, os prognósticos oscilam de 3,9% a 4,2%. Divorciada da meta de 3%, a inflação, sujeita a pressões adicionais pela estiagem prolongada e câmbio firme, justifica a perspectiva de mais aperto monetário.
Não por acaso, a Selic, hoje em 10,75%, poderá avançar a 11,25% ou 11,75% em dezembro, esticando até 12,25% no início do ano que vem, como apontam o BB e a sondagem da Febraban. A queda virá em 2025. Em pílulas. Monte Bravo vê Selic a 10,25% em dezembro; Bradesco e Santander a 10,5%. Para Itaú, BB e XP, a taxa fechará 2025 em, respectivamente, 11%, 11,5% e 12%.
Calibrado entre R$ 5,20 e R$ 5,50 para 2024 e entre R$ 5,10 e R$ 5,60 para 2025, o dólar parece menos sujeito a pressões locais e mais exposto ao diferencial de taxas de juro – em alta aqui e em queda sobretudo nos EUA, favorecendo a apreciação do real. Entretanto, a força da economia americana e o recado da ata do Federal Reserve, divulgada na quarta, 9 de outubro, desautorizam otimismo rasgado. O corte do juro nos EUA será mais lento.
“O câmbio é sinal do ‘copo meio cheio ou meio vazio’ em que estamos. A remuneração dos Treasuries de 10 anos em 3,60%, até recentemente, não levou o dólar a R$ 5,00. E a piora da taxa a 4% não arrastou o dólar além de R$ 5,60”, diz Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo Corretora.
“Nossa aposta é que, depois das eleições americanas e encaminhamento de risco menor no Oriente Médio, o fluxo de recursos vai promover a apreciação do câmbio, o arrefecimento dos juros e a melhora da bolsa”, informa.
Por outro lado, a alta da Selic pesa contra a perspectiva favorável à atividade no médio prazo, observa Mathias para quem essa perspectiva reflete o varejo beneficiado pelo crescimento da renda e do crédito e pelo menor desemprego em uma década. Combinação que, no curto prazo, sanciona previsões de PIB positivo no terceiro e no quarto trimestres, mas perdendo fôlego.
Mais ou menos otimistas, as instituições são parceiras, porém, no alerta endereçado ao governo: a atividade será afetada pela desaceleração do impulso fiscal e pelo efeito defasados da interrupção do corte de juro no primeiro semestre a ser revertido, de vez, pelo aumento nada trivial da Selic.
Fatura que cairá no “balcão” da Fazenda de Haddad e do BC de Galípolo em janeiro de 2025. Por ora, data preferencial para a derradeira elevação da taxa básica no atual ciclo monetário. A ver.