Há um mês, como de praxe, a MRV&Co divulgou uma prévia do seu resultado no segundo trimestre de 2024 destacando um volume de vendas líquidas de R$ 2,53 bilhões, alta anual de 14% e sua maior marca nessa linha.
O recorde sinalizou uma evolução importante nos esforços da construtora e incorporadora da família Menin, que, já há alguns trimestres, lida com o desafio de consolidar sua recuperação para reconquistar a confiança dos investidores.
Ao divulgar o balanço completo do período, na noite desta segunda-feira, 12 de agosto, o grupo destacou o fato de ter avançado em mais algumas casas nesse processo. Mas reconheceu que ainda vai apertar o passo para entregar a “obra completa”.
“Estamos muito confortáveis em entregar todos os nossos guidances”, diz Ricardo Paixão, CFO da MRV&Co, ao NeoFeed. “A geração de caixa é o que parece mais distante, mas, na verdade, esse ritmo já estava no planejamento. Vamos entregar mais no segundo semestre.”
No trimestre, houve uma geração de caixa ajustada de R$ 7,7 milhões, contra um consumo de R$ 161,5 milhões, um ano antes. No primeiro semestre, o indicador, que exclui efeitos de swaps de dívida, ficou positivo em R$ 32 milhões. A projeção para 2024 está na faixa de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões.
Ao lado do recorde nas vendas, o executivo ressaltou alguns indicadores que sustentam a confiança da MRV na perseguição dessa meta. O primeiro é a margem bruta, que avançou 3,9 pontos percentuais e foi de 26% no trimestre e no semestre, já na faixa inferior do guidance para ano, de 26% a 27%.
Na trilha da aceleração das vendas, a receita operacional líquida teve um salto de 18%, para R$ 2,09 bilhões. No acumulado de seis meses, essa linha somou R$ 3,9 bilhões, diante de uma projeção entre R$ 8 bilhões a R$ 8,5 bilhões no consolidado do ano.
O grupo também apurou um prejuízo líquido de R$ 24,5 milhões, contra um lucro de R$ 181 milhões, há um ano. Para efeitos do guidance, o grupo considera, porém, o lucro líquido ajustado, que exclui efeitos não recorrentes do segundo trimestre de 2023, entre eles, um crédito tributário de R$ 180 milhões.
Nessa base, o lucro líquido ajustado entre abril e junho foi de R$ 76 milhões, ante um prejuízo líquido ajustado de R$ 38 milhões no mesmo intervalo de 2023. Nos seis primeiros meses de 2024, a MRV acumulou R$ 130 milhões nessa linha, ante um guidance de R$ 250 milhões a R$ 290 milhões no ano.
No último ponto do guidance, a MRV projeta um endividamento, medido pela relação dívida líquida sobre o patrimônio líquido, entre 36% e 34% no ano. O grupo fechou o trimestre com esse indicador em 45,3%, contra 64,2% em 2023. No semestre, o índice foi de 40,9%.
“No operacional, já conseguimos nos recuperar quase que completamente e chegamos aos níveis pré-pandemia”, afirma Paixão. “Os indicadores financeiros demoram um pouco mais. Mas a recuperação está dada. É uma questão de tempo.”
Ele destaca ainda outros indicadores do período. Entre eles, a evolução no Ebitda, que cresceu 95,1%, para R$ 286 milhões. E também do tíquete médio, que ficou em R$ 251 mil no trimestre, 10,9% superior ao montante registrado no mesmo intervalo de 2023.
Outra agenda que reforça esse calendário mais favorável são mudanças recentes relacionadas ao Minha Casa Minha Vida. A primeira, a elevação do teto de renda mensal para enquadrar as famílias nas faixas um e dois do programa, respectivamente, de R$ 2.640 para R$ 2.850 e de R$ 4,4 mil para R$ 4,7 mil.
Uma segunda “boa notícia” foi a decisão do Supremo Tribunal Federal, em junho, de que a remuneração do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) deverá garantir, no mínimo, a inflação medida pelo IPCA, o que, na avaliação do mercado, garantiu a sustentabilidade do programa habitacional.
“Esse era um ponto de interrogação enorme que pesava nas conversas. Era o principal risco do setor e o que deixava os investidores bastante inseguros”, diz Paixão. “Mas não houve uma alteração significativa e esse risco ficou para trás.”
As ações da MRV encerraram o pregão de hoje na B3 cotadas exatamente no mesmo patamar do fechamento das negociações da última sexta-feira, de R$ 7,18. No ano, os papéis registram uma desvalorização de 36%. O grupo está avaliado em R$ 4,04 bilhões.