Já se passaram mais de três anos desde a última estreia de uma empresa na B3, marcando o maior período sem IPOs na história recente. Apesar da seca de novos estreantes, o número de ETFs continua crescendo na bolsa brasileira. Hoje, são 114 fundos listados que investem nos mais diversos segmentos da economia brasileira e global, o dobro da quantidade disponível em 2021.
Mesmo com o crescimento e o surgimento de novos players, como Buena Vista e Oryx Capital, esse mercado ainda engatinha no Brasil em comparação ao seu tamanho no exterior. Globalmente, os ETFs gerem US$ 14,5 trilhões, representando cerca de 30% do volume negociado de ações nos Estados Unidos. No Brasil, essa proporção não chega a 10%. As gestoras apostam que esse gap deve diminuir nos próximos anos, criando oportunidades para novos entrantes.
São 12.843 ETFs no mundo e, nesse jogo, ninguém tem mais dinheiro que a BlackRock, que administra US$ 3,9 trilhões em mais de 1.500 fundos negociados globalmente. Esse império começou em 2009, quando a gestora americana adquiriu a marca iShares da Barclays, então uma das líderes do mercado. No Brasil, a BlackRock é a maior gestora de ETFs de renda variável, com mais de R$ 15 bilhões sob gestão.
Apesar de seu tamanho e relevância, a gestora alterou sua estratégia, priorizando a introdução de ETFs já lançados no exterior por meio de BDRs. “É muito mais barato e escalável do que abrir um ETF no mercado local”, diz Cristiano Castro, diretor da BlackRock.
Regulamentados em 2020 e abertos ao público geral em 2021, os BDRs de ETFs se proliferaram rapidamente no mercado brasileiro. Hoje, são 258, número que supera em mais que o dobro o de ETFs listados localmente. Desses, 153 pertencem à BlackRock. “Nosso objetivo é oferecer um produto transparente e barato ao cliente. Não conseguiríamos lançar tantos ETFs diretamente no Brasil”, explica Castro.
Ele argumenta que os BDRs de ETFs têm uma estrutura mais eficiente do que ETFs listados localmente que seguem o mesmo índice. “Na maioria das vezes, o custo será menor para o investidor.” Castro menciona que, por isso, tem escolhido o BIVB39 para sua carteira pessoal. O BDR segue o índice S&P 500, assim como o IVVB11, o ETF com maior número de investidores na bolsa brasileira.
A taxa de administração do IVVB11 é de 0,23% ao ano, com 20 basis points atrelados aos custos da estrutura local. Já o BIVB39 custa 0,03%, acrescido de uma taxa de custódia da B3 e outra incidente sobre o valor dos dividendos. Considerando um dividend yield de 1% do S&P 500, a taxa final seria entre 0,05% e 0,06% ao ano, estima Castro.
O baixo custo dos BDRs de ETFs, dado o alcance global, tem impulsionado a oferta de produtos. No entanto, a demanda ainda patina. Dos 5,1 milhões de CPFs cadastrados na bolsa, apenas 0,5% investe nesse tipo de fundo. O volume total investido em BDRs de ETFs é inferior ao do IVVB11, mesmo sendo um produto mais eficiente.
Mais da metade dos BDRs de ETFs possuem menos de R$ 1 milhão sob gestão, segundo dados da B3. Em alguns casos, o valor investido não ultrapassa R$ 1 mil.
A falta de liquidez no mercado local é compensada pelos market makers, que acessam o produto original no exterior para viabilizar a negociação na B3. Há ainda uma terceira camada de liquidez, possibilitada pela criação e destruição de cotas pelos gestores dos ETFs.
Devido à atuação como market maker, o investidor internacional, que já teria acesso a esses produtos, responde por 52% do volume negociado de BDRs de ETFs, embora represente apenas 2,5% da custódia total.
Os custos dos market makers são bancados pela B3, que também subsidia o processo de trazer ETFs ao mercado local via BDRs, como forma de incentivar o segmento. Inicialmente, esse subsídio foi oferecido por um ano, mas o programa segue ativo sem data de encerramento.
A maior parte do volume investido vem de investidores institucionais em BDRs de ETFs, muitos dos quais usam esses produtos para aumentar sua exposição no exterior sem retirar recursos do país. Essa estratégia era particularmente útil antes da Resolução CVM 175, que entrou em vigor no ano passado, flexibilizando as restrições para o varejo investir em fundos que investem diretamente no exterior.
Com as novas regulamentações, os gestores esperam que a pessoa física ganhe protagonismo nesse mercado, especialmente com as mudanças trazidas pela Resolução CVM 179. A nova regra exige mais transparência das assessorias quanto ao percentual dos ganhos sobre os produtos vendidos, incentivando a adoção do modelo fee-based, que alinha os interesses entre assessores e clientes.
“A adoção do modelo fee-based, presente em mais da metade das assessorias nos EUA, foi decisiva para o crescimento dos ETFs naquele mercado. Acreditamos que o mesmo acontecerá no Brasil”, afirma Débora Cazotti, head de business development da Global X ETFs.
Ligada à coreana Mirae, a Global X é uma das maiores gestoras de ETFs do mundo, com mais de 300 produtos lançados. No Brasil, a atuação ocorre exclusivamente por meio de BDRs de ETFs, com 30 já listados.
A gestora, que está em negociação com dois grandes bancos brasileiros para parcerias de distribuição, não descarta lançar ETFs no mercado local. Contudo, por uma questão de custo, o foco permanece em internalizar os ETFs internacionais via BDRs. “É uma questão de tempo até esse produto se popularizar”, conclui Cazotti.
Procurada, a B3 não quis se pronunciar.