Um estudo recente realizado pela Microsoft em parceria com o LinkedIn mostrou que 83% dos profissionais brasileiros que exercem algum tipo de atividade intelectual utilizam a inteligência artificial em suas rotinas de trabalho.
Ou seja: a IA tem se tornado uma ferramenta de trabalho onipresente, que amplifica os horizontes profissionais de seus usuários.
No Brasil, um exemplo do uso eficaz dos recursos trazidos pela inteligência artificial vem da Bradesco Asset – e quem diz isso é uma das principais publicações do mundo voltadas para a indústria financeira.
No final de abril, a Bradesco Asset conquistou o prêmio “Uso Mais Inovador de Inteligência Artificial Generativa”, concedido pela publicação americana Global Finance.
A conquista se deve a uma ferramenta desenvolvida pela gestora com o apoio do InovaBra, braço de inovação do Bradesco, e também contou com o apoio do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do banco.
O projeto começou a ser gestado no início de 2023, quando o ChatGPT disseminou-se pelo mundo como uma nova revolução tecnológica.
Em abril, atenta às oportunidades que certamente surgiriam pelo caminho, a Bradesco Asset criou uma célula de inteligência artificial generativa que tinha por objetivo desenvolver iniciativas na área.
A divisão passou a ser comandada por Fernando Galdi, head de Estratégia e Inovação da Bradesco Asset, mas com a participação de profissionais de diversas áreas do banco, do InovaBra ao Depec, passando por colaboradores do setor de tecnologia do Bradesco.
Atualmente, este braço de IA do banco é formado por um time de 15 pessoas. “O principal objetivo da célula é gerar aplicações de IA para o dia a dia da asset”, resume Galdi. Foi essa premissa que deu origem à ferramenta premiada pela Global Finance.
Depois da fase de criação, a ferramenta passou a operar de forma experimental, em julho do ano passado, até ser efetivamente adotada pelo Bradesco três meses depois, em outubro.
“Basicamente, aplicamos a inteligência artificial generativa para analisar as atas e comunicados emitidos pelo Banco Central do Brasil e pelo Fed, o banco central americano”, diz Galdi.
Para isso, a gestora usa os modelos de inteligência artificial GPT-4 e GPT-3.5, que leem os documentos e os comparam com versões anteriores das atas e comunicados.
Com base nessas informações, a ferramenta cria um indicador, chamado Hawk-Dove, que varia de -1 a 1. O valor negativo aponta para um tom mais próximo a Dove (possível diminuição da taxa de juros nas próximas reuniões), enquanto o positivo indica um tom mais Hawk (aumento das taxas).
“Uma das grandes vantagens da ferramenta é que ela é agnóstica”, diz Galdi. “É como se o indicador fosse feito por um analista sem qualquer tipo de viés ou sentimento.”
Por mais que os humanos procurem fazer análises frias e independentes, sempre persiste algum tipo de viés – isso é natural para qualquer pessoa. Os algoritmos, por sua vez, conseguem trabalhar sem essa característica.
A ferramenta da Bradesco Asset construiu também uma série histórica com todas as atas e comunicados do Banco Central brasileiro desde 2016 e do Fed desde 2012.
“Com isso, quem recebe o nosso indicador consegue comparar o que aconteceu ao longo do tempo com o último comunicado dos bancos centrais”, diz Galdi.
Outro diferencial é a síntese que a IA generativa faz, resumindo os principais tópicos das atas. Se antes um analista precisava de algo como 20 a 30 minutos para ler e interpretar o documento, com a nova tecnologia é possível fazer isso em torno de 5 a 7 minutos.
Por enquanto, o conteúdo produzido pela IA é distribuído para consumo interno do Bradesco. No entanto, a Bradesco Asset estuda a possibilidade de levá-lo para o mercado – quem sabe, fornecendo o indicador Hawk-Dove para outros analistas ou economistas.
A célula de Inteligência Artificial da Bradesco Asset está prestes a render novos frutos. A casa testa a tecnologia para avaliar cartas de gestores.
Todos os meses, centenas de cartas são publicadas por gestoras de diversos países, com análises minuciosas a respeito do cenário econômico e da direção que a indústria de investimentos está tomando.
É impossível para um profissional da indústria financeira ler todo o material – não haveria tempo disponível para se dedicar a isso diante de outros compromissos do dia a dia.
A ideia é que a IA seja capaz de apontar qual é o padrão dominante nas cartas publicadas no mundo, auxiliando os gestores de investimentos em suas tomadas de decisão.
“À medida em que aumentarmos o número de documentos avaliados pela inteligência artificial, o ganho de produtividade para os profissionais do mercado será cada vez maior”, diz Galdi.
Para acelerar projetos desse tipo, a Bradesco Asset firmou uma parceria com o Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que ajuda a gestora a resolver desafios tecnológicos.
A inteligência artificial vai mudar o mundo e a Bradesco Asset quer ser parte importante dessa transformação.