A indústria de fundos multimercados acumula resgates líquidos de mais de R$ 235 bilhões este ano. Enquanto o CDI até outubro rendeu 9,99%, os multimercados conseguiram, em média, apenas 6,5%, segundo dados da Anbima. Se for considerar apenas os fundos macro, a rentabilidade cai para 4,2%.
Nesse cenário de extrema dificuldade, a Armor Capital, gestora fundada por Alfredo Menezes, acumula 14,5% no ano. E esse resultado fez a asset praticamente dobrar de tamanho, para a R$ 1 bilhão sob gestão.
A primeira explicação de Menezes sobre o desempenho da sua gestora é óbvio: há uma correlação muito alta entre os fundos multimercados, o que faz o medo de errar sozinho ser maior que a vontade de acertar sozinho. Em um cenário instável, esse comportamento mostra os erros de perspectivas que explicam os resultados médios baixos.
A Armor segue o “espírito” de Menezes, que é conhecido no mercado como “mão de ferro” porque não dava stop em suas posições quando estava na mesa de tesouraria do Bradesco. A gestora atua com um olhar mais de trader e menos no longo prazo.
“A maioria dos fundos macro olha o cenário mais longo e monta uma posição esperando isso acontecer. Nós ficamos posicionados para 2 a 3 semanas. Procuro mais vários pequenos alfas do que um grande acerto. Acredito que esse modelo é mais eficiente em um país emergente e instável como o Brasil”, afirma Menezes, CEO e CIO da Armor Capital, ao NeoFeed.
Outra estratégia que se mostrou importante é não apostar no tudo ou nada, nem em uma direção. Toda posição tem o seu seguro por meio de um hedge. Isso ajuda a ter um ganho na ponto oposta caso o cenário não se concretize.
Mas o que foi realmente surpreendente é que a gestora ganhou em várias posições nas duas pontas. Um exemplo foi a aposta comprada em bolsa americana. Havia a possibilidade de a taxa de juros subir e a bolsa não andar como era imaginado.
Então, como hedge, a gestora também apostou contra a ‘derivada do treasurie’. Se a bolsa subisse, o iene perderia valor. Mas o resultado foi que os juros subiram e a bolsa também. Com ganhos dos dois lados, o retorno disparou.
Outra aposta de curto prazo bem-sucedida foi o chamado “Trump trade”, que chegou a render 1% apenas em um dia na compra de ações, em especial de bancos.
Mas não é só de curto prazo que vive a gestora. Há pequenas posições de longo prazo. Uma delas é na aposta de que os bancos serão os mais beneficiados com o ganho de eficiência e produtividade que a inteligência artificial irá trazer. E, por isso, a gestora está comprada em bancos americanos e também brasileiros.
“O maior número de funcionários e de investimentos de bancos de varejo hoje está em tecnologia da informação (TI). É possível que isso se reduza significativamente com as novas tecnologias”, afirma Menezes.
Mas quanto ao cenário macro aqui no Brasil, a perspectiva é pessimista e defensiva: vendida em bolsa e comprada em pré-fixado de longo prazo.
Segundo Menezes, há uma situação complicada. O juro real está acima de 7% e não cai, fazendo com que a taxa de juros de equilíbrio mude drasticamente com essa expansão fiscal. E o Brasil não é solvente com juros altos assim. Então ou se reduz gastos ou aumenta a arrecadação. O que não parece que vai acontecer, o que leva a aumento na inflação e juros mais altos.
“Sem um bom arcabouço fiscal a inflação será alta. E não parece que o governo vai cortar. Em geral se aperta o cinto no início para soltar mais perto da eleição. Esse governo soltou logo no início, difícil apertar depois. O cenário não parece promissor”, analisa o CEO e CIO da Armor.