Na Minerva, um seguro sobre a “nova era Trump”

Na Minerva, um seguro sobre a


Dois recordes marcaram a divulgação do balanço referente ao terceiro trimestre da Minerva na noite de quarta-feira, 6 de novembro. No primeiro deles, a receita líquida de R$ 8,5 bilhões representou uma alta anual de 20,3% e a melhor marca trimestral na história da companhia.

O frigorífico também repetiu esse feito na linha do Ebtida, na qual reportou um crescimento de 13,9% sobre igual período, um ano antes, para R$ 813 milhões. Outro ponto destacado foi o fluxo de caixa livre de R$ 667,3 milhões, o que contribuiu para reduzir sua dívida líquida de R$ 8 bilhões para R$ 7,3 bilhões.

Se os números do período trouxeram essas “boas surpresas”, a Minerva atribuiu uma grande parcela desse desempenho a um mantra quase sempre presente em suas manifestações junto ao mercado: a capacidade de reagir às nuances do mercado a partir da diversificação geográfica das suas operações.

“Nesse trimestre, nós reduzimos nossa participação na China”, disse Fernando Galetti de Queiroz, CEO da Minerva, em conversa com jornalistas. “E redirecionamos as exportações para outros mercados, com destaque para o Nafta e, em especial, os Estados Unidos.”

O empresário observou que a redução na produção dos Estados Unidos, cujo nível atual do rebanho é o menor desde 1953, vem abrindo boas oportunidades para a empresa. Assim como um cenário semelhante na Europa, em países como França, Alemanha, Irlanda e Espanha.

“Agora, a grande novidade é que começamos a ver uma redução da produção também na China no fim do terceiro trimestre, assim como um cenário favorável no Oriente Médio e no norte da África”, disse o CEO. “Ou seja, a carne bovina, que era uma commodity mais regional, passa a ser global.”

Com unidades de produção em sete países, o frigorífico se vê bem posicionado para ganhar território nesse “novo” mapa do setor. E não vê grandes riscos, inclusive, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a potencial adoção de medidas protecionistas do novo presidente americano.

“Pode haver uma polarização maior, com um ‘trust shoring” e não um ‘near shoring’”, disse Queiroz. “Mas temos os nossos hedges. Se esse alinhamento ideológico se traduzir em queda de barreiras e maior fluxo comercial com determinados países, estaremos posicionados para reagir a essa situação.”

A partir do viés à direita de Trump, o CEO citou como exemplo a possibilidade de atender o mercado americano via Argentina, cujo governo de Javier Milei está alinhado com essa corrente. A questão do baixo nível do rebanho também reforça a visão de manutenção de um cenário favorável nos EUA.

“Está faltando carne nos Estados Unidos e eles estão fechando esse gap com importação”, afirmou Edson Ticle, CFO da Minerva. “É mais fácil os Estados Unidos retaliarem o carro chinês elétrico do que a carne bovina.”

À parte dessa agenda, o calendário da Minerva também passa pela conclusão, em outubro, da aquisição de 13 ativos da Marfrig no Brasil, Argentina e Chile. Anunciada em agosto de 2023, a transação de R$ 7,5 bilhões foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em setembro deste ano.

Os executivos disseram não poder comentar sobre os três ativos do Uruguai, que complementam esse pacote, e cuja compra ainda não foi aprovada pelo órgão de concorrência local. A única informação, já divulgada em fato relevante, é a expectativa de que uma decisão final saia até o fim do ano.

A dupla trouxe, porém, um pouco da perspectiva das demais unidades incluídas no acordo com a Marfrig. A Minerva assumiu oficialmente essas operações na segunda-feira, 4 de novembro, após desembolsar um cheque de R$ 5,6 bilhões para efetivar a compra.

“Já vamos ter uma receita a partir desse mês e de dezembro vindo do Brasil e da Argentina, basicamente”, disse Ticle. “No Chile, a sazonalidade é muito alta, então, provavelmente, não teremos nenhuma contribuição relevante em 2024.”

A partir de um processo de integração que, até aqui, já envolveu mais de 600 profissionais, a expectativa da Minerva é começar a colher frutos mais significativos dessas operações no médio prazo. “Esperamos ter dois trimestres de aprendizado antes de virar essa curva para acelerar as sinergias”, disse Queiroz.

Já no que diz respeito ao aumento da alavancagem da operação, um dos pontos que chamaram a atenção e que não foram bem digeridos pelo mercado quando o M&A foi anunciado, a expectativa é de uma elevação do índice nos próximos meses e de voltar aos níveis pré-acordo em 12 meses.

No terceiro trimestre, um indicador já afetado pela aquisição foi o lucro líquido, que ficou em R$ 94,1 milhões, cifra que representou uma queda de 33,3% sobre o número reportado em igual período, há um ano.

“Isso aconteceu por uma razão simples”, observou Ticle. “Nós aumentamos a dívida bruta em R$ 6 bilhões para pagar a Marfrig. Foi um custo adicional que não gerou nenhum benefício até nós colocarmos as mãos nas plantas nessa semana.”

Já a receita bruta avançou 19,6%, para R$ 9,04 bilhões. Desse montante, o mercado externo foi responsável por R$ 5,45 bilhões, alta de 12%, enquanto a receita bruta no mercado interno ficou em R$ 3,59 bilhões, o equivalente a uma expansão, em base anual, de 33,4%.

A margem Ebitda, por sua vez, veio no patamar de 9,6%, contra 10,1%, há um ano. Nessa mesma base, a alavancagem ficou em 2,6 vezes, ante 2,8 vezes no terceiro trimestre de 2023.

As ações da Minerva fecharam o dia na B3 com alta de 1,72%, cotadas a R$ 5,90. No ano, os papéis registram, porém, uma desvalorização de 21%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 3,47 bilhões.



Fonte: NeoFeed

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

?>