Nos últimos anos, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk se acostumou a fornecer generosas injeções de ânimo aos investidores. Essas doses de otimismo vieram na esteira do sucesso do Ozempic e do Wegovy, indicados, respectivamente, para o tratamento da diabetes e da obesidade.
No apagar das luzes de 2024, a companhia está experimentando, porém, um efeito totalmente inverso à escalada proporcionada por essa dupla de “blockbusters”. E essa virada encontra uma explicação na tentativa da empresa de encontrar um sucessor para os dois medicamentos.
A Novo Nordisk divulgou um comunicado nesta sexta-feira, 20 de dezembro, com os resultados da fase três de testes para uma nova injeção experimental contra a obesidade, batizada de CagriSema. E cujos dados mostraram que os pacientes perderam menos peso do que o previsto inicialmente no estudo.
Entre outros números anunciados pela empresa, a injeção ajudou os pacientes perderem uma média de 22,7% de peso em um prazo de 68 semanas. O índice ficou abaixo do patamar de 25% que a companhia havia projetado para o medicamento, previsto para ser lançado em 2026.
Com esses indicadores, a CagriSegman ficou próxima do desempenho do Zepbound, oferta nesta mesma categoria da americana Eli Lily, já disponível no mercado e maior rival do Wegovy. Mas a performance colocou em xeque a capacidade da Novo Nordisk de se manter na dianteira desse segmento.
Em relatório citado pela agência Bloomberg, Peter Welford, analista da Jefferies, ressaltou que os investidores esperavam uma perda de peso entre 25% a 27% nos testes da CagriSema. Os resultados aquém do esperado se refletiram no mercado de capitais.
Na Bolsa de Copenhagen, as ações da Novo Nordisk chegaram a registrar uma queda de 27% nesta sexta-feira, um dos maiores tombos já registrados em um dia por uma empresa europeia. E recuavam 21,08% por volta das 15h (horário local), avaliando a empresa em 2,6 trilhões de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 362,5 bilhões).
O preço das ações da Novo caiu até 27% após o anúncio dos resultados, atingindo seu menor nível desde agosto de 2023 em uma das maiores quedas em um dia já registradas para uma empresa europeia. Elas caíram 18,8% às 12h25 GMT.
Com essa baixa, os papéis registram uma retração próxima de 16% em 2024. Já na Bolsa de Nova York, onde a farmacêutica está avaliada em US$ 482,1 bilhões, as ações recuavam 20,78% nas negociações do pre-market.
A expectativa em torno da CagriSema se justifica pelo fato de o medicamento ser a aposta da Novo Nordisk para lidar com o fim da patente do Wegovy, no início da próxima década, e a concorrência crescente na categoria, que tem previsão de movimentar cerca de US$ 130 bilhões até 2030.
Principal rival da Novo Nordisk, a própria Eli Lilly está testando uma nova geração de medicamento contra a obesidade, que, em um estudo realizado em 2023, apresentou uma melhor performance, com um índice de perda de peso dos pacientes de até 24%.
Em mais um provável efeito colateral do desapontamento causado pela farmacêutica dinamarquesa, as ações da Eli Lilly registravam alta de 7,20% nas negociações do pré-market na bolsa de valores americana. A empresa está avaliada em US$ 681,2 bilhões.
Na contramão desses números, Martin Holst Lange, vice-presidente executivo de desenvolvimento da Novo Nordisk ressaltou em nota que a empresa está “encorajada” pelo perfil de perda de peso contabilizado nos testes.
O executivo observou que, a partir dos insights obtidos no estudo, a empresa planeja explorar ainda mais o “potencial adicional de perda de peso da CagriSema”. E acrescentou que os resultados da próxima fase de testes são esperados para o primeiro semestre de 2025.