Depois de o Senado ter aprovado seu nome para ser o novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo participou de seu primeiro evento público com agentes do mercado financeiro. A expectativa estava em ter alguma sinalização sobre qual será a direção da autoridade monetária sob o comando do indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em sua primeira fala, Galípolo, que segue como diretor de Política Monetária até o fim do ano – ele assume a presidência do BC em 1º de janeiro –, mostrou uma manutenção do discurso atual da autoridade monetária. Ele reforçou as atuais preocupações da autarquia em relação à desancoragem da inflação, num momento em que a economia brasileira está aquecida.
“As expectativas de inflação permanecem desancoradas em patamar desconfortável para o BC”, disse ele em participação no Itaú BBA Macro Vision, na segunda-feira, 14 de outubro.
O tom da fala dele repetiu aquela da sabatina pela qual passou, na terça-feira, 8 de outubro, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) Senado. Na ocasião, ele procurou demonstrar que terá autonomia em relação a Lula, uma questão que preocupa os mercados, que veem o atual governo como mais intervencionista na economia.
Nesse sentido, Galípolo afirmou que cabe ao BC colocar os juros em patamar restritivo o suficiente, pelo tempo necessário, para atingir a meta de inflação, fala que foi reiterada em sua participação no Macro Vision.
“O BC vai continuar fazendo o necessário para cumprir a meta de inflação”, disse ele, destacando que, desde que chegou ao BC, em 2023, o Copom já subiu, manteve e cortou a Selic.
Segundo Galípolo, a desancoragem das expectativas é explicada principalmente com a atividade econômica, que “segue surpreendendo, apesar dos juros em patamares restritivos”.
Um ponto que ele destacou foi a força do mercado de trabalho, que tem pesado sobretudo na inflação de serviços. Galípolo afirmou que essa robustez sinaliza a necessidade de ser “cauteloso na gestão da política monetária”, indicando um processo mais lento de desaceleração da inflação. “A posição do BC é de ser mais conservador”, disse.
Além da situação da economia, Galípolo disse que questões como a viabilidade da meta de inflação de 3% e a credibilidade da autoridade monetária também pesam sobre a questão da desancoragem, ainda que em menor grau.
Credibilidade foi uma palavra bastante dita por ele durante o Marco Vision. Essa é uma discussão que veio a tona por, entre outras coisas, o voto dividido apresentado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, quando cortou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano.
Na segunda-feira, 14 de outubro, Galípolo buscou destacar a institucionalidade no BC e que a transição de comando está sendo feita de forma harmônica.
“Tivemos uma transição de poder entre dois governos em que não houve transmissão de cargos”, disse ele. “No BC, estamos convivendo de forma harmônica, técnica e com alto grau de coesão. É uma grande contribuição do BC para o País, um grande exemplo institucional, de que estamos nos dando bem e tem funcionado bem.”
A questão da institucionalidade também apareceu quando os assuntos foram intervenções no câmbio e o processo de decisão da política monetária. No primeiro tema, ele afirmou que a institucionalidade estabelece métricas para as intervenções e destacou que o câmbio é flutuante e intervenções ocorrem “por falta de liquidez ou excesso de volatilidade, sem percepção de algum nível de câmbio”.
No caso da decisão da política monetária, Galípolo ressaltou a importância dos modelos econômicos, que “organizam o debate”, afunilando a divergência entre os diretores. Mas destacou que “não há relação mecânica entre o modelo e a decisão”.