No Walmart, o fim de uma era com a aposentadoria de Rob Walton

No Walmart, o fim de uma era com a aposentadoria de Rob Walton


Mars, Koch, Cargill-MacMillan, Johnson. Esses são apenas alguns dos sobrenomes por trás das famílias mais ricas dos Estados Unidos, segundo a revista americana Forbes. Bem à frente deles, porém, quem está no topo da lista são os Walton, donos de uma fortuna estimada em US$ 267 bilhões.

Nessa equação bilionária, o elemento fundamental para o clã alcançar essa posição foi a participação detida no Walmart, a gigante do varejo fundada pelo seu patriarca, Sam Walton, em 1962, em Bentonville, no estado do Arkansas, e avaliada, atualmente, em US$ 484,5 bilhões.

A família ainda segue com uma posição relevante no quadro de acionistas da companhia, com uma fatia estimada em 45%. Em contrapartida, ela vem se distanciando cada vez mais da participação direta na definição dos rumos da operação.

O último sinal desse fim de uma era no Walmart foi dado na quinta-feira, 25 de abril, com o anúncio de que Rob Walton, filho mais velho de Sam Walton, optou por deixar o Conselho de Administração do grupo no próximo mês de junho.

Em comunicado, a rede informou que Brian Niccol, CEO da Chipotle Mexican Grill, será indicado ao posto. Com 79 anos, Rob, conselheiro desde 1978, foi chamado de “líder lendário” e ressaltado como um dos nomes por trás de alguns dos momentos mais marcantes da história da empresa.

“Sua liderança tem sido fundamental à medida que expandimos nossos negócios ao longo de tantos anos. Não há dúvida de que Sam ficaria muito orgulhoso. Gostaria de agradecê-lo por seu papel incrível e incomparável”, disse Greg Penner, presidente do board do Walmart, na nota.

Casado com Carrie Walton Penner, Greg Penner é genro de Rob. Com a saída do sogro, o único integrante que carrega o sobrenome da família e seguirá com um assento no Conselho de Administração será seu sobrinho, Steuart Walton.

Com a nomeação de Brian Niccol, o colegiado passará a ter metade dos seus dez assentos ocupada por membros independentes. “À medida que o nosso negócio segue evoluindo para atender nossos clientes, é imperativo que nosso board também evolua”, afirmou o conselheiro Tom Horton.

Conta bancária reforçada

Membro mais antigo do Conselho de Administração, Rob também presidiu o board. Ele assumiu o posto em 1992, após a morte do pai, e ocupou o cargo até 2015, quando foi substituído justamente por Penner. Nesse intervalo, a receita do Walmart saltou de US$ 43,8 bilhões para US$ 485,7 bilhões.

Seu papel na trajetória da varejista não esteve restrito, no entanto, ao âmbito do conselho. Filho mais velho de Sam Walton, ele ingressou no Walmart em 1969, depois de trabalhar com o pai em outro negócio da família, a loja 5&10, e de atuar como sócio de escritório de advocacia Conner & Winters.

Após ajudar na expansão inicial da rede, Rob passou por diversos cargos no Walmart, entre eles, vice-presidente sênior e vice-presidente executivo. Em paralelo, ele construiu um patrimônio estimado em US$ 77,4 bilhões, o que o coloca na 19ª posição no ranking dos bilionários da Forbes.

Essa fortuna também não está restrita aos ganhos gerados com o Walmart. Entre outros negócios, o bilionário detém participações em franquias esportivas como o Denver Broncos, time da National Football League (NFL).

Entretanto, boa parte dessa conta bancária foi recheada, de fato, com a valorização da rede varejista. Em especial, a partir de 2016, quando ele e seus irmãos, Jim e Alice, mais que dobraram a fortuna da família, ao adicionarem mais de US$ 100 bilhões ao “carrinho” do clã.

Nesse intervalo, os papéis do Walmart subiram de menos de US$ 20 para a cotação atual na casa de US$ 60. Diversos movimentos estão por trás dessa escalada. Muitos deles ajudam a explicar como a rede buscou se adaptar às mudanças do setor e à concorrência, em especial, com players como a Amazon.

“O Walmart evoluiu de apenas um varejista tradicional para um player multicanal. Nesse sentido, aquisições, parcerias, serviços de delivery como Walmart+ e Express Delivery, e o investimento na plataforma de e-commerce Flipkart são dignos de nota”, ressaltou a consultoria Zack Equities Research.

No relatório em que pontua esses avanços, publicado nesta semana, a Zacks ressalta ainda que o grupo está bem posicionado para acompanhar as mudanças no ecossistema do varejo e para fazer frente a rivais como a Target e a própria Amazon.

“Notavelmente, as ofertas de produtos do Walmart incluem quase tudo, desde alimentos a cosméticos, eletrônicos a artigos de papelaria, artigos de decoração a produtos de saúde e bem-estar, e vestuário a produtos de entretenimento, para citar alguns”, observou a consultoria.

Curiosamente, para chegar a esse estágio, o Walmart parece ter buscado parte de sua inspiração justamente em sua principal rival. Um exemplo mais recente dessa abordagem foi dado em março, quando a rede anunciou a oferta de uma plataforma de inteligência artificial a outros varejistas.

Antes de levar essa opção ao mercado, a companhia testou e amadureceu, por anos, a ferramenta como um apoio às suas próprias operações. Um formato muito semelhante ao adotado pela Amazon, cujo maior exemplo é a Amazon Web Services (AWS), seu braço de infraestrutura e serviços de tecnologia.

No caso da plataforma de IA do Walmart, o portfólio inclui, por exemplo, um sistema de otimização de rotas que, segundo a empresa, evitou que sua operação percorresse 30 milhões de quilômetros desnecessários, ao “desviar” de 110 mil “trajetos ineficientes”.

Antes dessa oferta, o portfólio do Walmart voltado a outros varejistas já incluía, entre outras alternativas, sistemas para aprimorar operações como check out, atendimento de pedidos e entregas online.

Existem outras amostras de como o Walmart está seguindo os passos da Amazon e indo além do varejo. Em fevereiro, a rede desembolsou US$ 2,3 bilhões na aquisição da Vizion, fabricante americana de smart TVs.

O pano de fundo para o cheque polpudo foi avançar nas receitas de publicidade, a partir do SmartCast, sistema operacional da Vizio. Nessa área, com o braço de mídia Walmart Connect, o grupo teve uma receita de US$ 3,4 bilhões em 2023, ano em que seu faturamento total foi de US$ 648,1 bilhões.

A saúde foi uma outra fronteira que passou a ser explorada pela empresa. A presença nessa área se dá, por exemplo, por meio dos Walmart Health Centers, cuja tese é oferecer serviços a preços mais acessíveis.

Aqui, de novo, antes de chegar ao mercado, a oferta foi testada internamente, com os funcionários do próprio grupo. E, atualmente, já está disponível em estados americanos como Arkansas, Flórida, Georgia, Illinois, Missouri e Texas.

Juntamente com esses movimentos, o Walmart também decidiu corrigir alguns de seus trajetos no mercado, especialmente fora dos Estados Unidos. Essa estratégia envolveu a redução de sua participação em operações em países como a Inglaterra.

Essa abordagem também se estendeu ao Brasil. Em 2018, a companhia vendeu o controle da operação local para a Advent, gestora americana de private equity. A rede atuava no País desde 1995, mas, com dificuldades na adaptação do mix, nunca chegou a decolar por aqui.

Em contrapartida, no mercado de capitais, o Walmart segue nessa trajetória ascendente iniciada em 2016. Em 2024, as ações da companhia acumulam uma valorização de 14,4%. Em doze meses, a alta registrada é de 19,2%.



Fonte: NeoFeed

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