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Eu já ouvi muito a frase “quem cria filho é mãe”, principalmente quando se fala em mães solo. Mas tem que ser assim?
Para 69% dos brasileiros, as mães devem ser as principais cuidadoras de filhos recém-nascidos. É o que aponta uma pesquisa Datafolha.
Os dados mostram que 71% dos homens concordam que mulheres devem ser as principais responsáveis pelos recém-nascidos e 67% das mulheres também consentem com a afirmação.
A diferença maior é geracional. Entre as pessoas de 60 anos ou mais, 83% concordam que as mulheres devem cuidar dos recém-nascidos, ante 54% dos jovens de 16 a 24 anos.
Convenhamos que esse pensamento é aplicado não apenas em bebês recém-nascidos, mas em todas as etapas da vida de um filho. “Ô mãe, onde está a toalha?”, “mãe, o que tem para jantar” e “mãe, aquela blusa está para lavar?” são frases que todo mundo conhece. Os mesmos jargões não existem quando o pai é o sujeito da frase. O cuidado é responsabilidade das mulheres, que se veem sobrecarregadas.
Há momentos ainda mais desgastantes. O puerpério, até 60 dias após o parto, é um deles. As variações hormonais somadas aos cuidados de um recém nascido têm impactos na saúde física e mental da mãe. Se amamentar exige muita energia, é um período de pouco sono. Ao mesmo tempo, os cuidados pessoais costumam ser deixados de lado. E, muitas vezes, mesmo se tratando de uma criança com pai e mãe, a presença dele é insuficiente.
A crença popular de que a mãe deve ser a principal cuidadora dos filhos —principalmente recém-nascidos— é reforçada quando temos uma licença-paternidade tão pequena no Brasil, de apenas cinco dias. Existe a ampliação de mais 15 dias do programa Empresa Cidadã, mas nem todas são adeptas.
“A grande maioria das mães não tem apoio adequado”, diz Camila Bruzzi, presidente da Copai (Coalizão Licença-Paternidade), que defende a ampliação do benefício.
“Eu sinto que no Brasil, quando você decide engravidar, você tem que estar num momento de carreira específico, ter um bom relacionamento com o seu chefe, ter todas essas coisas que estão envolvidas”, afirma Cintia Cruz, que mora na Finlândia com o marido, onde ganharam o primeiro filho. No país, cada responsável tem 160 dias de licença para usar até que o bebê complete dois anos.
Para o consultor em parentalidade, diversidade e inclusão da Filhos no Currículo, Vinicius Bretz, a preocupação mencionada por Cruz se relaciona com a cultura instaurada no Brasil de que a responsabilidade é da mãe.
A soma de todos esses fatores resulta em dificuldade maior para a mulher voltar para o mercado de trabalho. Uma pesquisa conduzida pela LSE (London School of Economics) e pela Princeton University aponta que 24% das mulheres deixam o mercado de trabalho no primeiro ano após o nascimento do primogênito, e que, após dez anos, 15% ainda estão fora dele. Ou seja, a maternidade ainda é fator excludente.
O cuidado dos filhos, e o ônus dessa responsabilidade, segue caindo sobre as mulheres. Criar é dever a ser compartilhado entre pai e mãe.
Para ler na Folha
A repórter Andreza Oliveira conta nesta reportagem histórias de mulheres com mais de 60 anos que mudaram de carreira e se consolidaram como modelos –profissão que, até pouco tempo atrás, mulheres não duravam nada depois dos 30. Ela reflete sobre novas perspectivas de vida e como a sociedade pode acolher melhor o envelhecimento.
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