A partir de 1º de novembro, entra em vigor a regulação que vai trazer transparência para as comissões pagas na distribuição de investimento (CVM 179) Dessa forma, o cliente vai entender quanto está pagando pelo serviço de assessores e plataformas e, como consequência, avaliar o que tem sido entregue.
Esse é um passo importante para a maturidade do setor e do investidor. A indústria de investimentos no Brasil evoluiu por meio de comissões – ou rebates de um produto financeiro que geram uma comissão ao distribuidor. O problema é que o cliente nunca soube o quanto paga, além da falsa percepção de que o serviço de alocação de investimentos é gratuito.
“O brasileiro gosta de ganhar a qualquer custo. Desde que ele veja que está ganhando, ele prefere não saber detalhes de como está funcionando o sistema. Estamos vendo isso agora com as bets”, diz Lucas Ferraz, fundador e CEO da assessoria Faz Capital, ao Wealth Point, programa do NeoFeed que tem o apoio do Banco Master.
Hoje, a esmagadora maioria do mercado financeiro atua no modelo de remuneração. A transparência desses custos pode criar um investidor mais consciente. Mas será preciso ultrapassar duas barreiras: a falta de educação financeira e cultural e a imaturidade financeira.
“A questão não é só o custo, porque o barato pode sair caro. É a mesma coisa de aplicar em título de renda fixa com taxas altas e em um ano sofrer um default. A taxa era boa, mas o produto era ruim. É preciso evoluir na educação financeira em todos os sentidos”, afirma Luccas Fiorelli, sócio fundador da assessoria HCI Invest.
Enquanto o modelo de comissão ganha transparência, o outro modelo do setor começa a ganhar espaço. Trata-se do fee based, em que o cliente e o wealth management acordam uma taxa percentual de cobrança sobre o patrimônio. Nele, muitas vezes, as taxas comissionadas são repassadas de volta para o cliente. Embora bastante raro atualmente, esse modelo deve ganhar fôlego, na visão dos dois especialistas e empresários.
Tanto a HCI Invest como a Faz Capital trabalham com ambos os modelos na assessoria de investimento, enquanto que no wealth management usam o fee based. Eles acreditam que outras assessorias devem seguir o mesmo caminho.
Mas, neste modelo, apesar de ser fácil de acompanhar os custos pagos em um cheque anual à assessoria, ele não necessariamente é o melhor para todos os investidores, podendo sair mais caro que o modelo comissionado.
Investidores que possuem um portfólio focado em produtos que não pagam comissões, como ações e ETFs, podem se beneficiar mais do modelo comissionado. Assim como os investidores que não movimentam muito a carteira, algo que não gera comissões. E para cliente menores, o fee pode pesar mais no bolso.
E, acima de tudo, depende do perfil do cliente. Há os que querem uma gestão discricionária, contratando um profissional para cuidar do seu portfólio, e há os que preferem participar ativamente dos seus investimentos, adotando assim o modelo de venda de produto.
“Eu tive um cliente de patrimônio elevado que avaliamos que fazia sentido ele ir para um wealth, no modelo fee. Mas ele queria comprar e vender e mexer na carteira dele o tempo todo e não se adaptou”, diz Fiorelli.
A tendência, no entanto, é que, aos poucos, o modelo fee based ganhe mais espaço. Se será como nos Estados Unidos, onde ele é dominante, só o tempo dirá. Mas o que não resta dúvidas é que a transparência ajudará a separar os assessores que geraram valor para o cliente daqueles que não têm isso como prioridade.
“Uma carteira de investimentos precisa estar alinhada ao perfil do cliente, que não é só o seu perfil de risco, é o seu momento de vida. É preciso questionar e entender o que está sendo oferecido e porque”, analisa Ferraz.