As debêntures incentivadas bateram recorde de captação em 2024, com arrecadação de R$ 120,3 bilhões de janeiro a novembro — maior valor de toda a série histórica, segundo a Anbima, a associação que representa as entidades dos mercados financeiro e de capitais.
O volume representa alta de 77,4% em relação a igual período do ano anterior. O setor de energia elétrica liderou as emissões nos onze primeiros meses do ano, concentrando quase 40% do volume total emitido, seguido de logística (23,5%) e saneamento (10,1%).
Para analistas, ainda há uma janela de oportunidade em 2025. O boom desse ativo, segundo Angelo Belitardo, diretor de gestão da Hike Capital, pode ser explicado por três motivos.
O primeiro deles é a necessidade de recursos para destravar projetos de infraestrutura, o que fez empresas acelerarem as emissões.
Outra razão é a mudança no prazo de carência de LCIs e LCAs, que provocou o desempenho positivo das debêntures incentivadas por ter estimulado investidores a buscarem outros investimentos isentos mais vantajosos.
E, por fim, o nível da curva de juros acima da taxa Selic terminal estipulada pelo Banco Central também gerou uma corrida pelos papéis.
As negociações de debêntures incentivadas no mercado secundário alcançaram volume recorde de R$ 254,7 bilhões, o que equivale a um crescimento de 97,3% em relação ao registrado em todo o ano de 2023 e maior também que os anos anteriores da série histórica.
O chefe da América Latina e diretor regional executivo da Apex Group, Roberto Cortese, diz que, com alto custo de captação por meio das instituições bancárias, as debêntures foram a solução mais viável encontrada por empresas para financiar projetos.
Para ele, a necessidade de a União cortar gastos fará com que outros projetos de infraestrutura também precisem ser bancados pela iniciativa privada, provocando novas emissões.
“Por enquanto, temos investidores buscando ativos isentos, enquanto as empresas procuram um lugar para se financiarem. Com isso, temos alta oferta e alta procura”, diz Cortese.
A redução da percepção do risco fiscal no Brasil e a aceleração do ritmo dos cortes da taxa americana poderiam mudar esse cenário, mas não parece ser o que vai acontecer. Depois de o Federal Reserve sinalizar que faria quatro cortes de juros em 2025, o banco central dos Estados Unidos voltou atrás e passou a considerar apenas duas reduções no próximo ano.
Fernando Siqueira, head de research da Eleven Financial, no entanto, acredita que o florescimento das debêntures incentivadas pode estar com os dias contados. A maior parte das emissões deve ser de empresas com risco elevado.
Com taxas altas, algumas companhias podem pensar duas vezes antes de emitirem dívidas no mercado. Além disso, na opinião dele, investidores têm se mostrado cada vez mais cautelosos em relação a esse tipo de produto por causa do nível de endividamento das empresas.
“Em 2024, sentimos a alta no fluxo também por causa da demanda represada em 2023, devido à crise das Americanas”, afirma Siqueira.
Outra coisa que influenciou a captação recorde, em sua visão, foi a mudança na regra de investimentos como CRIs e CRAs, que levou investidores a buscarem outras opções de ativos isentos. “Por isso, não acredito que o fluxo de 2025 seja tão intenso quanto foi este ano”, diz.