Qualquer tendência global do setor privado neste ano passa pela chegada de Donald Trump à Casa Branca. O presidente eleito dos Estados Unidos, que toma posse em 20 de janeiro, é a sombra que pode fazer um negócio prosperar ou naufragar.
O jornal Financial Times (FT) listou o que deve ser tendência, quais devem ser os riscos e quais empresas podem se sair melhor ou pior em 2025. Não é surpresa, por exemplo, que no campo da inteligência artificial, a bola da vez deve ser a xAI, de Elon Musk.
De acordo com o FT, o bilionário, que vai liderar o Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos no governo Trump, quase perdeu o boom da IA generativa. Mas a xAI conseguiu cativar engenheiros e já está avaliada em US$ 50 bilhões.
“Graças à sua estreita relação com Donald Trump e ao envolvimento pessoal numa iniciativa para remodelar o governo dos EUA, a xAI pode estar bem posicionada para desempenhar um papel fundamental na administração”, diz o FT.
Para 2025, a projeção é que a IA generativa deverá passar de “mais profunda” para “mais ampla”, à medida que mais países — e empresas — procuram assumir o controle daquilo que consideram uma tecnologia estrategicamente importante.
O risco está, exatamente, na aparição de uma crise tecnológica. No ano passado, empresas que constroem infraestrutura de IA pediram cheques com uma sequência cada vez maior de zeros. Analistas do Citi projetam que as big techs devem ter gastado cerca de US$ 209 bilhões com IA. E está cada vez mais claro que levará anos até que esses negócios se tornem lucrativos.
Boom tecnológico ou bolha? É difícil precisar quando haverá essa passagem. Mas “os investidores de Wall Street mantiveram a fé no ano passado”, diz o texto, ao afastar qualquer turbulência em meio aos avisos de que os gastos estavam acima da demanda pela IA.
Os “bárbaros” de Wall Street continuam sob os holofotes e devem ganhar um incentivo da nova administração Trump. Há a expectativa de uma desregulamentação que restringe a maioria dos investidores de acessar mercados ilíquidos, principalmente os alavancados. Essa abertura deve abrir as portas do mercado de private equity, que é calculado em US$ 40 trilhões.
Para o FT, Blackstone, KKR e Apollo Global são gestoras que entendem como funciona o crédito privado para empresas de capital fechado. Um exemplo é a Medline Industries, fornecedora de peças médicas com sede em Chicago. De empresa familiar pouco divulgada até 2021, ela se transformou em uma das maiores aquisições de todos os tempos quando Blackstone, Carlyle e Hellman & Friedman compraram o controle acionário por US$ 34 bilhões.
“O boom nas aquisições de empresas de software desde 2014 até ao presente alimentou o aumento do crédito privado porque os negócios exigem empréstimos personalizados”, escreve o FT.
O regresso de Trump trouxe um otimismo acentuado a Wall Street. Há projeção de aumento de M&As e de outras ondas de desregulamentação. “Uma Wall Street altamente alavancada conseguiu absorver taxas de juros mais elevadas até agora, mas o feitiço poderá se romper caso elas voltem a subir novamente”.
Quem está de olho na volta da aceleração das vendas são as montadoras de carros elétricos. Os analistas estimam que os veículos elétricos representaram cerca de 20% das vendas globais de automóveis em 2024, com o maior crescimento vindo da China. Mas o que se viu no oriente foi exceção.
As montadoras estiverem pressionadas ao longo do ano no ocidente. As vendas ficaram abaixo do esperado e algumas empresas chegaram a entrar com pedidos de recuperação judicial. O caixa das montadoras foi diminuindo. A demissão do presidente da Stellantis, Carlos Tavares, por exemplo, foi uma das grandes surpresas do setor automotivo.
Os veículos elétricos ainda carecem de confiabilidade e preço competitivo, na visão dos consumidores. Por isso, dependem que 2025 mantenha o mesmo roteiro dos anos anteriores: a continuidade de subsídios de governos para o desenvolvimento da tecnologia.
Quem pode “descarregar” o segmento é justamente Donald Trump, que prometeu rever todos os benefícios concedidos pelo governo americano. Isso significa impor taxas de importação, principalmente aos produtos chineses. A cadeia de abastecimento de componentes para veículos elétricos é complexa e altamente dependente da China.
“O maior risco para a indústria é uma nova onda de perturbações na cadeia de abastecimento se os pequenos fornecedores de peças falirem devido à lentidão nas vendas de veículos”, diz o FT.
Se todos os olhos estão voltados para a China, Trump paira sobre tudo, aumentando a incerteza sobre o que pode dar certo e o que pode dar errado neste novo ano.