Decisões sobre juro não encerram as atividades de bancos centrais no abastecimento de informações para os mercados. Ao contrário, aumentam sua relevância – quesito em que o Banco Central (BC) e o Federal Reserve (Fed) serão destaque nos próximos dias.
O BC publicará documentos que podem orientar expectativas quanto à gestão monetária em meio ao anúncio da inflação em setembro pelo IPCA-15 e IGP-M. O Fed dará voz ao alto comando.
O chairman Jerome Powell encabeçará a lista de seis dirigentes da instituição que deverão reforçar mensagens pela decisão de iniciar o corte da taxa básica na quarta-feira, 18 de setembro, em 0,50 ponto percentual, para 4,75% a 5%, e sinalizar mais cortes à frente por um mercado de trabalho preocupante.
No Brasil, o BC estará na vitrine com a divulgação dos documentos mais relevantes elaborados pelo corpo técnico: Comunicado do Copom, Ata do Copom e Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Dos três documentos, o Comunicado já foi liberado com a definição do aumento da Selic em 0,25 ponto, para 10,75%, e num tom duro quanto à desancoragem da inflação, a economia aquecida e sem ociosidade e a relevância da prática de uma política fiscal “crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida pública”.
A Ata do Copom, que deverá reafirmar a indicação de mais aperto, mas sem compromisso formal, será publicada na terça, 24 de setembro e o Relatório de Inflação do 3º trimestre, na quinta, 26. Dia em que o governo americano anunciará a terceira e última leitura do PIB do 2º trimestre. Na segunda estimativa, o PIB saltou 3%. No 1º trimestre, os EUA cresceram 1,4%.
Por aqui, em entrevista coletiva, Roberto Campos Neto e o diretor de Política Econômica Diogo Guillen, que integrará o comando do BC até o final de 2025, apresentarão o RTI num modelo de divulgação já tradicional e que deve perdurar, a partir de 2025, quando Gabriel Galípolo presidir a instituição.
A chancela do Senado para que Galípolo possa assumir o cargo, é carta marcada após a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos em 8 de outubro. Um dia cheio no Congresso, no pós-eleição, e quando a Comissão Mista do Orçamento também receberá a ministra do Planejamento, Simone Tebet, para discutir a proposta orçamentária de 2025 e seu déficit zero.
No BC, a combinação das mensagens dos três documentos-chave da instituição, afora detalhes técnicos, deverá reiterar o compromisso com a meta de inflação de 3%, enquanto o RTI deverá mapear mudanças que ocorreram nos cenários externo e doméstico entre julho e setembro.
Projeções mantêm juro em rota “salgada”
Nesse período, a elevação dos juros pelos bancos centrais deu lugar à perspectiva, que vem sendo confirmada, de flexibilização das políticas monetárias sem o abandono do compromisso com o controle da inflação que declina nas principais economias em direção à meta padronizada em 2%.
No Brasil, embora em nível elevado, a inflação corrente sofreu acomodação. Entretanto, as expectativas seguem distantes da meta. Um descolamento que o BC descreveu como um processo de desinflação mais lenta no RTI de junho – documento que também pontuou a interrupção do ciclo de corte da Selic e a manutenção em 10,50%.
Caberá, portanto, ao RTI do 3º trimestre justificar a retomada do ciclo de alta da taxa para patamar ainda mais restritivo. E que deve perdurar, ao menos, até meados de 2025, segundo projeções de economistas e a contragosto do presidente Lula que disse, recentemente, não entender a razão de o BC manter a Selic em 10,50%, nível alcançado em 8 de maio e agora superado.
Após a “superquarta”, instituições passaram a projetar Selic a 11,75% no fim do ano e até 12,25% em janeiro. Estimativas que, combinadas à inflação esperada, sinalizam a manutenção do juro real brasuca nas alturas. Superior a 7%. Doze meses à frente, nota o economista Jason Vieira, da consultoria MoneYou, o Brasil, com margem real de 7,33%, sustenta a segunda posição entre 40 países, sendo ultrapassado apenas pela Rússia, que paga 9,05%.
Confirmado o prognóstico da maioria dos economistas, o Brasil continuará registrando condições financeiras altamente restritivas e apontadas como a principal causa da redução de estimativas para expansão do PIB em 2025, ante o desempenho mais robusto esperado para este ano.
Esse é mais um ponto a ser avaliado pelo Relatório de Inflação que deverá constatar a força da atividade. No RTI do 2º trimestre, o BC citou o crescimento do PIB em 0,80% no 1º trimestre. Resultado que justificou o aumento da estimativa do BC para o PIB deste ano, de 1,9% para 2,3%.
Novo ajuste na projeção deverá ocorrer incluindo, portanto, o desempenho da economia no 2º trimestre, de 1,4%. Não é exagero esperar que o BC eleve sua estimativa para cerca de 3% ou mais, alinhando-se ao Ministério da Fazenda que aguarda expansão de 3,2%, ante 2,5% prevista anteriormente.
Repetindo a prática observada ao longo dos anos, na edição do RTI de setembro o BC deverá projetar o PIB para o exercício seguinte. Portanto, 2025. Há um ano, quando a autoridade monetária fez esse exercício, o PIB esperado para 2024 era de 1,8%. E a economia brasileira deverá crescer quase o dobro.
É exagerada, portanto, a avaliação costumeira do alto escalão do governo de que o mercado sempre erra as projeções para os indicadores econômicos. A atualização de documentos oficiais mostra que o mercado não “erra” sozinho.
Também compartilha acertos ao constatar que a atividade reage, quase prontamente, ao mercado de trabalho forte, aumento de salários e oferta de crédito, além da transferência de renda via programas sociais. Tanto é, que estão aí, mês a mês, arrecadações inéditas de tributos para provar.