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Você deve ter visto um vídeo que circulou nas últimas semanas no qual a cantora pop Madonna, durante apresentação em Los Angeles, chama a atenção de um homem porque ele supostamente “não estaria dançando” ao som de sua música.
O homem em questão era cadeirante e, ao perceber a gafe, Madonna se desculpa dizendo que o que falou foi “muito politicamente incorreto”. E segue o baile.
Não vou dizer aqui o óbvio da fala capacitista da cantora, já que meu colega, Jairo Marques, já fez isso em sua coluna aqui na Folha. O que quero chamar a atenção é para como as pessoas com deficiência são invisibilizadas na sociedade, não apenas porque os espaços não são adaptados para sua presença, mas também porque, salvo por quem tem algum familiar ou conhecido com deficiência, simplesmente passam ao largo da vida cotidiana.
- Quantas vezes já se deparou com algum prédio ou local público cujo único acesso é por escadas?
- Andar pelas calçadas de grandes cidades no Brasil pode ser uma corrida de obstáculos, imagine para quem é cadeirante.
- E isso sem falar de outras formas de deficiência, menos visuais, que sequer são consideradas quando falamos de direitos dessa população.
A verdade é que grande parte das pessoas que vivem com deficiência enfrentam situações ainda alarmantes no Brasil e no mundo no que diz respeito a direitos básicos.
1 em 6 pessoas
Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde), 1,3 bilhão de pessoas no mundo vivem com alguma deficiência que impacta significativamente a vida delas. Esse número representa 16% da população mundial, ou uma a cada seis pessoas.
A prevalência de pessoas vivendo com deficiência tem aumentado a cada ano no mundo, diz a OMS. Quando falamos de deficiência, existem vários tipos e causas, desde as que são de nascença até deficiências que podem ser adquiridas ao longo da vida.
Ainda de acordo com a entidade, cerca de 10% da população de qualquer país possui algum tipo de deficiência, dos quais 5% são mentais, 2% física, 1,5% deficiência auditiva, 0,5% deficiência visual e 1% múltipla.
Riscos à saúde
Além dos fatores associados à dificuldade no acesso à saúde, que podem agravar o quadro de pessoas com deficiência, elas também são mais sujeitas a sofrerem violências (físicas ou mentais), discriminações, preconceito, estigma, pobreza e serem excluídas da vida educacional ou de trabalho.
Os fatores que contribuem para essa desigualdade são estruturais —como a adaptação das cidades e dos ambientes de convívio— e também envolvem as chamadas determinantes sociais de saúde, que incluem falta de acesso ao saneamento, moradia digna, higiene e saúde.
O acesso à saúde e atendimento médico digno é seis vezes mais difícil para pessoas com deficiência do que para o público em geral.
Pessoas com deficiência também possuem um risco aumentado para desenvolver outros fatores de risco, como diabetes, obesidade, asma, AVC (acidente vascular cerebral), problemas na saúde bucal e condições mentais, como depressão.
Violência cotidiana
Um estudo global de 2022 apontou que 31,7% das crianças e adolescentes de 0 a 18 anos com deficiência foram vítimas de violência.
No Brasil, segundo os dados do Atlas da Violência, a cada hora uma pessoa com deficiência é vítima de violência no Brasil. O grupo que mais sofre é o que tem deficiência intelectual e as mulheres, com mais de 40 agressões para cada 10 mil habitantes.
Por isso, ações cotidianas que podem parecer inofensivas, como uma fala capacitista (exemplo no caso da Madonna) ou dificuldades no acesso a prédios e estabelecimentos, são também formas de violar os direitos de pessoas com deficiência e podem acabar levando a danos físicos e mentais ao longo da vida.
Aproveito para deixar uma dica de leitura, neste dia Mundial da Conscientização do Autismo, sobre as barreiras no diagnóstico precoce de meninas no espectro.
CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR
Novidades e estudos sobre saúde e ciência
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Exercício físico reduz risco de insônia. Uma pesquisa conduzida na Noruega constatou que a prática constante de atividade física (pelo menos duas a três vezes por semana) reduz significativamente o risco de desenvolver insônia recorrente em adultos. Com 4.399 participantes, os pesquisadores analisaram a condição de saúde, atividade física, duração do sono e sonolência por um período de dez anos. Como resultado, aqueles que praticavam atividade física com frequência tinham um risco 42% de ter dificuldade para dormir. O estudo foi publicado na revista BMJ (British Medical Journal).
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Compostos de plantas com ação de emagrecimento. Cientistas encontraram dois compostos de plantas com ação nos receptores GLP-1 no organismo, associados ao controle do apetite, que podem levar ao desenvolvimento de drogas para perda de peso com menos efeitos colaterais do que os compostos no mercado, afirma Elena Murcia, da Universidade Católica de Murcia, na Espanha. Os dois compostos foram obtidos com a ajuda de inteligência artificial e apresentados no Congresso Europeu de Obesidade. A expectativa é começar a produzir drogas para testes em laboratório.