A Previ e a Abrapp, a associação das entidades fechadas de previdência complementar, firmaram um convênio para ampliar a adesão e a adoção do rating ASGI no setor. Criado pelo maior fundo de pensão do Brasil, que detém cerca de R$ 260 bilhões sob gestão, a classificação vai ajudar entidades menores a analisar investimentos sob o aspecto ambiental, social, de governança e de integridade.
A proposta é que o rating criado e usado pela Previ ganhe algumas adaptações necessárias para atender o setor como um todo e seja disponibilizado para as fundações associadas à Abrapp – hoje 233, que somam cerca de R$ 1,2 trilhão sob gestão.
“Precisávamos ampliar essa discussão e acreditamos que compartilhar o nosso balizador com entidades menores, que não podem fazer o mesmo estudo é fundamental”, afirma João Luiz Fukunaga, presidente da Previ, em entrevista ao NeoFeed.
Conforme o NeoFeed revelou com exclusividade em outubro do ano passado, a ideia da Previ era criar um selo ASGI, mas houve questionamentos sobre a validade de a fundação passar a ser uma certificadora e um modelo para os demais fundos de pensão sem adaptações.
Com o rating, o público em geral não terá acesso às classificações. Somente as associadas à Abrapp poderão acessar um site restrito – que está em fase final de criação – onde estarão os ratings das empresas já avaliadas pela Previ.
“Estamos evoluindo ainda como sociedade em diretrizes sustentáveis para investimentos. Neste primeiro momento, queremos essa discussão dentro das fundações, que estão comprometidas com investimento de longo prazo e que por definição devem levar em conta essas questões”, diz Marcio Antonio Chiumento, diretor de participações da Previ.
A análise da Previ gera uma nota de 0 a 100 para cada empresa – quanto mais alta, melhor o indicador. E essa nota gera um rating de AAA ao D ou F no caso de não ser possível nem mesmo dar uma nota. O mecanismo é similar ao das agências de classificação de risco nas notas soberanas.
Atualmente, há 88 empresas com nota ASGI pela Previ, entre listadas na bolsa de valores ou não. Nenhuma recebeu classificação AAA ou AA. Apenas nove são A, 37 são BBB; 21 são BB; e 13 são B, e o restante tem notas menores.
Na média, o pior tema de cobertura das 88 empresas analisadas pela Previ é o social, com apenas 45% de aderência aos critérios, seguido pelo ambiental (58%), integridade (77%) e governança (84%).
A Previ deu detalhes ao NeoFeed do que é levado em consideração na análise e sua metodologia. Há um questionário com cerca de 200 perguntas, a depender do setor da empresa, que foi elaborado com base no Conselho de Padrões Contábeis de Sustentabilidade (SASB), e na metodologia de sustentabilidade da empresa americana MSCI.
O preenchimento é feito por analistas com base em informações públicas. Inclusive, a transparência e acessibilidade aos dados é um item que é fortemente avaliado.
São 29 temas que são abordados, sendo 12 ambientais, com questões como exploração de oportunidades em tecnologias limpas, energias renováveis e green building, pegada de carbono nos produtos, emissões de gases de efeito estufa e poluição por emissões tóxicas e de resíduos.
As questões sociais são abordadas em 11 temas, como oportunidade de inclusão financeira, relação com trabalhadores, saúde e segurança dos stakeholders. Já a governança é avaliada nos temas: composição do conselho de administração, política de remuneração dos funcionários, composição acionária e transparência de dados contábeis.
E a Previ analisa também a integridade das empresas, por meio da ética nos negócios. Esse é um item que avalia as políticas da empresa para lidar com conflitos de interesse, a existência e a usabilidade de canais de denúncia e o código de ética entre outras coisas.
Utilizado pela Previ desde 2021, em um trabalho que vem evoluindo desde 2007, o rating é um balizador nos seus critérios de investimento da entidade. Porém, não é um modelo de exclusão. Ele ajuda a avaliar os processos e avanços que as empresas estão buscando.
Isso significa que uma empresa com uma avaliação ASGI ruim pode ser investida pela Previ se mostrar que está progredindo.
“Queremos trazer a discussão à tona e engajar outras fundações a utilizarem esses critérios em seus investimentos. Assim, as empresas podem ir melhorando as suas formas de atuação. ASGI lá fora é coisa séria, e é fomentando isso que teremos regulação voltada a questão”, afirma Fukunaga.