A polarização da política nos Estados Unidos tornou muito difícil a convergência de republicanos e democratas em ideias e políticas públicas.
Mas quando se trata da convergência da inflação para a meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), dois proeminentes economistas desses dois partidos demonstram estar na mesma página.
Participantes de um webcast promovido na terça-feira, 4 de junho, pelo Economic Club of New York, organização sem fins lucrativos dedicada a promover o estudo e discussões de questões sociais, econômicas e políticas dos Estados Unidos, Glenn Hubbard e Larry Summers rejeitaram a tese de que a inflação americana poderá convergir para 2% sem nenhum tipo de impacto sobre a economia do país.
“Eu acredito que a inflação, neste momento, está presa em um patamar bem acima da meta de 2% do Fed”, disse Hubbard, ex-assessor para assuntos econômicos do ex-presidente George W. Bush, segundo relato da agência de notícias Dow Jones. “Não estamos num bom nível [de inflação].”
Para ele, economistas que atribuem a dificuldade de desacelerar a inflação ao aumento dos custos de moradia estão exagerando o peso desse item. Segundo Hubbard, mesmo se esses custos fossem mais baixos, não seria suficiente para a inflação atingir os 2%.
Considerando o nível atual de preços da parte de habitação, todos os outros itens da cesta de inflação teriam de ser zero para a inflação atingir a meta de 2%, de acordo com o economista republicano.
Larry Summers, que foi conselheiro do ex-presidente Barack Obama e serviu como secretário do Tesouro durante o mandato de Bill Clinton, concordou que os dados sobre a inflação, e sua trajetória, são problemáticos. “Eu não acredito que estamos em uma trajetória convincente em direção à meta de inflação de 2%”, afirmou ele no webcast.
Summers disse ainda que não vê muito espaço para o Fed reduzir as taxas de juros, afirmando que o tamanho da despesa fiscal oriunda da pandemia levou o nível neutro dos juros para cerca de 4,5%.
O valor está bem acima dos 2,6% estimados pelo Fed, mais perto do patamar atual dos juros, que está na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. “Isso provavelmente significa menos cortes por parte do Fed do que está sendo antecipado”, disse Summers.
O ex-secretário do Tesouro vem desde o ano passado demonstrando ceticismo com a capacidade do Fed de convergir a inflação para a meta. Em setembro, numa entrevista à Bloomberg, ele disse que a economia americana está numa “situação difícil de gerir”, com uma atividade muito robusta.
No mês passado, em evento promovido pelo The Hoover Institution, Summers afirmou que, nos próximos três anos, o Fed terá de aceitar uma inflação entre 2,75% e 3%. Perseguir a meta de 2% provocará “uma recessão bastante grave”.
Hubbard, por sua vez, disse hoje que possivelmente a economia americana deve passar por uma recessão nos próximos trimestres, mas não será severa. “Aviões não ficam no ar para sempre, eles pousam”, afirmou. “Eu espero uma aterrissagem relativamente suave [da economia].”