Não faltam títulos e dados para traduzir o peso do Walmart na economia americana. Fundado em 1962, por Sam Walton, cuja família é a mais rica dos Estados Unidos, o grupo ostenta o status de maior varejista do país e lidera, desde 2013, o ranking Fortune 500.
À parte dessa relevância, a gigante do varejo corre o risco de perder o posto de empresa dona da maior receita no mercado americano. E quem ameaça desbancá-la do topo desse pódio é um nome que, há tempos, vem desafiando o reinado da companhia: a Amazon.
Em 2023, nos indicadores mais recentes dessa disputa, o Walmart apurou um faturamento de US$ 648,1 bilhões, o que representou uma alta anual de 6%. No mesmo período, a receita da Amazon foi de US$ 574,8 bilhões, um salto de 12% sobre 2022.
Outra medida reforça como a distância entre as duas operações tem diminuído. Há dez anos, quando assumiu a liderança do Fortune 500, o Walmart registrou uma receita de US$ 476 bilhões. Naquele mesmo intervalo, a Amazon reportou uma receita de US$ 75 bilhões.
A partir desse quadro, há quem aposte que a gigante fundada por Jeff Bezos tem tudo para ultrapassar, em breve, o Walmart. Essa projeção se baseia nos desafios à frente da varejista para manter sua liderança e, ao mesmo tempo, no fôlego que a Amazon vem mostrando para assumir a dianteira.
Uma reportagem publicada nesta quarta-feira, 15 de maio, pelo The Wall Street Journal traz alguns números que ilustram essa competição. Segundo o jornal americano, para alcançar sua meta de crescer 4% em 2024, o Walmart precisa buscar uma receita adicional de US$ 26 bilhões.
A rede não terá, porém, um percurso fácil pela frente para tornar essa cifra realidade. Um indicador que reforça essa dificuldade é o fato de que, atualmente, cerca de 90% dos americanos já são consumidores da companhia.
Essa margem mais restrita é reforçada quando se compara as fontes de receitas das duas empresas. No caso da Amazon, uma parcela significativa já é gerada por outros negócios não relacionados diretamente ao varejo.
Nessa direção, entre outros exemplos, a Amazon Web Services (AWS), braço de infraestrutura e serviços de tecnologia da Amazon, faturou R$ 90,8 bilhões em 2023. No mesmo período, a área de publicidade da companhia registrou uma receita próxima de US$ 47 bilhões.
O Walmart também tem explorado outras frentes além do seu negócio tradicional, em um caminho muito semelhante ao adotado, há mais tempo, pela Amazon. Isso inclui, entre outros componentes, sistemas desenvolvidos para sua operação e que passaram a ser ofertados a outros varejistas.
A estratégia também envolve a entrada em outras áreas, como saúde e publicidade. Mas ainda não se traduziu em fatias relevantes no resultado da companhia, que segue gerando boa parte dos seus ganhos no varejo.
Um exemplo da distância entre as duas teses é o segmento de publicidade. O Walmart registrou uma receita de US$ 3,4 bilhões na área em 2023. Já a Amazon divulgou um faturamento de US$ 11,8 bilhões nesse mesmo espaço apenas no primeiro trimestre de 2024.
Como um agravante, nem todas as iniciativas do Walmart fora da sua “zona de conforto” têm sido bem-sucedidas. Esse é o caso dos Walmart Health Centers, projeto do grupo com a proposta de oferecer serviços de saúde a preços mais acessíveis.
Depois de expandir essa rede nos últimos cinco anos para estados americanos como Arkansas, Flórida, Georgia, Illinois, Missouri e Texas, a varejista anunciou em abril deste ano que fecharia 51 clínicas instaladas em áreas anexas às suas lojas.
Nesta semana, em outro sinal de que o grupo não vive um momento dos mais favoráveis, o Walmart confirmou que fará um corte de “centenas” de profissionais, além de transferir funcionários que trabalhavam remotamente em outras cidades para a sua sede, em Bentonville.
Segundo o The Wall Street Journal, que cita pessoas próximas à empresa, a possibilidade de ser ultrapassada pela Amazon começou a ser discutida no Walmart durante a pandemia, quando a rival turbinou ainda mais seus números.
Nesse contexto, uma das áreas mais ameaçadas na visão das lideranças da varejista é o negócio tradicional, em categorias como produtos supermercados e mercearia, que respondem pela maior parte das receitas do Walmart nos Estados Unidos.
Diante desse cenário, a empresa, liderada pelo CEO Douglas McMillon, vem buscando se defender em seu “território”. Em janeiro, o Walmart anunciou o plano de abrir ou ampliar 150 lojas nos próximos cinco anos nos Estados Unidos, em sua primeira grande expansão em quase uma década.
Já no mês passado, o grupo lançou uma linha de alimentos premium, batizada de Bettergoods, na tentativa de atrair novos consumidores e, ao mesmo tempo, aumentar o tíquete médio daqueles que já estão em sua base.
Esse pacote traz ainda medidas como a ampliação do número de sellers em seu marketplace, do mix e de recursos digitais nas lojas. Além da busca por ganhar mais espaço nas compras dos consumidores de maior poder aquisitivo, dado que a maioria dos seus consumidores são de baixa e média renda.
Todas essas iniciativas têm sido municiadas por uma avalanche de dados, por meio da área liderada por Jen Acerra, vice-presidente de consumer insights e estratégia do Walmart. A executiva chegou ao grupo em 2021, depois de passar por empresas como Kraft-Heins e Hyatt.
Acerra lidera um time de cientistas de dados, especialistas em análise avançada e pesquisadores de consumo que examinam milhões de informações diariamente em busca de insights sobre quem está fazendo suas compras nas lojas da rede.
Enquanto compila e analisa esses dados, o Walmart, mesmo avançando, também vem mostrando menos fôlego que sua rival em outro espaço: o mercado de capitais. Suas ações acumulam uma valorização de 13,6% em 2024 e a empresa está avaliada em US$ 485,7 bilhões.
Já os papéis da Amazon registram alta de 26,7% no ano, dando à companhia um valor de mercado de US$ 1,93 trilhão.