Yago Martins: Se não transar é porta a Deus, incel é santo – 04/06/2024 – Equilíbrio


Para explicar a um casal cristão por que se masturbar para aliviar o tesão é pecado mesmo sem transar, o pastor evangélico Yago Martins recorre ao churrasco.

Ele diz que o ato solo seria a mesma coisa que ir a um restaurante por quilo, encher o prato de picanha com dois dedos de gordura, pastel, linguiça e toucinho, mas passar a sobremesa, em nome da dieta. Trocar um pecado pelo outro.

Essa e outras anedotas fazem parte do livro “Cristãos sem Vergonha…”, publicado pela editora Novo Céu, em que o autor parte de perguntas reais recebidas em suas redes sociais —abarrotadas de seguidores que vieram a partir dos mais de 800 mil inscritos em seu canal no YouTube, Dois Dedos de Teologia— para tecer comentários sobre a moral e os costumes da sociedade cristã.

Sentado no que se convencionou chamar de cadeira gamer, iluminado em tons de azul e cercado de estantes de livros, o pastor afirma, em entrevista por videoconferência, que sua ideia não era ser engraçado, mas produzir “um material de entrada para jovens, pais e interessados no geral”.

Ele advoga pela conexão dos teólogos —e pastores— com a atualidade. “O teólogo Francis Schaeffer dizia que o pastor deve ter a Bíblia numa mão e o jornal na outra. Eu acho que precisamos ter a Bíblia numa mão e o Twitter ou YouTube na outra.”

O livro, separado pelos temas sexo, namoro, noivado e casamento, debate de tudo um pouco. Gira bastante em torno do que ele chama dos “podes e não podes” da Igreja, como sexo antes de casar, masturbação, pornografia, sexo oral, sexo anal. Mas debate também temas que afligem os mais ateus, como traição, namoro à distância e até morar perto dos sogros.

Para os outsiders da fé cristã, a abstinência sexual chama a atenção. Mas Martins deixa claro: “ninguém é santo porque não transa”.

Ele advoga, sim, pela abstinência, mas não acha que isso é suficiente para se aproximar de Deus. “O que me caracteriza como alguém que tem vida com Deus? É não transar? Se é assim, um incel seria um santo.”

O pastor afirma que, hoje, corre na igrejas “um moralismo altamente arbitrário, que é vazio de um relacionamento com Cristo”.

Apesar de sua abordagem despojada e de sua abertura para o diálogo com jovens em ambientes digitais, ele se diz um conservador na política e nos costumes. “Dá até para usar o termo fundamentalista. Sou um cara bem tradicional, chatíssimo”, diz.

Com isso ele quer dizer que acredita no que chama de família tradicional, em divisões de papéis no casamento, no cristianismo como única religião e na condenação moral do casamento LGBT.

Martins sabe que tais posturas “não são tão aceitas socialmente”. “Falar que você deveria casar virgem não vai fazer a sociedade secular te aplaudir”, diz. Mas ele acredita que o trabalho do pastor é “discutir como deixar Jesus feliz”. Resta saber se ele tem wifi.

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Fonte: Folha de São Paulo

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