São Paulo
Protagonista do reality show Botched, que chega à sua oitava temporada no canal E! Entertainment, Paul Nassif já viu de tudo no que se refere a plásticas que deram errado.
O Brasil, que já foi líder mundial em volume de cirurgias plásticas e hoje perde apenas para os EUA, seria um prato cheio para o trabalho do médico. A rotina dele e a do médico Terry Dubrow, seu parceiro no programa, consiste em remodelar narizes desestruturados, substituir próteses de seios que ficaram desiguais e até dar qualidade de vida a vítimas de acidentes e queimaduras.
O programa é para quem tem estômago forte: imagens reais das cirurgias, tecidos e órgãos sendo abertos e suturados e pacientes com rostos deformados por procedimentos malfeitos são parte do dia a dia da dupla.
Em entrevista ao F5, Nassif falou sobre os perigos de preenchimentos com substâncias inadequadas, prática cada vez mais comum no Brasil e que, uma década atrás, quase levou à morte a modelo Andressa Urach —um dos casos mais emblemáticos do país.
Em 2014, Urach teve uma infecção severa causada por uma injeção de hidrogel nas pernas. Após meses na UTI, ela sobreviveu, e voltou a fazer procedimentos. Há duas semanas, realizou uma lipoaspiração e um “remodelamento costal”, que consiste em remover ossos das costelas para afinar a cintura.
“Sei que o Brasil é um dos líderes em cirurgia plástica. Infelizmente, procedimentos feitos por pessoas que não são médicos e não têm qualificação para isso, continuam acontecendo, o que é preocupante”, avalia Nassif.
Segundo ele, a prática também ocorre nos EUA, mas a gama de substâncias usadas é menor, uma vez que vários preenchedores químicos são proibidos por lá. “Aqui são comuns as ‘pump parties’ [festas do preenchimento]. Colocam os pacientes em quartos de hotéis ou na casa de pessoas. Como temos poucos tipos de preenchedores aprovados, o que acontece é que eles injetam produtos não médicos, substâncias esquisitas e horrorosas, como óleo ou derivados do silicone. Isso pode destruir seu corpo”, alerta.
Desde a primeira temporada de Botched, Nassif e seu parceiro vêm se deparando com resultados catastróficos de preenchedores ilegais. “Tivemos muitos pacientes que injetaram essas substâncias ilegais em seus rostos e corpos e que os destruíram”, conta.
“E isso continua acontecendo”, lamenta. Acho que uma das melhores coisas de fazer esse reality show é que educamos as pessoas para não fazerem isso. Isso é muito importante.”
“Muitos não são médicos. São pessoas que podem ter tido algum treinamento em preenchimentos, mas que estão injetando esses produtos ilegais de forma totalmente irresponsável e enganando seus pacientes”, afirma. “Meu apelo é para que as pessoas parem de fazer isso. Parem de injetar substâncias ilegais no seus corpos.”
PREENCHIMENTO DURADOURO
Nassif acredita que o que move os pacientes a buscarem preenchedores ilegais e profissionais duvidosos, além dos preços mais baixos, é o desejo de que o procedimento seja duradouro, o que não acontece com preenchedores como o botox e o ácido hialurônico, por exemplo.
“O que acontece é que esses pacientes querem algo permanente. Os efeitos do ácido hialurônico duram cerca de dois anos, mas ainda assim ele permanece no seu corpo. Se estou fazendo uma cirurgia de lifting facial numa pessoa que colocou ácido hialurônico há anos atrás, por exemplo, consigo ver o preenchedor lá, posso encontrá-lo”, diz.
Nassif lembra que mesmo as substâncias legalizadas oferecem riscos. “Mesmo quando se está usando uma substância segura, temos riscos. O ácido hialurônico, que é reversível e é legalizado, oferece riscos de complicações grandes. Pode causar cegueira e necrose vascular. Todas essas coisas podem acontecer”, diz.
“Por isso é importante fazer procedimentos com médicos licenciados e com produtos seguros. Parem de injetar substâncias esquisitas”, reitera.