Com 45 anos de profissão, um dos últimos engraxates de BH já salvou noivas e atendeu artistas – Prisma



Nas últimas semanas mostrei aqui no blog exposições e eventos culturais que fazem de Belo Horizonte uma singular.


Hoje, vou dar um passo à frente e cumprir outra proposta, que é descobrir BH por meio das histórias de quem faz a cidade existir.


Não estou falando dos figurões e pessoas que têm o poder de decisão. Meu foco aqui é jogar o holofote sobre a vida de quem está nas ruas, no dia a dia. Histórias felizes, tristes, profundas ou corriqueiras, mas todas da vida real.


Meu primeiro personagem é visto diariamente por milhares de pessoas que passam pela Avenida Afonso Pena diariamente. Visto ao menos por aqueles que se permitem enxergar o entorno.



O “Seu” Otávio, ou Otávio Luiz Neto, de 63 anos, é engraxate. Um dos últimos que trabalham nas ruas da cidade. Ele trabalha com o ofício há 45 anos. A cadeira dele fica instalada próximo à Praça Sete e o Café Nice, pontos tradicionais da cidade.


Em muitos casos, a profissão passa de pai para filho. Com ele o Otávio foi diferente. Ele aprendeu a cuidar dos sapatos de couro quando ainda era verdureiro. O professor foi o marido da então chefe dele à época.


Ele viu na profissão uma oportunidade de empreender e garantir o sustento. Se casou, teve filhos, viu a família crescer. Tudo com o dinheiro que conseguiu nas ruas.


O ponto cedido a ele pela prefeitura é privilegiado. No coração da cidade. Por ali passam milhares de pessoas todos os dias. Os acontecimentos são inumeráveis. “O dia em que um Bombeiro, do alto de dois prédios, cruzou a praça Sete“, disparou quando eu o perguntei qual era a situação mais inusitada que presenciou ali.


O “seu” Otávio pode até não perceber, mas a rotina dele também é carregada de outros fatos, no mínimo, curiosos. Quer um exemplo? Ele simplesmente já atendeu jogadores de futebol famosos e artistas como os cantores Sérgio Reis, Belchior e Jair Rodrigues.


Sem falar nos diversos casamentos que ele já salvou. Sim, salvou matrimônios quando foi procurado por noivos que só tinham pares de sapatos antigos que precisavam de ser revitalizados; e por noivas que entraram em desespero com um salto quebrado prestes a entrar na igreja.


Muitas histórias durante quatro décadas e meia em uma profissão que caminha rumo ao fim. Segundo a Prefeitura de BH, a cidade tinha 39 engraxates cadastrados em 2014. Hoje, dez anos depois, são só 18. Mas esse número não significa que todos estão atuando. Mas será que o ‘seu’ Otávio pensa em levantar as chuteiras?


“Vou pendurar as chuteiras só no dia em que eu não conseguir mais bater a escova”, explica sem romantizar a profissão. A renda curta e a espera pela aposentadoria motivam a decisão.



Fonte: R7

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