Há 14 anos, o Parkinson atravessou a vida do cantor, compositor, pianista e artista plástico Eduardo Dussek. Antes de receber o diagnóstico oficial, ele já desconfiava da condição e havia consultado um especialista sobre os sintomas que apresentava.
“Quando fui diagnosticado com Parkinson eu já sabia, porque estava tremendo demais, sentia dores de cabeça. Eu tinha uns sonhos que o [paciente] parkinsoniano tem… ele sonha a noite inteira e acorda exausto”, afirmou o artista.
“É difícil para o médico diagnosticar o Parkinson, a não ser que faça uma série de testes. Tem vários tremores, tem o tremor essencial… Fiz duas horas de teste para ele começar a desconfiar que eu estava com Parkinson”, disse o cantor à Folha, durante o Brain Congress 2024, um congresso sobre comportamento, emoções e saúde mental, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 26 e 29 de junho.
O tremor essencial que Dussek se refere é causado por uma disfunção dos circuitos neurais ligados ao movimento.
O Parkinson é uma doença crônica degenerativa, em que ocorre a morte de neurônios de uma parte do cérebro que produz a dopamina, neurotransmissor que controla os movimentos. Os sintomas incluem lentidão, rigidez e/ou tremores nas mãos. O paciente também pode ter dificuldade para engolir ou falar, tontura, dores, distúrbios do sono e respiratórios. A doença não tem cura. O tratamento é medicamentoso e à base de fisioterapia, fonoterapia e terapia ocupacional. Exercícios físicos ajudam a fortalecer a musculatura e a evitar quedas.
O Parkinson nunca tirou o bom humor, a alegria de viver e a esperança de Dussek. “Perguntaram para a Carmen Miranda, depois de dez anos nos Estados Unidos, porque ela não perdia o sotaque brasileiro. Ela respondeu ‘se eu tirar meu sotaque, eu perco meu emprego’. A mesma coisa eu digo: se eu perder meu humor, eu perco meu emprego. As pessoas querem me ver falando coisas engraçadas”, conta Dussek.
Segundo a fisioterapeuta neurológica Suzana Fernandes Palmini, que acompanhou a entrevista a pedido do artista, uma das coisas importantes no processo de Dussek é o fato de levar a vida com bom humor.
“Isso interfere diretamente no emocional, dando uma alegria maior, uma possibilidade maior para ele lidar com os problemas. Sentir-se bem, ter essa sensação de alegria e de prazer frente às coisas, interfere inclusive no sistema relacionado aos movimentos. É preciso entender que a alteração motora está vinculada a outras coisas que também são importantes. Então, uma pessoa que vive de maneira mais leve, com mais expectativas e esperanças, terá esse ganho de uma outra maneira”, explica Palmini.
“Não adianta você se cansar demais porque o Parkinson não vai responder. Você tem que fazer uma atividade. Vou fazer um almoço, parar e descansar. Antigamente era diferente. Sou ativo diferente agora. Respeito o meu lazer. O Parkinson é uma criança que eu estou adotando, é um filho que eu tenho.”
Bebida alcoólica está fora do cardápio diário. “Para ter uma saúde boa, não adianta beber whisky até de madrugada. Hoje, eu faço uma autoproibição de bebida. Eu tomo, no mínimo, um [copo] de cerveja e fico doidão. Não quero mais investir em lazer, mas em conforto e sabedoria”, pondera.
Além do canto e do piano, Dussek se dedica à pintura, uma paixão que aprendeu na adolescência. “Pintar é uma maravilha. Pintura é renascimento. A gente tá trazendo um novo Eduardo.” Após seis anos de pintura com três participações coletivas de sucesso e alguns quadros vendidos, o desejo do artista é fazer uma exposição e doar parte dos lucros à uma instituição que cuida de pessoas com Parkinson.
Um dos objetivos da participação de Eduardo Dussek no Brain 2024 foi mostrar que a doença não é um castigo. “A doença não é uma desgraça, é um passaporte para o crescimento e um fator de iluminação. É isso que os médicos e pacientes devem querer.”
“Nunca faça a pergunta ‘por que eu? logo comigo?’ A doença é fabricada pela gente. Você atrai tudo o que quiser. E hoje eu aprendi, depois de duras penas, que temos que atrair só coisas boas. Tudo faz parte da vida. A história humana é maravilhosa. Então, quem seria eu para falar que o Parkinson estragou a minha carreira? A doença não estragou nada. Vou fazer tudo como tem que fazer, com muita alegria. E eu sou feliz”, finaliza Dussek.
A repórter viajou para o Rio de Janeiro a convite do Brain Congress 2024